José Roberto Peres
No último artigo desta seção, foram apresentados dados de produtividade de milho produzido por hidroponia. Foi visto que os resultados obtidos não foram encorajadores.
A mesma "forragem" produzida no experimento anteriormente descrito foi utilizada pelos pesquisadores para avaliação de sua composição bromatológica e degradação ruminal.
Para a avaliação da degradabilidade in situ, foram utilizados apenas os materiais oriundos da densidade de semeadura de 1 kg/m2 e quatro caprinos machos da raça Saanen, fistulados no rúmen. As amostras, antes de sua incubação no rúmen, foram picadas manualmente em partículas de aproximadamente 0,5 cm. Cada saco de nylon recebeu 20 mg de amostra por cm2. Foram utilizados 4 tempos de incubação: 6, 24, 48 e 96 horas.
Os resultados das análises bromatológicas podem ser observados na tabela 1. Os teores de nutrientes não diferiram (P>0,05) entre si para os diferentes substratos utilizados no cultivo, exceções feitas à proteína bruta (PB), matéria mineral e matéria orgânica. As partes aéreas produzidas sobre os substratos de cama de frango e grama apresentaram maior teor de PB (P<0,05), o que os autores atribuem a uma possível maior disponibilidade de nutrientes para a planta. Não foram observadas diferenças significativas nos teores de constituintes da parede celular. Segundo os autores, os teores médios de lignina podem ser considerados baixos para forragens, o que provavelmente é reflexo da pouca idade da planta.
Tabela 1: Composição bromatológica da parte aérea do milho hidropônico
Fonte: Amorim et al. (2001) - Médias com letras diferentes na mesma linha, diferem pelo teste de Tuckey (P<0,05)
BC = bagaço de cana; BH = bagaço de cana hidrolisado; GR = grama; CF = cama de frango
É interessante notar que o material produzido é bastante úmido, enquanto que o teor de matéria mineral é elevado se comparado, por exemplo, à silagem de milho, talvez em função do cultivo em solução mineral. Por último, os níveis de fibra são relativamente altos, considerando-se a idade de corte avaliada (28 dias).
A tabela 2 apresenta os dados de degradabilidade da parte aérea do milho hidropônico. Não ocorreram diferenças (P>0,05) nas taxas de degradação da matéria seca (MS) e da FDN em função dos diferentes substratos de cultivo. Todavia, no caso da PB, o substrato BH proporcionou menor valor (P<0,05). Os autores atribuem isto a um possível erro analítico.
Não houve efeito dos diferentes substratos utilizados no cultivo sobre as degradabilidades potencial (DP) e efetiva (DE) da MS e da FDN. A DP da matéria seca foi considerada alta, independente do substrato de cultivo, o que pode ser atribuído à baixa fração não degradável ("I").
Tabela 2: Degradabilidade in situ da parte aérea do milho hidropônico
Fonte: Amorim et al. (2001) - Médias com letras diferentes na mesma linha, diferem pelo teste de Tuckey (P<0,05)
BC = bagaço de cana; BH = bagaço de cana hidrolisado; GR = grama; CF = cama de frango
Os autores concluíram que a composição bromatológica e a degradabilidade indicam que a parte aérea da planta de milho produzida por hidroponia apresentam bom valor nutricional, com elevada disponibilidade de nutrientes.
Comentário MilkPoint: realmente os valores indicam que a parte aérea do milho hidropônico tem bom valor nutritivo, todavia, embora os teores de nutrientes na matéria seca sejam adequados, não se pode esquecer que o material possui teor muito baixo de matéria seca, sendo necessário o consumo de grande quantidade para que se possa efetivamente fornecer aos animais a quantidade necessária de nutrientes, especialmente considerando-se animais de maior nível de produção. Isto pode ser um fator extra a se considerar, já que a capacidade (física) de consumo é limitada. Também em função disso, o custo do material deve ser avaliado em função dos níveis de nutrientes na matéria seca, especialmente quando comparado a outras forragens.
Fonte: Amorim, A. C., Resende, K.T., Medeiros, A. N. et al., 2001. Composição bromatológica e degradabilidade in situ da parte aérea da planta de milho (Zea mays) produzida por hidroponia. In: Anais da XXXVIII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Piracicaba, SP.