Figura 1: 520 vacas kiwicross sendo levadas para ordenha no módulo Whakapono da fazenda Back Track Dairies.
Fonte:arquivo pessoal
Por isso, o produtor Kiwi tem uma atenção muito grande na hora de construir os corredores de manejo do gado. Em geral, os corredores são feitos com argila compactada de forma que quando está seco não fica duro como concreto e quando está chovendo não faz lama. Na entrada da ordenha, onde forma um pouco de lama, esta nunca passa da coroa do casco. Conforto no corredor é muito importante. O custo para se construir um bom corredor fica em média de NZD$7,00/metro linear de corredores com 10 metros de largura e geralmente dura de 5 a 8 anos sem precisar repor a argila e nem compactar. A opinião do produtor sobre corredor para vaca é: se você pode correr descalço em um corredor, então as vacas podem caminhar lá.
Figura 2: nivelamento da camada de argila durante o processo de confecção dos corredores de acesso.
Fonte: arquivo pessoal
Para construção do corredor geralmente se usa retirar o solo (terra) até chegar à pedra. Geralmente os solos da NZ são rasos, dado ao tempo de formação recente. Removido todo o topo do solo, faz-se o preenchimento completo com cascalho e depois coloca a camada de argila de aproximadamente 20cm, a qual precisa ser devidamente compactada. O corredor deve ser feito com um certo declive para o escoamento da água nas laterais. Veja na figura abaixo como deve ser feito piso do corredor.
Figura 3: Corte transvessal para o projeto de confecção de corredores de acesso
Fonte:Dairy NZ
Para ter uma ideia melhor da imagem:
• Fence é a cerca do corredor;
• Sub base é até onde se remove o solo;
• Base é preenchimento de cascalho;
• A camada superior à base é a camada de argila compactada;
• Drain é onde á água da chuva será escoada.
O abaulamento não pode ser muito inclinado caso contrário as vacas irão usar as laterais do corredor, provocando um desgaste excessivo dessa área, conforme pode ser visto na foto abaixo.
Figura 4: degaste excessivo das laterais do coreedor de acesso devido ao abaulamento incorreto da superfície do corredor.
Fonte: DairyNZ
Depois da caminhada, as vacas entram no curral de espera, passando por mais stress por restrição de alimento e por estar em pé no concreto. Na estação passada, o lote mais eficiente da nossa fazenda, com 520 vacas, era ordenhado em duas horas pela manha e uma hora e meia no período da tarde com apenas um ordenhador. Nesse caso, as vacas ficam pelo menos 3,5 horas/dia em pé no concreto. Levando em conta uma lactação média na NZ de 255 dias, as vacas dessa fazenda ficam o equivalente a 37 dias em pé no concreto. Fazendas com mais de 700 vacas normalmente dividem o rebanho em grupos menores para que as vacas não fiquem muito tempo nestas condições. Para minimizar o stress o produtor de leite neozelandês tem diminuído ao máximo o tempo de ordenha, adotando cada vez mais tecnologia.
Figura 5: curral de espera com portão eletrônico para empurrar as vacas
Fonte: arquivo pessoal
Agilidade na ordenha traz ganhos tanto em produção pela vaca, pois esta terá mais tempo para comer e produzir o leite e ganha, como também na produção do funcionário, pois este terá mais tempo para realizar outras tarefas, além de ordenhar as vacas. Certa ocasião, participei de uma capacitação em produção de leite chamada MilkSmart promovida pela DairyNZ na universidade Lincoln. Em uma das aulas a instrutora Dra. Jenny Jago fez um levantamento entre os alunos sobre quais tecnologias eram adotadas nas fazendas ali representadas. Para isso, ela relacionou em dois quadros, mostrados na foto abaixo, os equipamentos nas sala de ordenha tipo espinha de peixe (à direita) e carrossel (à esquerda) e, com um bloquinho de notas autocolantes, nós fomos marcando no quadro quais equipamentos tínhamos disponíveis nas fazendas que trabalhávamos. Fiquei impressionado com o quanto o neozelandês tem utilizado o “high imput” para aumentar a eficiência de ordenha. Como se não bastasse, a maioria dos papéis foram colocados em ordenha do tipo carrossel, onde todos os equipamentos foram marcados.
Figura 5: Levantamento dentro da sala de capacitação quanto à tecnologia empregada nas fazendas representadas
De cima para baixo são:
• auto pós dipping;
• removedor de teteiras;
• auto lavagem de ordenha;
• detector de mastites;
• auto lavagem de curral de espera;
• apartador automático;
• auto alimentador individual;
• Smartphone;
• detector de cio;
• abridor de colchete elétrico;
Em um “benchmarking” realizado em 2010/2011 pela equipe da DairyNZ coordenada pela Dra. Jago, em 80 fazendas que possuíam ordenhas em carrossel em diversas localidades do todo o país, constatou-se que as fazendas com menores plataformas (40 vacas) ordenhavam em média 149 vacas/hora durante o pico de lactação e no final da lactação, o número aumentava para 213 vacas/hora. Observou-se que a eficiência vai aumentando linearmente a medida que há um aumento no tamanho da plataforma. Veja o gráfico abaixo onde a coluna representa a eficiência de ordenha em vacas/hora no pico (peak) e no final (late) da lactação, de acordo com o tamanho da plataforma (shed size) em capacidade de vacas (bails).
Gráfico 1: Eficiência de ordenha em vacas/hora de acordo com a capacidade de vacas na plataforma de ordenha em carrossel durante o pico e final de lactação.
A fazenda mais rápida ordenhou 447vacas/hora em plataforma com capacidade para 80 vacas com dois ordenhadores. Essa relação não mudou do pico pra o final da lactação.
Outra medida de eficiência desse estudo é vacas ordenhadas/hora/ordenhador. Veja o gráfico abaixo de fazendas com ordenhas em carrossel com capacidade para 60 vacas que alcançaram a maior eficiência tanto no pico quanto no final da lactação.
Gráfico 2: Eficiência de ordenha em vacas/hora/ordenhador de acordo com a capacidade de vacas na plataforma de ordenha em carrossel durante o pico e final de lactação.
Fonte: DairyNZ
Outra tecnologia recentemente adotada na Nova Zelândia para diminuir o tempo de ordenha é o uso do “Max T”. Essa tecnologia baseada em várias pesquisas consiste em diminuir o tempo de ordenha sem ordenhar todas as vacas completamente. No entanto esse método não é aplicado em qualquer situação. A pesquisa nos mostra que o 80% das vacas são ordenhadas em uma mesma faixa de tempo. Com isso o Max T recomenda que se ordenhe todas as vacas nessa mesma faixa de tempo que pode ser calculado a partir da produção média. Para auxiliar no cálculo, o produtor usa tabela abaixo onde mostra tempo de ordenha em minutos/vaca (2ª coluna) de acordo com a quantidade média de litros/vaca/ordenha (1ªcoluna)
Tabela 1: Tempo Max T de acordo com a produção de leite por ordenha em litros/vaca
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Quando a retirada de teteiras é manual o produtor aplica o Max T de acordo com a produção de leite por ordenha retirando as teteiras da vaca no tempo determinado, mesmo que essa não tenha terminado de ordenhar. No caso de removedor de teteiras automático o produtor utiliza o Max T configurando a maquina para remover as teteiras quando a fluxo de leite ordenhado for menos que 400g/minuto.
A produção de leite por ordenha pode ser estimada a partir da tabela abaixo onde a primeira coluna mostra a produção total de leite e as colunas sequintes mostram a estimativa de leite produzido à tarde e pela manha, de acordo com intervalo de ordenha contado a partir do inicio de cada ordenha.
Tabela 2: estimativa de prdução de leite de manha e a tarde de acrodo com produção diária e intervalos entre ordenhas.
Fonte: DairyNZ Milking Even Smarter Take Home Notes,2013
O uso do Max T é restringido nas seguinte circunstâncias:
• o rebanho tem produção superior a 30 litros por dia;
• a CCS é maior ou igual a 200mil/ml
Normalmente o método tem mais resultado após pico de lactação das vacas. Antes e durante esse período as circunstâncias citadas são monitoradas com mais rigidez. De qualquer forma esse método tem ajudado a melhorar a performance de ordenha e ganho em produção. Como diz o ditado: “tempo é dinheiro”
Terminado a ordenha, a vaca volta para o piquete imediatamente. As vacas mancando, com mastites e/ou no cio são apartadas para realizar o trabalho necessário ao final da ordenha. Com isso, algumas tecnologias são indispensáveis na ora de identificar e separar os animais sem perder tempo de ordenha. Para ser eficiente a ordenha não pode parar.
Viajando por todo país ainda não vi fazenda sem identificação eletrônica. Estima-se que 93% de todo rebanho neozelandês é identificado eletronicamente. Uma vez que a vaca é identificada eletronicamente, ela também pode ser apartada eletronicamente, o que diminui a mão de obra desprendida e maximiza o uso do equipamento.
A identificação eletrônica é praticamente a base de toda robotização de manejo do rebanho. Como foi citado no primeiro artigo do blog, todo o banco de dados da LIC (cooperativa de melhoramento genético da Nova Zelândia) é compilado a partir dessa identificação. Com a identificação eletrônica é possível, sem precisar anotar nada, saber quantos litros a vaca produz por ordenha, que é uma ferramenta importante para seleção. Imaginem um controle leiteiro realizado todos os dias na fazenda e os dados de produção serem automaticamente enviados para o banco de dados da associação da raça. Muito mais confiável que as pesagens quinzenais e mensais realizadas no Brasil.
Outra facilidade é a alimentação individual automática. Quando se tem rebanhos pequenos como a maioria das fazendas de leite no Brasil é fácil você fazer uma dieta dirigida para cada vaca ou grupos produtivos, mas aqui na NZ com fazendas de 6000 vacas leiteiras, como a que estou nessa estação, é impossível saber vaca por vaca quem está entrando na ordenha e dar mais ração para esta ou aquela. Com a identificação eletrônica associada ao sistema individual você pode fornecer uma quantidade de ração específica para cada vaca da fazenda. Digamos que as vacas estão comendo em média 1kg de ração concetrada em cada ordenha, contudo o funcionário foi lá no pasto mover a cerca móvel para fornecer mais grama para as vacas e viu que as primíparas 324, 632, 553 e as vacas 230 e 180 estavam com escore corporal abaixo da meta. Dai você, como gerente, vai ao computador da sala de ordenha e pede um relatório de produção dos referidos animais. Então você constata que as duas vacas estão produzindo 20% a mais que a média do rebanho e as três novilhas estão produzindo a média, porém mais que as outras da mesma idade. Nesse caso, você decide aumentar meio quilo de ração para cada uma delas e configura a máquina pra fazer isso todas as vezes que essas vacas entrarem na ordenha e deixa a máquina fazer todo resto.
Cenários como esse acontecem em todos os dias de produção na Nova Zelândia. A alta tecnologia também é adotada no Brasil em alguns casos, mas uma experiência que estamos vivenciando aqui na Nova Zelândia é encontrar fazendas altamente técnificadas por onde quer que vamos. Como exemplo, 54% dos produtores de leite na NZ usam ordenhas em carrossel e apenas 11% usam espinha de peixe. O sistema de produção neozelandês é de baixo custo porque é eficiente. O volume de capital aplicado é altíssimo, porém os investimentos são dirigidos para o maior retorno econômico possível. Assim, eficiência é a principal tecnologia do sistema de produção de leite neozelandês.