A maneira convencional de se criar bezerras na fase de aleitamento é através do fornecimento do equivalente a 10% de seu peso vivo em leite. O ideal seria que esta porcentagem fosse ajustada conforme o animal cresce mas, na prática, o que ocorre é a adoção de uma quantia padrão de 4 litros (cerca de 10% do peso ao nascer de uma bezerra holandesa), por todo o período de amamentação.

Recentemente o fornecimento de leite em maiores quantidades vem sendo estudado com intensidade e tem demonstrado que mesmo com custo adicional, pode ter um benefício favorável. Algumas informações sobre o assunto já foram publicadas nesta seção anteriormente.

Um trabalho realizado no Canadá, recentemente publicado, parece colaborar com esta teoria. Para o estudo, 28 bezerras foram separadas das mães nas primeiras 24 horas de vida e alojadas em baias individuais. Metade delas recebeu cerca de 10% do peso vivo em leite integral (quantidade ajustada duas vezes por semana após a pesagem dos animais). A outra metade teve livre acesso ao leite através de um bico de borracha acoplado por um tubo a um reservatório de leite. O reservatório era abastecido duas vezes ao dia. Pela manhã as sobras eram pesadas e descartadas, antes da limpeza do sistema de alimentação. Aos 37 dias iniciou-se a desmama gradual, que consistiu da diluição do leite com quantidades crescentes de água até a completa substituição aos 42 dias de vida. A intenção foi fazer a desmama sem estressar os animais. Durante todo o tempo todos animais tiveram livre acesso a um concentrado, feno e água. O consumo destes alimentos foi monitorado diariamente até os 63 dias de vida.

Os resultados de consumo e desempenho podem ser observados na tabela 1. Os bezerros amamentados da forma convencional tiveram um aumento controlado da quantidade de leite de 4,2 kg no primeiro dia até 5,7 kg no dia 36. Em contraste, os que tiveram livre acesso aumentaram a quase 9 kg no dia 4, diminuíram ligeiramente durante a segunda semana de vida para depois novamente aumentar e manter o consumo entre 9 e 10 kg até a desmama, resultando em diferença significativa na quantidade de leite ingerida. No período de desmama (37 aos 42 dias) o consumo dos dois grupos caiu rapidamente em função da diluição do leite.



O consumo de alimento sólido foi insignificante para os dois grupos até a segunda semana de vida. O consumo aumentou após o dia 14, especialmente no caso dos bezerros amamentados na forma convencional, o que resultou em consumo significativamente maior. No 35o dia, os bezerros "convencionais", tinham consumido uma média de 6,11 kg de concentrado e 0,98 kg de feno. Em comparação os bezerros amamentados à vontade, tinham consumido somente 2,99 kg de concentrado e 0,52 kg de feno. Com o início da desmama no dia 37, o consumo de concentrado e feno aumentou rapidamente nos dois grupos, não havendo diferenças significativas durante e após a desmama.

Os bezerros amamentados à vontade ganharam peso numa taxa mais acelerada que os convencionais antes da desmama. Como comparação, na primeira semana de vida o ganho diário dos bezerros amamentados à vontade foi de 0,8 kg, enquanto os convencionais ganharam somente 0,2 kg. Aos 35 dias esta diferença no ganho resultou numa vantagem significativa de 10,5 kg para os bezerros que mamaram à vontade.

Os dois grupos de bezerros permaneceram igualmente saudáveis durante o experimento.

Com estes dados os autores concluem que os bezerros têm capacidade de consumo de quantidades muito superiores às tradicionalmente oferecidas, o que permite maior ganho em peso. Eles também afirmam que o maior consumo de concentrado não conseguiu compensar a menor quantidade de leite fornecida no método convencional. Eles acreditam que esta vantagem no ganho de peso pode permitir a desmama mais precoce, reduzindo (ou mantendo) os custos de produção com algumas vantagens. Eles mencionam que outros estudos já demonstraram que, de forma diferente das novilhas mais velhas, bezerras abaixo de 90 kg não têm efeitos negativos no desenvolvimento mamário quando submetidas a altas taxas de ganho de peso. O ganho nesta fase é mais eficiente e não pode ser recuperado posteriormente através de ganho compensatório.

Comentário do autor: vários estudos têm sido conduzidos atualmente para avaliar o consumo de maior quantidade de leite na fase inicial de vida dos bezerros. Muitos demonstram maior eficiência no ganho. É preciso lembrar, no entanto, que na natureza o bezerro que mama na vaca consome maior volume distribuído em maior número de refeições. Isto é parte do processo para que se evite os distúrbios digestivos. Neste trabalho isto não se constituiu um problema porque o manejo foi excepcional e os bezerros consumiram, mamando à vontade, cerca de 10 litros divididos em 10 pequenas refeições. O fornecimento de grandes quantidades de leite em duas ou três refeições pode por a perder, por problemas digestivos, qualquer eventual maior eficiência no aproveitamento do alimento.

Fonte: Jasper, J. and Weary, D.M. 2002. Effects of Ad Libtum Milk Intake on Dairy Calves. J.D. Sci 85:3054-3058.