Na formação das pastagens, é evidente que o uso correto do solo deve ser eficiente para que, ao menos na parte de nutrição, as forrageiras tenham seu melhor desempenho e mostrem seu potencial. Um solo bem manejado, seja pela baixa ou nula infestação de pragas ou pelo aporte de nutrientes, atua de forma direta sobre o sucesso da pastagem.
O investimento na formação ou implantação de pastagem pode ser considerado uma das atividades mais importantes sob o ponto de vista econômico. Esta prática é tão importante que deve ser considerada semelhante ao plantio de outras culturas e, como tal, o produtor deve procurar as técnicas mais recomendadas à formação da pastagem em sua propriedade.
Sabe-se que a produtividade do pasto está intimamente relacionada com diversos fatores, dentre eles:
- escolha do local para implantação da pastagem;
- escolha das espécies forrageiras;
- época de plantio;
- preparo do solo.
Ainda, plantar no momento certo é uma importante ferramenta para o sucesso.
Implantação da pastagem
Relacionado à implantação de pastagem, dentre os fatos interessantes que eu já pude presenciar foi que, em um determinado momento, visitei uma propriedade e a mesma apresentava um relevo impróprio para a mecanização.
Lembro-me ainda, que disse ao produtor que se um trator chegasse naquele lugar ele teria “vertigem” de tanto morro. Logicamente uma brincadeira, mas quis demonstrar a impossibilidade de plantar uma nova pastagem.
Fui indagado pelo produtor: “O que eu faço?”. Com muita calma, direcionei para o plantio direto que nada mais é que plantar uma nova forragem (neste caso) sobre uma cobertura vegetal morta. Bom, se não posso revolver a terra, preciso de alguma ideia para conseguir implantar a nova forrageira. É claro que o fato o deixou mais indagado ainda.
Continuando a conversa mostrei a ele algumas fotos de uma breve tentativa de como fazer o plantio de capim Tobiatã por meio de mudas realizado por nós (Figura 1). Certamente, um trabalho quase que artesanal, mas que dá resultado.
Dessecando-se a área com uma bomba costal e plantando mudas ou até mesmo com sementes pode-se implantar um novo pasto. Com certeza, um trabalho de quase jardinagem, mas que ajudado talvez por tração animal, acoplando-se carrinhos de plantio, ou até mesmo em áreas localizadas em que uma máquina agrícola ande, pode ser feita sim a substituição e plantio de uma nova forrageira.
Figura 1. Plantio do capim Tobiatã (Panicum maximum) em mudas em área dessecada localizada.
Em outras experiências, em um local declivoso, mas ainda agricultável, um produtor da região de Botucatu (Sitio São Judas Tadeu, bairro de Anhumas), o senhor Valdir Factori (por coincidência meu pai) introduziu em uma área composta por um capim pouco produtivo conhecido como Gramão (Gênero Paspalum) um capim mais produtivo (Brachiaria brizantha cv. Marandu).
Em uma área reduzida para teste, o feito foi apenas gradear com grade leve a área (apenas para abrir sulcos pequenos de 2 a 3 cm de largura e profundidade), jogando a semente a lanço na área toda logo em seguida e passando a grade novamente. Em outra área que o trator não “andou”, este foi substituído pela famosa plantadeira manual chamada de tico-tico.
Fato interessante: o capim Gramão, em função dos pequenos sulcos, deu espaço para o Marandu e como foi acrescido adubo nitrogenado em cobertura após a emergência da Braquiária (15 dias após), cresceu mais e foi sombreando o Gramão predominando o novo capim. Obviamente que o espaçamento do plantio entre covas ou os sulcos irão variar a cada situação, mas nesse caso específico deu certo.
Aplicação de calcário
Outro fator muito engraçado, é que aprendemos na universidade que em dias de vento não se aplica calcário. Um dia, em função do esgotamento do tempo para cumprir algumas etapas experimentais, a aplicação de calcário tinha que ser feita.
Curiosamente, na primeira foto da Figura 2 nota-se ao longe que vinha um trator aparentemente em chamas expelindo fumaça. Posteriormente fiquei sabendo que um amigo disse ao ver de longe esta cena que a área em questão estava pegando fogo. Ao chegar perto vimos que apenas era aplicação de calcário que estava sendo perdido por deriva (indo embora pelo vento).
Neste dia, foi constatado que instalações a mais de 400 metros desta área foram atingidas pelo calcário. É evidente que a situação forçada permitiu que isto acontecesse, mas infelizmente o que me entristece é que na maioria das propriedades isto ocorre. Escolher o momento certo, muitas vezes pode reduzir a dose aplicada em função do aumento da eficiência do processo.
Figura 2. Aplicação do calcário em dia de vento.
Enterrio de sementes
Certamente que no dia do plantio o uso de rolo compactador é fundamental para que ocorra o leve enterrio da semente no solo e ainda contato desta com o solo aumentando a viabilidade do plantio e, consequentemente, a uniformização da área.
Pois bem, em outra experiência, muito curiosa foi que em uma propriedade, um rolo compactador estava sendo utilizado para o enterrio de sementes, mas não era feito de pneu e leve (figura 3) e sim um rolo feito de um tambor de 200 litros – observe o detalhe: cheio de concreto pesando no mínimo 500 kg. Engraçado e triste.
O excesso de peso do rolo enterra muito a semente e, por isso, impede a germinação ou esta ocorre tardiamente em função do enterrio profundo. Com certeza a demora da forrageira para se estabelecer causa espaço para invasoras e, por isso, o processo de plantio “vai pelo ralo”, junto com todo o concreto gasto para encher o tambor.
Figura 3. Rolo compactador feito de pneus utilizado para leve compactação das sementes no solo.
Deixar o pasto sementear
Depois de tudo estabelecido, um costume utilizado, que não é não errado, mas que, a meu ver, poderia ser suprimido, é deixar o pasto sementear após a implantação (figura 4). Não é um ato perdido e sim que pode ser “pulado”, pois um pasto bem implantado já possui um número ideal de sementes (segundo recomendação) já previamente estudadas e experimentadas.
O produtor não deve perder tempo em testar e sim aplicar as técnicas desenvolvidas pela universidade. Deixar o capim sementear significa deixá-lo “passar do ponto”, perder qualidade e fornecer um capim ao animal de baixo valor proteico, imprimindo em menores ganhos de peso e produção de leite.
Uma explicação de um técnico conceituado foi que, ao deixar sementear, vão existir sementes do capim novo (implantado) na área e, quando ocorre a morte daquele que lhe deu origem, esta semente germinará e ocupará o lugar. Em área bem manejada, o pasto dura pra sempre.
Logicamente que foram algumas pequenas troca de informações, mas ainda acredito que esta etapa deva ser pulada. Um sistema que se julga eficiente não pode pensar na morte do pasto e sim na sua longevidade.
Figura 4. Pastagem recém implantada e deixada sementear de forma equivocada.
Fatos curiosos sempre existiram, existem e irão continuar existindo. Cabe em cada caso, buscar sua eficiência. Eficiência não é hoje mais uma opção e sim combustível essencial para a sobrevivência do sistema produtivo.