ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Fornecimento de água: fria ou morna?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

E JACKELINE THAIS DA SILVA

CARLA BITTAR

EM 18/05/2011

5 MIN DE LEITURA

13
1
Boa saúde e bom desempenho no crescimento das bezerras são aspectos importantes no manejo do rebanho leiteiro. Durante o período de aleitamento, as bezerras são geralmente alimentadas com quantidades restritas de leite ou sucedâneo (8 a 10% do PV ao nascer), de forma a se estimular o consumo de concentrado, permitindo assim o desaleitamento precoce. Muitos trabalhos mostram o benefício do fornecimento de água a vontade desde as primeiras semanas de vida com relação ao consumo de concentrado e conseqüente maior desempenho. O fornecimento de água através de balde ou bebedouros providos de bicos não afeta a quantidade de água ingerida, mas a temperatura da água tem sido um ponto questionado.

Em regiões de inverno rigoroso, os bezerros muitas vezes recebem água fria porque a água potável é bombeada de poço e servida sem aquecimento. O efeito da temperatura da água na saúde e desempenho de bezerros tem sido pouco estudado, embora em algumas regiões até do Brasil já se tenha a recomendação de fornecimento de água morna. Sabe-se que em ambiente quente, resfriar a água oferecida para as vacas pode ser interessante, enquanto que para vacas de alta produção em ambiente frio, fornecer água morna pode ser vantajoso.

Um interessante estudo foi realizado com vacas leiteiras recebendo água com diferentes temperaturas (3, 10, 17 e 24ºC) com o objetivo de avaliar a ingestão de água, consumo de alimentos e produção de leite. O trabalho mostrou que o fornecimento de água a 3ºC resulta em redução na produção de leite, comparado com todos os outros tratamentos. Embora o consumo de água morna (30 a 33ºC) tenha sido superior ao observado com o fornecimento de água à temperatura ambiente em regiões frias (7 a 15ºC), este não resultou em aumentos na produção.
Por outro lado, poucas informações estão disponíveis sobre o efeito da temperatura da água oferecida para bezerros leiteiros. Deste modo, uma pesquisa foi realizada na Finlândia, um país de clima frio, com o objetivo de avaliar o efeito da temperatura da água fornecida na ingestão total de água, desempenho e saúde de bezerros leiteiros.

O trabalho foi realizado com 120 bezerros machos alojados em galpão fechado, com temperatura ambiente variando entre 11 a 20ºC no inverno e 15 a 23ºC no verão, algo próximo ao que observamos em algumas regiões do Brasil. Os animais tiveram livre acesso a água, concentrado inicial, silagem de capim e feno, e receberam sucedâneo lácteo por alimentador automático (7,5 L/d) durante os primeiros 75 dias de vida. Após o desaleitamento os animais receberam silagem de capim e feno a vontade, além de concentrado inicial restrito a 3 kg/d. Os animais foram separados em dois grupos de acordo com a temperatura da água fornecida: 1) água aquecida (16 a 18ºC); e 2) água fria (6 a 8ºC). A temperatura da água fria está de relacionada à temperatura ambiente da água na Finlândia; enquanto a temperatura da água aquecida foi definida considerando-se os resultados de estudos que mostram que esta temperatura estimula a ingestão de água, aumentando consequentemente o ganho de peso dos animais.

Os resultados mostraram que durante a fase de aleitamento a ingestão de água por animais que receberam água aquecida foi 47% maior que a dos bezerros que receberam água fria. Como ilustrado na Figura 1, durante o aleitamento o consumo de água foi menor que 2 L/d, sendo a ingestão aumentada rapidamente em ambos os tratamentos após o desaleitamento. Nesta fase houve uma tendência para maior consumo de água por animais recebendo água morna.



Figura 1. Ingestão diária de água aquecida (16 a 18ºC) ou fria (6 a 8ºC) de bezerros leiteiros.

Muito embora os animais recebendo água morna tenham apresentado maior ingestão de água, não houve diferença para as médias de consumo de concentrado inicial ou ganho de peso durante o período de aleitamento e pós-desaleitamento (Tabela 1).

Tabela 1. Ingestão de água, consumo da dieta, ganho de peso e concentração de IgG em bezerros leiteiros recebendo água aquecida (16 a 18ºC) ou água fria (6 a 8ºC).



A concentração de IgG não diferiu entre os tratamentos, quando avaliada aos 60 e 120 dias de idade. O estado imunológico dos bezerros foi avaliado porque pode ser usado como índice de estresse e suscetibilidade a doenças. Neste trabalho, não houve efeito da temperatura da água fornecida na saúde ou imunidade dos animais, de forma que não existe nenhuma evidência de que a ingestão de água fria (6 a 8ºC) seja um risco a saúde de bezerros leiteiros.

No entanto, 33% dos animais receberam pelo menos uma vez tratamento veterinário, sendo 16 bezerros do tratamento água fria e 23 bezerros do tratamento água aquecida. Mas, segundo os autores, a alta porcentagem de animais recebendo tratamento veterinário nesta pesquisa está relacionada com o reagrupamento de animais jovens e provenientes de diferentes fazendas.

Deste modo, foi concluído que o consumo de água por bezerros é maior quando a água é aquecida, comparado com a água oferecida fria durante o período de aleitamento, mas este aumento na ingestão de água não influencia nenhuma medida de consumo ou parâmetros de desempenho e saúde.

Referência

HUUSKONEN,A.; TUOMISTO, L.; KAUPPINEN, R. Effect of drinking water temperature on water intake and performance of dairy calves. Journal of Dairy Science, v.94, p.2475-2480, 2011.

Comentários

Já temos uma sinalização de que o fornecimento de água aquecida vem sendo adotado como prática por produtores brasileiros. O trabalho realizado na Finlândia mostra que os animais consomem mais água quando esta é fornecida morna (16-18°C) em comparação a água a temperatura ambiente (6-8°C), sem que isso resulte em aumento no ganho de peso dos animais. Um dado interessante também é que o fornecimento de água fria não resultou em maiores problemas de saúde, como atestam alguns técnicos. No entanto, há de se considerar que em países mais frios, tanto o sucedâneo quanto a dieta sólida são formulados com maior densidade energética, uma vez que o animal tem aumento de exigência devido ao maior esforço para a termorregulação. Assim, é possível que sim, em algumas regiões frias do país, onde a densidade energética não é aumentada nas épocas de menor temperatura ambiente, que os animais se beneficiem do fornecimento de água morna, não só em termos de ingestão total de água, como também de consumo de concentrado inicial e ganho de peso.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

JACKELINE THAIS DA SILVA

13

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

ANTÔNIO CARLOS LIMA

PITANGA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/08/2019

Quanto mais informação mais conhecimento, então muito boa as novidades, vamos colocar em prática
JOENIO PEREIRA DE GOUVEIA

MONTE ALEGRE DE MINAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/04/2015

gostaria de saber se a bezerra pode beber leite ,e logo em seguida beber água em criação em bezerreiro modo argentino.      
PAULO CESAR

UBAÍ - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 05/12/2013

Boa noite prof, Carla;



Sou aluno do Curso Tecnico em Agricultura e Zootecinia no IFTM campus Uberaba MG

Gostaria de saber mais a respeito sobre seu trabalho pois pretendo escrever um projeto com vacas leiteiras para nossa região de Serrado
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 24/02/2012

Edson,

Fornecer o soro morno com certeza aumentará o consumo voluntário.

Att.,

Carla.
EDSON

MATO VERDE - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 23/02/2012

olha, e no caso de estar dando o soro do leite tirado do requeijão p/ a bezerra. O que vc me diz?
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 08/11/2011

Rafael,

Acho que está prática seria pertinente somente para a região sul do país. Em Goiás tenho certeza que não temos problemas devido a temperatura da água.

Abs.,

Carla.
RAFAEL

GOIÂNIA - GOIÁS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/11/2011

Cara Carla, gostaria de saber se você julga essas recomendações de aquecimento do alimento válidas para a região centro oeste do Brasil?
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/06/2011

Caro Carbulon,

Temos conseguido bons desempenhos fornecendo no balde no chão sem nenhum problema com os animais. No entanto, as vezes recebo relatos de que esta prática tem trazido diarréias alimentares em alguns sistemas de produção. É provável que, embora o fechamento da goteira dependa de estímulos nervosos, principalmente gustativos (sabor do leite), mas também olfativos e visuais; a posição da cabeça dos animais possa resultar em falhas o fechamento.

Independentemente do tipo de dieta líquida (leite descarte, sucedâneo, silagem de colostr, etc.) é importante que este seja aquecido.

Att.,

Carla Bittar
CORBULON SOARES DE MACEDO

EUNÁPOLIS - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/06/2011

Prezada Carla, gostaria de aproveitar o assunto bezerras e tirar uma duvida sobre a forma de oferecer o leite. Existe diferença em fornecer o leite no balde no chão e na altura de 50 cm. E no caso de fornecer silagem de colostro, o mesmo deve ser aquecido?



Agradeço desde já sua atenção,



Corbulon Macedo
CLÁUDIO VIEIRA TAVARES

CRISTIANO OTONI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2011

Alguém já fez uma avaliação se o investimento em água morna para bezerras é realmente lucrativo?
CLÁUDIO VIEIRA TAVARES

CRISTIANO OTONI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2011

Não digo sobre a água exatamente mas, sobre as bezerras que mamam umas nas outras após beber leite no balde ou mamadeira. Para evitar isto com quase 100% de eficácia é só limpar a boca delas com papel toalha ou similar. Acaba-se o gosto do leite na boca e a vontade de mamar. Outra "utilidade" desta vontade de mamar é oferecer o concentrado logo após o leite. Oferecer o concentrado após o leite pode trazer problemas ou não?
CARLA MARIS MACHADO BITTAR

PIRACICABA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 24/05/2011

Caro Cláudio,

Ótimo ler relatos como o seu...obrigada por compartilhar sua experiência neste espaço!

O aquecimento de água sem dúvida estimula o seu consumo, principalmente em animais criados em clima mais frio.

O fornecimento de água desde a primeira semana de vida dos bezerros é extremamente importante devido a sua participação no processo de desenvolvimento ruminal, assim como no estímulo ao consumo de concentrado. Animais sem acesso a água consomem menor quantidade de dieta sólida.

O consumo é normalmente regulado pelo prórpio animal; no entanto, em sistemas que fazem aleitamento utilizando-se de baldes, podemos observar bezerras com consumo depravado de água logo após o fornecimento do leite devido ao estímulo para a mamada. Assim, tem-se sugerido que os animais não tenham acesso a água durante 30-40 min após o forneciemento do leite, tempo adequado para a perda do instinto para mamar, para depois ser disponibilizada novamente. Asim, esta estratégia de utilizar o próprio balde com resto de leite para fornecer água não é muito adequada.

Att.,

Carla.
CLAUDIO WINKLER

CARAMBEÍ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/05/2011

Muito bom artigo! Gostaria apenas de comentar o seguinte:



Pelo que tenho observado em relação ao desenvolvimento de minhas bezerras durante os últimos anos, o fornecimento de água morna ao invés de fria (moro na região sul, clima semelhante a esse da Finlândia) realmente estimula o consumo, ou pelo menos não o inibe. Percebe-se claramente que as bezerras, já com uma semana de vida, tomam água morna com muito mais vontade do que água fria (esta, prontamente rejeitada). A pesquisa, muito interessante, por sinal, vem então comprovar o que muitos produtores observam na prática.



Quanto aos comentários finais, sobre se a temperatura (e consequente mudança no volume de água consumido) interfere na saúde dos animais, posso comentar o seguinte: não vi nenhuma pesquisa mais específica referente a isso (mas deve haver, imagino), mas, como exemplo, tive uns meses atrás 2 bezerras, gêmeas, com características naturais distintas entre si. A ambas (e a todas as demais) era fornecida a mesma quantidade de água (2 litros), cerca de 15 minutos após o consumo do leite. Uma delas tomava 2 litros de água quase que imediatamente (tomava até mais, quando fornecido), a outra nunca mais de meio litro, o resto esfriava e, consequentemente, não era consumido. Mas, o fato é, que ambas se desenvolveram de maneira muito parecida, com peso corporal praticamente igual aos 30, 60 e 90 dias. E a única coisa diferente que eu observava naquela que ingeria muito mais água era, obviamente, um aumento, bastante visível, na quantidade de vezes em que ela urinava.



Porém, ainda em relação à melhora de saúde proporcionada pelo aumento de ingestão de água, posso dizer que, pelo menos no que se refere à recuperação de diarréias, torna-se muito mais fácil rehidratar uma bezerra que passe por uma diarréia nutricional aos 10-12 dias de vida se ela já está acostumada a beber água (morna) desde, digamos, uns 3 a 4 dias vividos. Dispensa-se aí, quase que totalmente, a necessidade de forçar a ingestão de água (ou soro) via mamadeira ou, em casos extremos, sonda esofágica.



Fica, é claro, a eterna discussão sobre quando fornecer a água: imediatamente após o consumo do leite, quando a bezerra ainda está esperta, procurando por algo mais (e realmente, neste momento, ela tende a consumir a água mais facilmente, principalmente se ela for jogada sobre o restinho de leite que ficou no fundo do balde, como se esse lhe "temperasse" a água), ou então, 20 a 30 minutos mais tarde, teoricamente não prejudicando a digestão do leite por diluição, porém tendo como problema o fato da bezerra normalmente já estar deitada, como que saciada.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures