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Fibra efetiva no NRC 2001. É permitido ser tão empírico?

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/05/2005

6 MIN DE LEITURA

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Os carboidratos são a principal fonte de energia para os microorganismos ruminais e para a vaca leiteira, constituindo-se no nutriente de maior participação individual nas dietas de vacas leiteiras (70 a 75% da matéria seca). Além da importância quantitativa, o que confere a este nutriente alto impacto sobre o custo de produzir leite, também merece consideração o reflexo dos mesmos sobre a composição do leite e a saúde animal.

O balanceamento dos carboidratos da dieta deve considerar a divisão destes nutrientes em dois grandes grupos. Os de degradação lenta e que ocupam espaço no rúmen e os carboidratos com alta velocidade de degradação. Os carboidratos de degradação lenta são medidos quimicamente como Fibra em Detergente Neutro (FDN) e os de degradação rápida são os Carboidratos não Fibrosos (CNF), onde CNF = 100 - (PB+EE+Cinzas+FDN).

Os ruminantes requerem um teor mínimo de FDN na dieta para manter a fisiologia ruminal e a saúde do animal. Em dietas formuladas com concentrados ricos em amido e com farelo de soja, se recomenda no mínimo 250 gramas de FDN total (a soma da FDN oriunda de forragens com a FDN oriunda de concentrados) por kg de matéria seca dietética, desde que a dieta contenha no mínimo 190 gramas de FDN oriundo de forragens por kg de matéria seca (FDNF). Esta recomendação foi originalmente proposta pelo NRC (1989). Entretanto, dietas formuladas com concentrados ricos em fibra poderiam ter conteúdo de FDNF inferior a 19% da matéria seca, pois a fibra nos concentrados tem cerca de 50% da efetividade da fibra em forrageiras.

Dietas com conteúdo de FDN efetiva (eFDN) acima de 22% da matéria seca e com pelo menos 16% de FDNF parecem ser adequadas para manter a saúde de vacas de alta produção. A origem do número 22 é totalmente empírica. Dietas com 25% de FDN total e 19% de FDNF têm sido utilizadas com sucesso por anos. Considerando que o fator de efetividade da eFDN nas forrageiras é 1 e em concentrados seu valor é 0,5, esta dieta contém exatamente 22% de eFDN: (19 x 1) + [(25-19) x 0,5] = 22.

O controle do teor de FDNF é uma maneira não perfeita, mas prática, de balanceamento do tamanho de partícula da dieta. O balanceamento da fração fibrosa pode ser feito por fixação de uma exigência mínima de FDNF e de uma exigência, também mínima, da porcentagem de eFDN. A relação entre forragens e concentrados será aquela mais econômica na condição vigente de preços de forragens e concentrados fibrosos. Nem sempre a dieta de custo mínimo será aquela com a máxima inclusão de forrageiras. No entanto, se forragens de qualidade são produzidas a custo compatível, a formulação utilizando programação linear e objetivando custo mínimo por unidade de matéria seca, maximizará a porcentagem de forragens na dieta.

A recomendação de carboidratos do NRC 2001

O NRC (2001) sugere que o FDNF mínimo para manter a função ruminal seria similar em dietas formuladas com diferentes forrageiras. A partir de uma dieta com 19% de FDNF e 25% de FDN total, para cada 1% de redução no FDNF, se aumentou 2% no FDN total e reduziu 2% no CNF máximo (Tabela 1). Note que a primeira dieta é a mesma preconizada pelo NRC (1989), uma dieta que sabidamente funciona.

Tabela 1. Recomendação de carboidratos no NRC (2001)


Observação: Válido para Dieta Completa contendo forragem com tamanho de partícula adequado e milho moído como fonte predominante de amido

Apesar do NRC (2001) incorporar o conceito de fibra efetiva, o que foi um avanço proporcionalmente ao NRC (1989), suas recomendações merecem questionamento. O primeiro problema é fixar uma exigência máxima de CNF e ao mesmo tempo definir uma exigência mínima de FDN. A FDN mínima automaticamente define o CNF máximo, e vice versa. Logo a maneira proposta pode gerar formulações impossíveis no computador.

Entretanto, a maior limitação destas recomendações seria o fato das dietas preconizadas não conterem o mesmo teor de eFDN (Tabela 2). Este cálculo assume que o ef da FDNF seria 1,0 e o ef da FDN em concentrados (FDN total - FDNF) seria 0,5. Como as dietas não são iso-eFDN, fica impossível incorporar uma restrição dietética mínima de eFDN em uma planilha computadorizada para formulação de dietas. Por exemplo, é impossível falar para uma máquina que a exigência de eFDN seria 22% da MS quando a FDNF for 19%, mas seria 24% quando a FDNF for 15%!

Tabela 2. Conteúdo de eFDN nas dietas preconizadas pelo NRC (2001)


Observação: Assume que a efetividade da FDN em concentrados é 50% da efetividade da FDN em forragens, a última definida como 1.

Uma solução para tornar útil a recomendação de carboidratos do NRC (2001) seria por redução do valor de ef da FDN dos concentrados. Apesar do texto do livro admitir que o valor 0,5 para a ef da FDN em concentrados ser condizente à literatura publicada no assunto, a utilização deste valor de efetividade para a FDN torna a utilização do conceito de eFDN inviável, pelo exposto acima (Tabela 2). A adoção de um valor de efetividade de 0,33, em vez de 0,5, torna idêntico o conteúdo de eFDN nas dietas recomendadas (Tabela 3). Neste caso o conteúdo de eFDN nas dietas seria 21% da matéria seca, e não 22%. Apesar desta ser uma atitude totalmente empírica, esta parece ser a única maneira viável para que o conceito de fibra efetiva seja adotado sendo, ao menos tempo, condizente às recomendações deste guia nutricional.

O fator 0,33 é uma estimativa conservadora da ef em subprodutos fibrosos. Como o efeito de dietas com baixo conteúdo de FDN oriundo de forragens e alto conteúdo de FDN de concentrados sobre a incidência de distúrbios digestivos, como torção de abomaso, ainda é incerto, a atitude conservadora na formulação pode ter vantagens. O menor valor de ef induz uma maior inclusão de FDN oriunda de concentrados na dieta e reduz o teor de CNF, o que torna a dieta menos acidogênica e, portanto, mais segura para o nutricionista.

Tabela 3. Conteúdo de eFDN nas dietas preconizadas pelo NRC (2001)


Observação: Assume que a efetividade da FDN em concentrados é 33% da efetividade da fibra em forragens, a última definida como 1.

Uma atitude empírica, mas que torna prática a recomendação de carboidratos do NRC (2001), seria utilizar o fator 0,33 para o fator de efetividade da FDN em concentrados e 1 para forragens. Dietas poderiam ser balanceadas para 21% de eFDN. Algumas recomendações poderiam ser adotadas:

  • Mínimo de FDN de forragem na dieta = 15% da MS

  • No início da lactação manteria a FDN de forragem acima de 19% da MS

  • ef de todo FDN oriundo de concentrado, exceto caroço de algodão = 0,33

  • ef da FDN de forragens = 1

  • Mínimo de eFDN na dieta= 21% da MS

  • Mínimo de CNF na dieta = 30-40% da MS (depende da fonte de CNF e da digestibilidade da FDN)
A questão é: Podemos ser tão empíricos na definição de exigências nutricionais? As recomendações de carboidratos do NRC (2001) foram aparentemente redigidas com falta de pensamento prático básico, já que o computador é necessário na formulação de dietas. Propor um fator de efetividade para a FDN em concentrados com o intuito de tornar prática uma norma nutricional já publicada, também parece não ser um bom procedimento científico. Não há dúvidas que a metodologia de balanceamento dos carboidratos dietéticos tem muito o que o evoluir. Mas, no momento, é o que temos para trabalhar.


MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

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HUMBERTO MARCOS SOUZA DIAS

ALFENAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 04/06/2005

Parabéns pelo artigo. Muito bom e oportuno.

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