Os valores pagos pela produção de agosto, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, mostram uma desaceleração. Enquanto em julho houve aumento nos preços de R$ 0,06/l ao produtor (referente à produção do mês anterior), e em agosto de R$ 0,08/l, o mês de setembro registrou acréscimo de R$ 0,035/l.
Um dos motivos para a "reviravolta" do mercado foi a elevação acentuada no preço do leite longa vida. Esse fator causou uma redução do consumo, o que fez com que o varejo, para pressionar uma queda de preços na indústria, retivesse as compras durante o mês de julho, em que há férias escolares e, portanto, menor consumo. A diminuição das compras do varejo provocou uma redução de preços da indústria. Com o vínculo que há entre o preço do leite longa vida e outros produtos no mercado (como queijos, leite em pó etc.), estabeleceu-se uma tendência de queda no setor.
Gráfico 1. Evolução dos preços do leite pago ao produtor e do leite UHT (longa vida) vendido no atacado de São Paulo, em reais por litro.
Juntamente à pressão do varejo para reduzir o valor do leite longa vida, houve uma maior produção de leite em virtude do uso mais intenso de ração e alimentação conservada pelos produtores, impulsionados pelos elevados preços do leite no mercado.
Além disso, a safra do Sul do país, que já chegou ao pico, aliada ao aumento de produção no Sudeste e Centro-Oeste, proporcionou algum excedente de oferta de leite nos últimos meses, principalmente no leite longa vida. A região enviou aos outros estados elevada quantidade desse produto, entre outros lácteos, a valores mais baixos, contribuindo também para uma redução dos preços no mercado. No primeiro semestre do ano, a região Sul foi a principal responsável pelo aumento da captação em relação ao mesmo período de 2006, segundo dados da Pesquisa Trimestral do Leite, do IBGE. Os números apontam um acréscimo de 212,7 milhões de litros.
Por esses motivos, os estoques principalmente das indústrias de leite longa vida começaram a aumentar. De acordo com agente do setor, muitas empresas que destinariam o leite a esse mercado, atualmente, preferem vender no mercado spot (comercialização entre as empresas), visto que as indústrias de queijos e de leite em pó estão cheias e a produção de leite longa vida poderia pressionar ainda mais os preços do produto.
E nesse mercado, os valores também vêm sendo reduzidos. Segundo agentes, em Goiás, o leite spot está na faixa de R$ 0,76/l sem ICMS. No Sul, os valores são ainda menores - o leite chega a ser ofertado por R$ 0,55/l com frete incluso.
Desse modo, o cenário aponta para um momento de queda de preços também aos produtores, mas a proporção disso ainda é incerta. Os laticínios sinalizam diferentes reduções de preços para o pagamento em outubro.
De acordo com agentes do setor, há uma tendência de queda de preços, mas que deve ocorrer proporcionalmente ao que o produtor vinha recebendo. Por exemplo, se um grande fornecedor estava recebendo um valor acima de R$ 1,00/l, provavelmente a redução será maior. No caso de pagamentos mais baixos, pode ocorrer uma redução menor nos preços. Fala-se em redução desde R$ 0,05/l até quase R$ 0,20/l para o pagamento feito em outubro (referente à produção de setembro).
De janeiro a agosto, o preço médio do leite aumentou 0,31/l ao produtor, segundo dados do Cepea.
Gráfico 2. Aumento de preços pagos aos produtores por estado entre janeiro e agosto, em reais por litro.
No entanto, mesmo com a tendência baixista, há um fator que vem alarmando o setor e pode segurar a queda de preços do leite nos próximos meses: a estiagem do Sudeste e Centro-Oeste. A falta de chuvas nessas regiões está prejudicando a produção de pastagens. Aliado a isso, o maior fornecimento de alimento para o gado (normalmente utilizado nas épocas mais secas do ano) está acabando em muitas propriedades.
Tendo em vista que mesmo com a chegada das chuvas nessas regiões a produção de pastagens começa a ser satisfatória depois de aproximadamente 30 dias, espera-se que haja um "vácuo", até o início da safra, e neste período haja ainda uma redução de oferta de leite.
Há indício inclusive de alguma recuperação nos preços do longa vida, o que sinalizaria uma possível recuperação nas cotações, ainda incerta.
Também, não se pode ignorar que os preços mais altos de milho e soja encarecem os custos com alimentação e, em situação de queda de preço de leite, tendem a ser diminuídos nas dietas, reduzindo a produção. De acordo com dados do Cepea, o preço do milho no atacado de Campinas (SP) ficou, em média, a R$ 26,91/sc de 60kg no início de outubro (até o dia 5), valor 57,3% superior à média do mesmo mês do ano passado.
No caso da soja, no início de outubro a média do Cepea foi de R$ 39,35/sc de 60kg no atacado do Paraná, o que representa um aumento de 29% frente à média de outubro de 2006.
O volume de leite produzido no Sul, segundo agentes de mercado, não deve aumentar, mas a oferta pode seguir relativamente elevada na região em função das chuvas em diversas regiões produtoras, principalmente no estado do Rio Grande do Sul.
Para novembro, agentes do setor não acreditam em quedas acentuadas de preços, tendo em vista o cenário que pode ponderar essa tendência de redução. O mercado ainda dependerá dos fatores climáticos, que definirão a oferta de leite nacional.
O fato é que mesmo que o cenário não seja tão bom para outubro, os valores do leite ainda têm chances de serem sustentados pela estiagem nas principais bacias leiteiras, além do custo de produção mais altos. É comum ouvir falar que os preços do leite, mesmo mais baixos que os observados nos últimos 2 meses, fiquem acima dos obtidos no ano passado. Há quem aponte que chegaremos a dezembro com os preços de julho.
No mercado internacional, os preços do leite em pó recuaram levemente na primeira quinzena de outubro na Europa. Em contrapartida, tiveram pequeno aumento na Oceania. O leite em pó integral ficou em média a US$ 5.525/t na Europa e US$ 4.850/t na Oceania no período. No entanto, alguns agentes aqui no Brasil reportaram dificuldade em manter os valores anteriores nos novos contratos.
De acordo com dados da LTO Nederland, o leite pago ao produtor na Nova Zelândia e Nos Estados Unidos houve um leve recuo de preços entre julho e agosto, enquanto na Europa teve novo aumento.
Gráfico 3. Evolução dos preços do leite pagos ao produtor, em dólares por quilo.