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Estresse térmico e efeitos do resfriamento na economia das fazendas - Parte II - casos de sucesso

POR ISRAEL FLAMENBAUM

COWCOOLING - FLAMENBAUM & SEDDON

EM 12/12/2019

8 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 27/10/2023

O estresse térmico é considerado um fator influente na lucratividade das fazendas leiteiras, principalmente nas regiões mais quentes do mundo. Na primeira parte desse artigo, descrevi como esta condição prejudica o desempenho das vacas e a lucratividade da fazenda. Nesta parte pretendo mostrar, com base na literatura, minha própria experiência e cálculos, de como o resfriamento adequado pode reduzir o efeito negativo do estresse térmico e contribuir para aumentar a lucratividade da fazenda.

Em uma pesquisa realizada pelo Dr. Vincent St. Pierre, economista e pesquisador da Universidade de Ohio, o estresse térmico foi caracterizado em diferentes regiões dos EUA. Entre essas regiões, existem estados considerados “frios”, onde condições de estresse por temperatura não acontecem, ou acontecem a uma taxa muito baixa, e estados “quentes" (principalmente no Sul), onde as vacas são expostas a condições estressantes por quase metade do ano.

O pesquisador revisou a literatura, na qual foram publicados estudos que examinam a contribuição de várias formas de resfriamento das vacas para a produção e a lucratividade da fazenda. Com base nos resultados apresentados nos artigos, adaptando-os às diferentes regiões dos EUA, St. Pierre avaliou a potencial redução das perdas de produção no verão decorrente da aplicação de técnicas de resfriamento e constatou que 40% das perdas são diminuídas, conforme descrito anteriormente na primeira parte deste artigo.


Foto: Arquivo MilkPoint.

As perdas totais para a indústria de lácteos dos EUA caíram de 1,5 para 0,9 bilhões de dólares por ano, depois da implementação desses meios de resfriamento. É provável que, com os avanços e melhorias feitos nos sistemas de resfriamento nos últimos vinte anos, se esses resultados fossem reconsiderados com a implementação de resfriamento intensivo, poderia haver uma redução ainda maior das perdas causadas pelo estresse térmico no verão.

Com base na experiência adquirida, pesquisadores da Universidade da Flórida compararam o desempenho das vacas e a lucratividade da fazenda, com e sem um bom resfriamento das vacas nos meses mais quentes. Sem resfriamento, as vacas passavam quase 50% do ano em condições de estresse térmico, principalmente de junho a setembro, nos quais as vacas eram submetidas a temperaturas estressantes 24 horas por dia. Nessas condições, a produção anual de leite por vaca foi reduzida em 1.600 litros, dos quais 1.400 litros (90%) foram perdidos nos meses de verão. A queda na produção de leite causou a perda de US$ 690 por vaca por ano. Quando as vacas foram efetivamente resfriadas, o tempo em que foram submetidas a condições de estresse térmico foi reduzido para apenas 20% do ano e 50% do dia durante os meses quentes. O resfriamento efetivo reduziu a perda anual de leite por vaca de 1.600 para 200 litros em quase todos os meses de verão, e a perda de renda anual de cerca de US$ 700 por vaca, sem resfriamento, para apenas US$ 125 por vaca, implementando um tratamento de resfriamento intensivo.

Conforme apresentado na primeira parte deste artigo, o estresse térmico e o resfriamento de vacas são, acima de tudo, um problema econômico. A mitigação do estresse térmico utilizando meios de resfriamento reduz as perdas e será economicamente justificada quando o custo de implementação for menor que o total de perdas econômicas causadas pelo estresse térmico.

Para avaliar esse problema em diferentes tipos de fazenda, participei recentemente do desenvolvimento de um programa especial informatizado em Excel, no qual é possível avaliar a rentabilidade da implementação de meios de resfriamento. O programa consiste na avaliação de dados da fazenda (número de vacas, nível de produção e número de dias de verão por ano), custo do resfriamento (instalação e operação de equipamentos de resfriamento), bem como os custos da fazenda (alimentos, eletricidade e leite). Para o cálculo, assumimos um aumento na produção anual e na eficiência alimentar (somente nos dias de verão), apresentado como um percentil acima do nível básico, antes da implementação do resfriamento.


Foto: Arquivo MilkPoint.

Em geral, eu uso o "modo de suposições" do programa antes de iniciar um novo projeto de resfriamento de vaca, onde posso estudar o "ponto de equilíbrio" para o investimento e convencer o produtor a fazê-lo. O "modo de resultados" é utilizado no final do verão, em cada um dos projetos que estou executando no mundo. Nesse modo, números reais são usados ao invés de suposições relacionadas à melhoria na produção e, ao fazê-lo, podemos confirmar ou negar os cálculos econômicos feitos antes de iniciar.

Nos últimos 10 anos, desde que comecei a usar esse programa, eu o executei em mais de 30 países diferentes, localizados em três continentes. Em alguns casos, foi utilizado apenas o "modo de suposição", em conferências ou reuniões com produtores. Em outros casos, foi utilizado o "modo de resultados", onde são apresentados números reais ao produtor, sabendo exatamente os custos adicionais necessários para resfriar as vacas e a quantidade adicional de leite produzida anualmente.

No artigo atual, são apresentados os resultados de alguns dos meus projetos de resfriamento de vacas, realizados em quatro países, localizados em três continentes diferentes.

Projeto de resfriamento de vacas no México

O projeto foi realizado em uma fazenda de 3.000 vacas, localizada na parte árida do norte do México. O investimento em equipamentos para o resfriamento de vacas em "pátios especiais" atingiu US$ 800.000 (US$ 250 por vaca). A operação do sistema de resfriamento durante 150 dias (todo o verão) tinha custo anual de US$ 45 por vaca, dos quais US$ 30 representavam gastos com eletricidade e US$ 10 com mão-de-obra adicional (seis funcionários adicionais contratados e trabalhando três turnos por dia).

Entre os benefícios gerados pelo resfriamento intensivo das vacas, foi considerado um aumento de 10% na produção anual de leite por vaca. Também assumimos uma melhoria de 5% na eficiência alimentar durante os 150 dias de verão e uma diminuição de cinco "dias em abertos" por vaca, anualmente.

Os resultados deste projeto mostram que, nas condições mencionadas acima, a renda adicional devido à implementação intensiva de refrigeração atingiu US$ 600.000 por fazenda, anualmente (US$ 200 por vaca), e o retorno esperado do investimento era menor que dois anos.

Projeto de resfriamento de vacas na Itália

O projeto foi realizado em uma fazenda de 930 vacas localizada no nordeste da Itália. O investimento em equipamentos de refrigeração instalados no pátio de espera e na pista de trato atingiu 260.000 euros (280 euros por vaca). A operação do sistema de refrigeração durante 120 dias de verão custou 30 euros por vaca por ano, dos quais 20 euros era em eletricidade.

Entre os benefícios gerados pelo resfriamento intensivo das vacas, um aumento de 8% na produção anual de leite por vaca foi levado em consideração no cálculo da rentabilidade. Nesse caso, além do bom preço do leite, a fazenda também recebeu um bônus de 20 euros por vaca por ano, pela melhoria na qualidade do leite e declarou uma redução de 15 euros por vaca por ano nos custos de medicamentos. Os resultados deste projeto mostram que, nas condições mencionadas acima, a renda anual adicional devido à implementação do resfriamento intensivo atingiu 280.000 euros por fazenda (300 euros por vaca) e o retorno esperado do investimento ocorreu em menos de um ano.

Projeto de resfriamento para vacas na Turquia

O projeto foi realizado em uma fazenda de 1.100 vacas, localizada no sudoeste da Turquia. As vacas foram resfriadas no pátio de espera (antes e entre as sessões de ordenha) e na pista de trato. No final do verão, foram observados um aumento de 12% na produção anual por vaca e uma melhoria de 5% na eficiência alimentar durante 120 dias de verão. No início do projeto, parte do equipamento de resfriamento já existia; portanto, o investimento para a instalação de equipamentos de resfriamento adicionais era de apenas US$ 140.000 (US $ 130 por vaca), enquanto sua operação era de US$ 30 por vaca. O lucro líquido da fazenda devido ao resfriamento intenso das vacas atingiu US$ 220.000 (200 por vaca) e o retorno do investimento foi em menos de um ano (principalmente devido ao investimento relativamente pequeno em equipamentos).

Projeto de resfriamento de vacas na Rússia

O projeto foi realizado em uma fazenda de 1.100 vacas, localizada no sudoeste da Rússia (região do Mar Negro). As vacas foram resfriadas no pátio de espera (antes da ordenha) e na pista de trato (após e entre as sessões de ordenha). No final do verão, no qual as vacas foram intensamente resfriadas, foi obtido um aumento de 15% no leite anual. O investimento em resfriamento foi de US $ 290.000 (US $ 265 por vaca), enquanto o custo de operação do sistema de resfriamento nos 100 dias de verão (início de junho a meados de setembro) foi de US$ 30 por vaca. O aumento anual do lucro líquido da fazenda atingiu US$ 260.000 (240 por vaca), e o retorno do investimento foi de um ano.

O ponto interessante dos dados apresentados (e de outros projetos, cujos dados não foram incluídos neste artigo) é que, independentemente das diferenças geográficas e climáticas entre os quatro projetos descritos, bem como das diferenças no nível de produção, práticas de gestão utilizadas e preços de insumos e produtos, os números apresentados não diferem muito.

O aumento da produção anual devido ao resfriamento intensivo (dados reais) teve uma média de 10% (variação entre 8 e 12%). Em termos de dólar por vaca, o investimento para a instalação do equipamento de refrigeração variou entre US$ 250 e 300 e o custo operacional médio foi de US$ 30 (faixa entre US$ 20 e US$ 40). O aumento do lucro líquido anual por vaca foi em média de US$ 250 (entre 200 e 300 dólares) e o retorno do investimento variou entre um e dois anos.

Com base na minha experiência de mais de 40 anos lidando com a produção de leite em Israel e no mundo, posso concluir que, independentemente da região geográfica ou do tipo de sistema de produção, você deve considerar investir em meios de resfriamento de vaca e em seu uso adequado, como um dos melhores investimentos que o produtor pode fazer.

ISRAEL FLAMENBAUM

Especialista no estudo do estresse térmico em vacas leiteiras, professor na Hebrew University of Jerusalém, tem ministrado cursos e treinamentos sobre o assunto em diversos países.

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RAFAEL MONTEIRO ARAÚJO TEIXEIRA

RIO POMBA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 16/12/2019

Trabalho com ensino de bovinocultura de leite em curso técnico, graduação e mestrado e nas três dimensões de ensino falo para meus alunos que o grande problema da pecuária de leite é o que a gente não consegue mensurar. Ou seja, os animais produzem e achamos que a produção é aquilo mesmo, pois não temos ideia do quanto estamos deixando de produzir, neste sentido as doenças sub (mastite subclínica, acidose subclínica, cetose subclínica, hipocalcemia subclínica, etc) e a falta de controle do ambiente são os grandes responsáveis. Assim, com este artigo você segue mostrar índices zootécnicos e financeiros que fazendas deixam de obter quando não controlam o ambiente. E o impacto é enorme. Parabéns pelo artigo e pelo trabalho.
NEWTON FILHO

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/12/2019

Trabalho com Pecuaria de corte, na área de gestão da informação, mas gosto de ler os Materias técnicos de vocês
ISRAEL FLAMENBAUM

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/12/2019

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