Não se pode esquecer que os prejuízos e possibilidades de cura de um caso clínico dependem do tipo de agente causador, mas o que geralmente acontece em termos práticos é que o produtor tem que decidir se trata ou não um caso clínico antes de ter o resultado da cultura microbiana. Muitos estudos que avaliaram as perdas causadas pela mastite clínica levaram em conta a ocorrência de apenas um caso clínico isolado, contudo, muitas vacas apresentam mais de um caso de mastite clínica na lactação ou mesmo em mais de uma lactação.
Com o objetivo de estimar as perdas de produção de leite associadas à ocorrência de casos repetidos de mastite clínica dentro de uma lactação e entre lactações, foi desenvolvido um estudo com base em 10.380 lactações de 5 rebanhos leiteiros do estado de Nova York, EUA. Todos os rebanhos possuíam sistema automático de medição diária de leite e os casos clínicos foram detectados por meio do teste dos primeiros jatos antes da ordenha.
Muitas das vacas que desenvolveram mastite clínica apresentaram maiores produções antes do caso clínico que as demais vacas do rebanho. A produção de leite sofreu queda após o diagnóstico, sendo que as maiores perdas ocorreram dentro das duas semanas seguintes e gradualmente se equilibrou dentro de dois meses após a ocorrência do caso. Vacas que apresentaram mastite clínica não conseguiram recuperar o seu potencial de produção anterior.
Com relação às primíparas, as perdas de produção foram de 164 kg de leite para o primeiro caso e cerca de 198 kg para o segundo, dentro de dois meses após o diagnóstico. Para as vacas adultas, as perdas ocasionadas pela mastite clínica foram de 253 kg para o primeiro caso, 238 kg para o segundo e 216 kg para o terceiro.
Figura 1. Efeito da mastite clínica sobre a curva de lactação de vacas primíparas (3.681 lactações). Linha sólida (●) representa uma curva de lactação de uma vaca com 2 casos de mastite clínica (setas) e o potencial de produção ao longo da lactação (linha pontilhada). Linha tracejada (◊) representa a curva de lactação de uma vaca sem ocorrência de mastite clínica.
Fonte: adaptado de : Bar et al. 2007.
Figura 2. Efeito da mastite clínica sobre a curva de lactação de vacas adultas (6.699 lactações). Linha sólida (●) representa uma curva de lactação de uma vaca com 3 casos de mastite clínica (setas) e o potencial de produção ao longo da lactação (linha pontilhada). Linha tracejada (◊) representa a curva de lactação de uma vaca sem ocorrência de mastite clínica.
Fonte: adaptado de : Bar et al. 2007.
Em média, uma vaca que apresentou um ou mais casos de mastite clínica em uma lactação anterior produziu 1,2 kg/dia a menos que na lactação seguinte em relação a vacas que não apresentaram casos clínicos. Estes resultados permitem ao produtor estimar perdas de produção causada pela mastite clínica, mesmo que não tenha os dados do agente causador, e desta forma ter maior capacidade de tomar decisões sobre a viabilidade ou não de descarte de vacas com casos repetidos de mastite clínica.
Fonte:
Bar et al. Journal of Dairy Science, v.90: 4643-4653, 2007