
No período de 2002 a 2010, o salário mínimo aumentou mais que a inflação.
Se por um lado o aumento real do salário tem como conseqüência o aumento da renda, especialmente das camadas da população mais pobre, por outro contribui para aumentar o custo de produção, em especial das atividades intensivas em mão-de-obra. Entre estas atividades merece destaque a produção de leite, visto que os gastos com mão-de-obra permanente representam, em torno, de 20% do custo operacional efetivo. Portanto, a produção de leite é muito sensível aos aumentos de salário, especialmente os pequenos produtores em cujos sistemas de produção a mão-de-obra aparece com destaque.
No período de 2002 a 2010, o salário mínimo aumentou, em média, 5,53%, ao ano. Todavia, o salário da mão-de-obra permanente utilizada na atividade leiteira aumentou ainda mais, 6,31% ao ano, segundos dados da Tabela 2.
Em consequência deste aumento os impactos do salário rural foram maiores que aqueles decorrentes do salário mínimo. Tais resultados ajudam a explicar as dificuldades do produtor de leite frente aos aumentos dos custos de produção.
Os dados da Tabela 2 referem-se ao Projeto Educampo, coordenado pelo SEBRAE-MG. É uma amostra cativa, isto é, os mesmos produtores estão presentes em todos os anos da série.

Retornando as análises dos custos, verifica-se que o custo operacional efetivo aumentou, em média, 8,13% ao ano, segundo dados da Tabela 3.

Tal aumento é decorrente do crescimento do salário e da elevada participação da mão-de-obra no custo operacional e efetivo. Um ponto importante na interpretação do aumento do custo de produção, causado pelo aumento de salário diz respeito a que, dentro de certos limites, os gastos anuais com mão-de-obra permanente são os mesmos, independente da quantidade produzida. Por exemplo, no intervalo até 300 litros de leite por dia, emprega-se 1 homem para qualquer produção neste intervalo. De 300 litros a 550, emprega-se 2 homens para qualquer produção, neste intervalo. De 550 a 900 litros, emprega-se 3 homens para qualquer produção no intervalo e assim por diante.
O custo fixo anual permanece o mesmo para todas as produções no intervalo, porém o custo fixo médio (custo/litro) reduz com o aumento da quantidade produzida no intervalo.
Os argumentos apresentados permitem concluir que, diante do aumento do salário e, por consequência, do custo de produção, o caminho para a sobrevivência do produtor passa pelo aumento da quantidade produzida. Em trabalho acadêmico, desenvolvido recentemente, concluí que a atividade leiteira passa a ser atrativa com produção acima 500 litros de leite/dia e a atratividade cresce com o aumento da produção.
Tal conclusão questiona a sustentação de programas que privilegiam a pequena produção.
Além do aumento da produção outra estratégia que pode ser utilizada para produzir o custo fixo médio, diz respeito a ordenha mecânica. Tal procedimento tem aumentado de freqüência entre os maiores produtores, conforme indica os dados da Tabela 4.

Enquanto apenas 4% dos produtores utilizam a ordenha mecânica, 87% dos grandes fazem uso desta tecnologia.
Em resumo, o aumento da escala de produção e o uso da ordenha mecânica são procedimentos que devem ser adotados para fazer frente aos aumentos de salário.
