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Agricultura regenerativa: um passo além da produção orgânica

POR INSTITUTO DE AGRICULTURA REGENERATIVA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/11/2022

8 MIN DE LEITURA

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A agricultura regenerativa, no entendimento atual, traz consigo, além da ideia de restauração de ecossistemas, noções como saúde do solo, florestamento de diferentes ambientes, reencontro da lavoura com a pecuária, estocagem de carbono, estímulo à biodiversidade e combate às desigualdades sociais, entre outros.

Para tanto, esta modalidade produtiva mimetiza processos naturais por meio da integração de atividades, entre si e com o ambiente, na busca de alimentos saudáveis cuja produção gere ambientes e vidas saudáveis. Por sua vez, ambientes equilibrados estimulam resiliência e produtividade vegetal e animal em um círculo virtuoso de saúde e qualidade de vida para todos (Fig. 1).

Figura 1. Efeitos da mimetização de processos naturais por meio da integração de atividades.

agricultura regenerativa
Fonte: Adaptada pelos autores de Banerjee & van der Heijden, 2022.
 

Enquanto sua contribuição para a produção de alimentos é evidente, a adoção da agricultura regenerativa suscita uma série de questões:

  • quais são seus princípios de base?
  • que características a diferenciam da produção orgânica e demais modalidades de produção diferenciada?
  • como chegar lá, na implantação de um sistema de produção regenerativa?

 

A agricultura regenerativa e seus princípios

Na busca da mimetização de processos naturais, a agricultura regenerativa tem como base sete princípios fundamentais, que de certa forma sintetizam os pressupostos de diferentes modalidades de produção diferenciada, aproximando-as e valorizando suas respectivas experiências e contribuições para a oferta de alimentos saudáveis.

Neste sentido se destacam a (1) cobertura do solo e a (2) manutenção de plantas vivas, se possível o ano todo (Fig. 2), por meio da sucessão de espécies e épocas de plantio, de forma semelhante ao preconizado na agricultura sintrópica.

Figura 2. Cobertura do solo e manutenção de plantas vivas: a “carapaça” que protege os solos.

agricultura regenerativa
Fonte: Adaptada pelos autores de RegenerAgri, 2022.


Essa proteção natural dos solos favorece sua estrutura física, estimula o aumento da matéria orgânica, diminui as perdas de nutrientes por escorrimento e lixiviação, aumenta a penetração de água e potencializa a reciclagem de nutrientes.

Seus efeitos são potencializados pelo (3) mínimo revolvimento do solo e pela (4) maximização da diversidade de plantas (Fig. 3), postulados básicos da agricultura biodinâmica e da produção agroecológica.

Figura 3. Mínimo revolvimento do solo e maximização da diversidade: vias de potencialização dos efeitos da cobertura do solo.

agricultura regenerativa

Fonte: Adaptada pelos autores de RegenerAgri, 2022.
 

Ao contrário da lavração, o não revolvimento do solo, o cultivo mínimo e a maximização da diversidade de plantas estimulam a formação / manutenção de agregados do solo, aumentando sua porosidade, retenção de água e atividade da fauna e da microbiota edáfica. Com isso, propicia-se o incremento da fixação biológica de nitrogênio atmosférico, da disponibilização de fósforo e de outros mecanismos promotores do desenvolvimento das plantas.

A (5) minimização do uso de agroquímicos (Fig. 4), destacada na produção orgânica, é ao mesmo tempo causa e consequência de um maior equilíbrio produtivo. Isso se deve à ação de inimigos naturais de pragas dos cultivos e à ausência de inibidores do metabolismo de plantas e animais, assim como, à maior resistência a estresses ambientais e à estimulação da microbiota do solo pela ação de bioestimulantes.

Figura 4. Minimização do uso de agroquímicos: o grande paradigma da produção orgânica.

agricultura regenerativa
Fonte: Adaptada pelos autores de RegenerAgri, 2022.

O uso racional de agroquímicos (ou seja, somente quando não há outra alternativa), representa solução tardia para o problema sanitário e ambiental que se originou de seu uso indiscriminado.

A (6) integração de animais em pastejo (Fig. 5), de forma simultânea ou em rotação com o cultivo de vegetais potencializa esforços de uso mínimo de agroquímicos, na medida em que a desfolha modifica o microclima da área produtiva e promove a renovação da cobertura vegetal, e a troca de piquetes diminui o inóculo de parasitas.

Figura 5. Integração de animais em pastejo: o reencontro da lavoura com a pecuária.

agricultura regenerativa
Fonte: Adaptada pelos autores de RegenerAgri, 2022.
 

Premissa básica da permacultura, a condução de produções animais e vegetais na mesma área acelera a ciclagem de nutrientes, aumenta a atividade biológica do solo e a produção como um todo, permitindo, de forma simultânea, a redução do uso de insumos.

Por fim, o (7) gerenciamento de atividades (Fig. 6) coloca o Homem no centro da preservação (ou da degradação) ambiental.

Figura 6. Gerenciamento das atividades: o Homem parte da produção agropecuária e da gestão ambiental.

agricultura regenerativa
Fonte: Adaptada pelos autores de RegenerAgri, 2022.
 

Diferente da premissa dos anos 1980-1990, de que as atividades humanas trariam consigo inevitáveis impactos negativos sobre o ambiente e que a preservação exigiria sua exclusão, a agricultura regenerativa evidencia a possibilidade de melhoria ambiental por meio da ação humana programada, racional e pertinente. Aí reside sua grande diferença em relação às demais modalidades de produção diferenciada.
 

A agricultura regenerativa e a produção diferenciada de alimentos

Diante das consequências e perspectivas das mudanças climáticas, sustentar já não é suficiente para garantir um futuro de prosperidade para a humanidade. No entanto, recuperar, restaurar, revitalizar e regenerar exigem gerenciamento e este se faz com informações, planejamento e monitoramento.

Neste sentido, as tecnologias hoje disponíveis patrocinaram uma verdadeira revolução baseada em “conhecimento de precisão”, que permite uma visão holística do planejamento agropecuário em intervalos de tempo e escalas geográficas inimagináveis até então.

Dessa forma, a partir dos legados das agriculturas sintrópica, agroecológica, biodinâmica e orgânica, da permacultura e de outras modalidades de produção diferenciada, o “paradigma regenerativo” representa um passo a mais na produção de alimentos, com foco nos processos produtivos e não nos produtos.

 

A agricultura regenerativa e sua implementação

Na agricultura de processos (ao invés de insumos), as atividades devem ser vistas de forma dinâmica, numa perspectiva de continuidade, com os diferentes elementos dos sistemas em constante movimento e evolução (Fig. 7), respeitando as peculiaridades locais e graus de adequação das práticas e recursos utilizados.

Figura 7. Evolução das práticas produtivas e do uso de insumos na implantação de sistemas regenerativos.

agricultura regenerativa
Fonte: Adaptada pelos autores de Soloviev, 2018.

Como tal, práticas, insumos e configurações produtivas devem evoluir de forma concomitante. A substituição de insumos e a adoção de práticas típicas de sistemas regenerativos na produção industrial, de forma isolada, podem produzir resultados insatisfatórios, problemas produtivos e falsas impressões sobre sua real contribuição para a geração de alimentos, ambientes e vidas saudáveis.
 

Produção regenerativa: novos tempos na produção de alimentos

Possibilidades trazem consigo novas perspectivas, mas também responsabilidades diante do acúmulo milenar de conhecimentos pela humanidade. Erros e acertos permitiram ao Homem incluir inúmeras facilidades no seu dia a dia, produzir mais alimentos do que as suas necessidades e influir sobre diferentes parâmetros do meio ambiente.

O simples incremento e manutenção da cobertura do solo, manejada de forma a reproduzir processos e interações clima-solo-planta-animal característicos dos ambientes naturais, tem o potencial de desencadear efeitos positivos (Fig. 8) nos diferentes ciclos biogeoquímicos e organismos presentes nos sistemas de produção.

Figura 8. Efeitos da cobertura do solo nos ciclos biogeoquímicos e organismos.

agricultura regenerativa
Fonte: Patel, 2022, traduzida pelos autores.

 

A manutenção de uma adequada atividade fisiológica das plantas, daí resultante, pode gerar:

  1. incrementos nas produções vegetal e animal;
  2. aumentos de matéria orgânica, reciclagem e disponibilidade de nutrientes e estocagem de carbono no solo; e
  3. incentivos à biodiversidade e à atividade biológica como um todo, tornando os sistemas produtivos mais resilientes, menos dependentes de insumos externos e mais lucrativos.
     

Note-se que a combinação do manejo adequado da cobertura do solo com a integração de atividades e a racionalização do uso de recursos reúne demandas / soluções potenciais para quatro grandes preocupações das últimas décadas: desertificação, mudanças climáticas, biodiversidade e, pobreza e desigualdades.

Assim, a mudança do enfoque produtivo degenerativo para o regenerativo (Fig. 9) deve ser acelerada em função de seus benefícios potenciais. Seus procedimentos exigem, no entanto, conhecimento e devem ser implementados com cuidado, para não gerarem desestímulo e frustrações.

Figura 9. Do degenerativo ao regenerativo: a busca do natural.

agricultura regenerativa
Fonte: Jellie, 2022.
 

Suas possibilidades, assim como os riscos da degradação do ambiente pela agricultura industrial são enormes. A busca de formas produtivas e fontes de nutrientes eficientes e de baixo custo pode ser a mola propulsora para a adoção de práticas e insumos que estimulem a ocorrência de processos mais equilibrados.

A conjuntura mundial, incluindo consumidores, grandes empresas, mercado financeiro e setor produtivo, nunca foi tão favorável como a atual! A hora de mostrar que o ser humano não precisa prejudicar o planeta para atender suas necessidades é agora! Faça sua parte! 

 

Sobre o Instituto de Agricultura Regenerativa

O Instituto de Agricultura Regenerativa é uma associação privada, sem fins lucrativos, engajada na consolidação de um novo paradigma: a produção de alimentos saudáveis, ricos em nutrientes e sem resíduos de substâncias tóxicas pode promover a restauração de processos e relações naturais, gerando benefícios socioeconômicos e ambientais. Como tal, seus efeitos se assemelham ao que ocorre em ambientes naturais, onde os diferentes indivíduos interagem, de forma sinérgica e complementar.

Sem deixar de reconhecer a contribuição de práticas como o preparo mínimo do solo e o uso de culturas de cobertura em substituição aos agrotóxicos como contribuições efetivas da agricultura orgânica, a agricultura regenerativa dá um passo à frente: incorpora uma abordagem holística da produção agrícola, embasada em princípios de hierarquia ecológica e práticas conservacionistas. Com isso, regeneração, manutenção e aumento da resiliência da produção de alimentos se aliam à melhoria da qualidade de vida de produtores e consumidores de alimentos, tanto do meio rural como de grandes aglomerações urbanas. Mais informações, acesse o site.
 

Colaboraram para esta publicação:

  • Marcelo Abreu da Silva - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Ecoetologia.
  • Milene Dick - Médica Veterinária, Mestre em Agronegócios e Doutora em Zootecnia.
  • Sebastião Ferreira de Lima - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia e Doutor em Fitotecnia.
  • Cícero Célio de Figueiredo - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia.
  • Eduardo Pradi Vendruscolo - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia
  • Vespasiano Borges de Paiva Neto - Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia
  • João Carlos Gonzales - Médico Veterinário, Mestre e Doutor em Ciências Veterinárias.
  • Homero Dewes - Farmacêutico, Mestre e Doutor em Biologia.

 

Referências

Banerjee, S., van der Heijden, M.G.A. 2022. Soil microbiomes and one health. Nat Rev Microbiol.

Jellie, H. 2022. Our land is degenerating – how to shift to a regenerative future. Ata Regenerative. In: https://ata.land/shift-to-a-regenerative-future/.

Patel, J. 2022. Cover Crops – The Sustainable Soil Health Approach. Disponível em: https://www.linkedin.com/posts/soilhealthmatters_soilhealth-soilscience-sustainableagriculture-activity-6995352552502382592-7WCN?utm_source=share&utm_medium=member_desktop.

RegenerAgri. 2022. Construindo soluções compartilhadas. Disponível em: https://www.regeneragri.com/.

Soloviev, E. Regenerative Agriculture Continuum. Disponível em: https://ethansoloviev.com/regenerative-agriculture-continuum/.

INSTITUTO DE AGRICULTURA REGENERATIVA

O Instituto de Agricultura Regenerativa é uma associação privada, sem fins lucrativos, engajada na consolidação da produção de alimentos saudáveis, ricos em nutrientes e sem resíduos de substâncias tóxicas.

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