Um exemplo da troca dos fins pelos meios acontece na avaliação financeira dos sistemas de produção de leite, como será demonstrado a seguir. Os dados apresentados nesse exercício de avaliação foram coletados, para elaboração do diagnóstico da cadeia produtiva do leite, no Estado do Rio de Janeiro, de autoria da FAERJ e do Sebrae-RJ. Foram entrevistados 485 produtores de leite, e os dados referem-se ao ano de 2002.
Após preenchidos, os questionários foram divididos em quatro estratos, tendo como critério a produtividade das vacas, medida em litros/vaca em lactação/dia. De certo modo, a produtividade é a expressão da tecnologia. Maior produtividade está associada a nível tecnológico mais elevado.
Na Tabela 1, o custo operacional efetivo (COE) deve ser entendido como o somatório dos gastos com custeio, que implicam desembolso, tais como mão-de-obra contratada, ração concentrada, minerais, medicamentos, adubos para manutenção das forrageiras, silagem, transporte do leite, energia e combustível, inseminação artificial e outros dessa natureza. A margem bruta (MB) é igual à renda bruta (venda de leite e de animais) menos o custo operacional efetivo.
Os dados da Tabela 1 indicam que o preço do leite pouco variou entre os estratos de produtividade, passando de R$ 0,37/litro para R$ 0,40/litro. Todavia, o COE/litro aumentou muito com o aumento da produtividade, passando de R$ 0,14 para R$ 0,28. O mesmo aconteceu com a MB/ano, que passou de R$5.204,00 para R$ 34.597,00. O aumento do COE/litro é decorrente do maior uso de insumos, o qual contribui para o aumento da produtividade. O aumento da MB/ano é explicado pelo crescimento da escala de produção, que passou de 44 litros/dia, no estrato até 5 litros, para 683 litros/dia, no de mais de 12 litros/vaca em lactação/dia.
Com base nos argumentos iniciais deste artigo, o preço do leite e o COE/litro devem ser entendidos apenas como meios para se alcançar o fim, que é margem bruta. Mais do que isso, a maior margem bruta/ano deve ser o objetivo final, e não a maior MB/litro, mesmo porque a maior MB/litro acontece no estrato até 5 litros e a maior MB/ano, no de mais de 12 litros.
Os resultados apresentados, referentes à significativa amostra de 485 produtores, permitem chegar à seguinte conclusão: é preferível pouco de muito, do que muito de pouco. Em outras palavras, é preferível ter COE/litro de R$ 0,28 e MB/litro de R$ 0,12 (0,40 menos 0,28), com produção de 683 litros/dia, do que COE/litro de R$ 0,14 e MB/litro de R$ 0,23 (0,37 menos 0,14), com produção de 44 litros/dia.
A busca obstinada de menor custo/litro, sem levar em consideração a capacidade de resposta do sistema de produção aos estímulos do mercado, poderá levar a conclusões erradas sobre o que é melhor para o produtor.