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Cana-de-açúcar: um breve histórico de sua utilização

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 18/05/2005

7 MIN DE LEITURA

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Por Gustavo Rezende Siqueira e Thiago Fernandes Bernardes1

A utilização da cana-de-açúcar como recurso forrageiro para a minimização dos efeitos da entressafra das pastagens vêm crescendo ano a ano. O dogma de ser considerado um volumoso restrito a animais de baixo potencial produtivo, quer seja para leite ou carne, preconizado por pesquisadores e técnicos nos idos dos anos 70 e 80, vem sendo substancialmente renegado. Encontrava-se na literatura citações taxando a utilização da cana-de-açúcar para vacas com produção até 10 kg leite/dia. Atualmente, trabalhos de pesquisa e experiências práticas mostram que a cana-de-açúcar pode e deve ser utilizada para animais de alta produção. Vale lembrar que suas limitações nutricionais, principalmente conteúdo de proteína e minerais devem ser considerados na formulação da ração.

A Embrapa Gado de Leite foi a responsável pela difusão da tecnologia de utilização de nitrogênio não protéico, especificamente a uréia, para produtores de leite em todo o Brasil. Vale, nesse momento, ressaltar o quanto à tecnologia de utilização de cana-de-açúcar com 1% de uréia foi eficiente em solucionar problemas relacionados à suplementação animal, comumente realizada com capim-Elefante em estádio de crescimento avançado e com baixo valor alimentício. No entanto, vários relatos que atribuem ineficiência à utilização da cana-de-açúcar, devem ser revistos, pois a tecnologia de utilização de 1% de uréia na cana-de-açúcar é uma receita (como foi lembrado no artigo publicado no MilkPoint "A velha cana-de-açúcar com uréia" pelo Prof. Marcos Neves Pereira) e como todos sabemos, na pecuária não existem receitas.

Uma das principais recusas pela utilização da cana-de-açúcar foi atribuída ao seu baixo teor protéico. Rodrigues et al. (2001) avaliaram dezoito variedades de cana-de-açúcar e observaram variação do teor de proteína bruta de 1,40% a 2,08%. No entanto, esses mesmos autores relatam a marginalidade desse parâmetro, devido à facilidade de correção pela utilização de nitrogênio não protéico, preconizada por vários autores (Torres & Costa, 2001; Preston, 1982).

Deve-se, entretanto avaliar o teor de proteína bruta da cana-de-açúcar por outra visão. Utilizando-se dos dados comumente encontrados em forrageiras utilizadas durante o período de escassez de pasto. Observa-se que a cana-de-açúcar entre as forrageiras avaliadas é a que apresenta a maior relação de produção de matéria seca por quilograma de nitrogênio aplicado (Tabela 01). Faz-se necessário ressaltar, que na agropecuária sustentável as forragens devem ser encaradas como culturas e não apenas como "coisas para encher o bucho do gado". Nesse sentido, tem-se que realizar adubações baseadas na extração de nutrientes do solo especificas para cada cultura, bem como seu potencial de produção. Fica uma pergunta: Qual pecuarista adubaria corretamente a cana-de-açúcar se ela tivesse 10% de proteína bruta? Na nossa opinião, ainda bem que ela só tem de 1,5 a 3 % de PB.

Tabela 01. Parâmetros relacionando teores de nitrogênio e produção de matéria seca de forrageiras utilizadas na suplementação animal, como forragens conservadas.

 


1Teores de proteína bruta (PB) e produção de matéria seca extraídos de NUSSIO et al. (2002).
2Forragens conservadas na forma de silagens.
3Na forma de feno.
4Forragem in natura.

A filosofia de utilização de cana-de-açúcar deve ter como base, que esse alimento é fonte de energia em vez de ser criticada pelo seu baixo teor de proteína. Deve-se ainda pressionar os programas de melhoramento genético para que produzam cultivares especificas destinadas à alimentação animal, com baixo teor de FDN e que essa tenha digestibilidade aceitável. A qualidade da fibra da cana-de-açúcar é o verdadeiro entrave para sua utilização.

A utilização da cana-de-açúcar na alimentação de ruminantes de alta produção, principalmente bovinos de leite, era vista com tecnologia desaconselhável e até mesmo tida como impossível. No entanto, vêm sendo realizados experimentos como o de Corrêa et al. (2003), que contrastaram a utilização de cana-de-açúcar com silagens de milho na alimentação de vacas com produção média de acima de 30 kg leite/dia (Tabela 2). As rações utilizadas tinham cerca de 45% de volumoso na matéria seca e os autores observaram médias de 31,2 e 34,4 kg leite/dia nos animais alimentados com cana-de-açúcar e silagens de milho, respectivamente.

Tabela 2. Peso vivo, ingestão de matéria seca (IMS), ingestão de matéria orgânica digestível, produção e composição do leite em dietas formuladas com silagem de milho macio ensilado na linha preta (MM), com silagem de milho duro ensilado na metade da linha do leite (MD) ou cana-de-açúcar (CA)

 


1Erro padrão da média.
2(MM+MD) vs CA = Contraste entre as silagens de milho e a cana-de-açúcar.
3MM vs MD = Contraste entre a silagem de milho macio e milho duro.
Fonte: Corrêa et al. (2003)

Ressalta-se que as vacas alimentadas com cana-de-açúcar tiveram menor produção de leite que àquelas alimentadas com as silagens de milho. No entanto, o que se deseja provar nesse artigo é a possibilidade de utilização de cana-de-açúcar na alimentação de animais de alto potencial produtivo.

Encontraram-se também na literatura relatos de acompanhamentos de propriedades que vêm adotando a cana-de-açúcar como recurso forrageiro na entressafra. Torres & Costa (2001) em revisão sobre a utilização da cana-de-açúcar na alimentação animal, mostraram o desempenho de nove vacas durante o período de junho a outubro. Esses animais foram alimentados com cana-de-açúcar e uréia, mais 1 kg de concentrado por litro de leite produzido. Observou-se que os animais mantiveram produção superior a 20 kg leite/dia durante todo o período de avaliação.

Visto que, além da comprovação científica e prática relatadas acima; encontram-se fundamentos econômicos sobre a adoção da cana-de-açúcar. Nussio et al. (2002) em revisão sobre volumosos suplementares na alimentação de bovinos de leite mostraram a superioridade da cana-de-açúcar (receita líquida por hectare) tanto para rações de animais com produção de 15L leite/dia ou 30L leite/dia e em relação ao custo por litro de leite produzido a cana-de-açúcar foi semelhante às silagens de milho e sorgo. Em revisão sobre volumosos na alimentação de gado de corte, Nussio et al. (2003) reportam a superioridade econômica de rações contendo cana-de-açúcar como volumoso único, ao avaliarem a receita líquida por hectare e receita líquida por arroba produzida, tanto para ganhos de 0,85 e 1,25 kg/dia.

Oliveira et al. (2004) realizaram análise econômica da substituição da silagem de milho por cana-de-açúcar na alimentação de vacas de leite com produção média de 6000 kg leite/ano. Os autores concluíram que a adoção da cana-de-açúcar como volumoso único proporciona ganhos de escala de produção e de margem bruta anual.

Ao comentarmos sobre análise econômica, gostaríamos de fazer uma ressalva. O custo de produção quer seja do volumoso ou do litro de leite é de caráter especificamente local, temporal e particular, onde cada propriedade deve ter o seu, e a partir do mesmo tomar decisões, por exemplo, de quanto de cada volumoso deve ser produzido. Lembramos também, que não estamos preconizando a substituição das silagens de milho ou qualquer outro volumoso pela cana-de-açúcar, estamos sim alertando para a possibilidade de mais uma ótima opção forrageira.

Literatura consultada

CORRÊA, C.E.S.; PEREIRA, M.N.; OLIVEIRA, S.G.; RAMOS, M.H. Performance of Holstein cows fed sugarcane or corn silages of different grain textures. Scientia Agrícola, v.60, p.221-229, 2003.

NUSSIO, L. G., CAMPOS, F. P., PAZIANI, S. de F., SANTOS, F. A. P. Volumosos suplementares - estratégia de decisão e utilização. In: EVANGELISTA, A.R.; SILVEIRA, P.J.; ABREU, J.G. Forragicultura e pastagens: Temas em evidência, Lavras: Editora UFLA, 2002. p.193-232.

NUSSIO, L.G.; ROMANELLI, T.L.; ZOPOLLATTO, M. Tomada de decisão na escolha de volumosos suplementares para bovinos de corte em confinamento. In: CBNA (Ed.). V Simpósio Goiano sobre manejo e nutrição de bovinos de corte e leite. Campinas: CBNA, 2003a. p.1-14.

OLIVEIRA, A.S.; CAMPOS, J.M.S.; GOMES, S.T.; VALADARES FILHO, S.C.; ASSIS, A.J.; TEIXEIRA, R.M.A.; MOREIRA, L.M.; OLIVEIRA, G.S.; RIBEIRO, G.D. Análise econômica e de sensibilidade da substituição da silagem de milho pela cana-de-açúcar corrigida em dietas de vacas leiteiras. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41, 2004, Campo Grande. Anais... Campo Grande: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. CD-ROM.

PRESTON, T.R. Nutritional limitations associated with the feeding of tropical forages. Journal of Animal Science, v.54, p.877-883, 1982.

RODRIGUES, A.A.; CRUZ, G.M.; BATISTA, L.A.R.; LANDELL, M.G.A. Qualidade de dezoito variedades de cana-de-açúcar como alimento para bovinos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38, 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001. CD-ROM.

TORRES, R.A.; COSTA, J.L. Uso da cana-de-açúcar na alimentação animal. In: EVANGELISTA, A.R.; SALES, E.C.J.; SIQUEIRA, G.R.; LIMA, J.A. (Ed) Simpósio de forragicultura e pastagens: temas em evidência. Lavras: Editora UFLA, 2001, p.1-14.


________________________________
1Gustavo Rezende Siqueira e Thiago Fernandes Bernardes, Departamento de Zootecnia - UNESP/Jaboticabal


 

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MILTON TADEU BARROZO GAMBORGI

GASPAR - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/05/2005

Caro Gustavo e Thiago,



O artigo de voces foi muito bem abordado, inclusive chamando a atenção para a importância da escolha do suplemento volumoso adequado para cada propriedade. O nosso colega Rodolpho Torres, da Embrapa-Gado de Leite, vem chamando a atenção disso há muito tempo, inclusive ele tem resultados de vários testes utilizando a cana de açucar com uréia para vacas de alta produção.



Atenciosamente,



Milton de Souza Dayrell

Diretor Técnico da Nutriplan Produtos Agropecuários Ltda.

HILDEBRANDO DE CAMPOS BICUDO

ARCEBURGO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/05/2005

Sobre a utilização da cana na alimentação de vacas leiteiras, acredito que alguns aspectos são fundamentais.



O primeiro é o fato da cana estar em sua melhor fase qualitativa exatamente na seca quando deverá ser utilizada.



O segundo é a alta produção por área, o que barateia seu custo de produção.



O terceiro e o mais importante talvez, é que poucos produtores conseguem produzir silagem de boa gualidade, por problemas climáticos, e tempo muito longo no fechamento do silo.



O uso de uréia, é simples, e bastante eficiente para corrigir a deficiência de proteína, e se for feito um balanceamento da dieta total, acredito seja a cana o volumoso ideal para nossas condições de clima.



Tenho usado a vários anos sem nenhum problema.



Hildebrando de Campos Bicudo
MARIA LETÍCIA VILELA DE CASTRO

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/05/2005

Gostaria de comentar somente que um dos fatores do não uso da cana também se deve ao fato que o produtor ainda tem dificuldades para usar. A tecnologia é difundida mas tenho receio se o produtor realmente está fazendo uso correto.
MÁRCIO FONSECA DO AMARAL

ALEGRETE - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/05/2005

Com a freqüência que temos visto artigos descrevendo sobre a utilização da cana-de-açúcar temos que acreditar que toda a crise tem um lado positivo. Um deles é a retomada de estudos que até então estavam esquecidos sobre a importância desta forrageira na alimentação de bovinos leiteiros. Sobre o melhor aproveitamento da cana, temos lido que, além da uréia para aumentar a proteína, outro recurso que tem sido recomendado para melhorar a digestibilidade da mesma é o uso de soda cáustica, ou cal virgem. Sendo o último mais recomendado pelo menor custo, temos tido dificuldade de encontrá-lo no mercado. Gostaria de saber se o cal apagado tem o mesmo efeito, ou obrigatóriamente deve ser o cal virgem.



<b>Resposta do autor:</b>



Prezado Márcio,



O tratamento físico e químico de volumosos surgiu principalmente para alterar a composição química (quebra de ligações entre os componentes da parede celular) de resíduos de baixo valor nutritivo, como por exemplo: bagaço de cana-de-açúcar e material remanescente da colheita de sementes forrageiras.



Com o crescente uso da cana-de-açúcar e a divulgação que esta possui fibra de baixa digestibilidade foram criadas alternativas para melhorar este quadro e entre os métodos surgiu a inclusão de cal antes do fornecimento aos animais. Porém, o que devemos explorar na planta da cana é o seu teor de sacarose. Nós vamos ter que conviver com esses tecidos lignificados e de baixa digestibilidade, pois desse modo a espécie irá garantir altas produtividades de matéria seca (justifica seu uso) sem que ocorra tombamento.



Para que ocorra melhora na composição química do seu canavial, nós sugerimos que você faça um bom manejo agronômico (onde os produtores mais tem errado). Se for alimentar suas vacas com cana durante toda a seca, divida sua área com cultivares precoce, média e tardia, desse modo, estará aproveitando o acúmulo de açúcares em seus tecidos.



Além deste fato esteja atento ao tamanho de partículas. A cana-de-açúcar em algumas regiões é o volumoso suplementar com menor custo frente as demais opções (silagem e feno), não há porque inflacionar o processo de produção adotando determinadas tecnologias, além de dificultar a operacionalidade do sistema, principalmente em rebanhos de grande porte.



Thiago Fernandes Bernardes





RENATO PALMA NOGUEIRA

GUAXUPÉ - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 19/05/2005

Parabéns pelo artigo. Muito bem escrito e expressa o grande potencial da cana-de-açucar na pecuária brasileira.



Saudações,



Renato Palma Nogueira

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