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Pecuária leiteira superando crises!

PANORAMA DE MERCADO

EM 11/03/2005

7 MIN DE LEITURA

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Por Maurício Palma Nogueira1, Cristiane de Paula Turco2 e Gabriela O. Tonini2

Recentemente, em artigo publicado na Revista Agroanalysis, editada pela FGV, a Scot Consultoria fez um balanço resumido dos fatos da década de 90 e das perspectivas para 2005. Com base neste estudo, e nos recentes debates sobre custos de produção da pecuária leiteira, optou-se por adaptar o estudo dando ênfase à forma com que o produtor vem lidando com a crise vivida nos últimos quase 15 anos.

É fato que o produtor de leite acabou pagando caro para continuar na atividade ao longo da década de 90. Durante todo o período, os preços caíram sem que os custos se reduzissem na mesma proporção.

Empresas empobreceram pela incapacidade de reinvestir seus bens de capital, numa época em que os investimentos, o aumento de tecnologia e a profissionalização eram exigências para sobrevivência dos empresários.

É fato que todas as atividades rurais sofreram impacto com a competição que se acirrou na década de 90. O mercado estava aberto, o Mercosul era uma realidade em crescimento e a paridade do Real frente ao Dólar durou de 1994 a 1999. Porém, no leite, outras mudanças foram traumáticas.

A desregulamentação do mercado mostrou a inabilidade competitiva de grande parte da indústria nacional, especialmente das de pequeno e médio porte, cooperativas na maioria. Com as empresas despreparadas, a modernização do comércio e dos hábitos dos consumidores, ficou impraticável o investimento em modernização, marketing e troca nas linhas de produção.

O consumidor mudou de hábito, um reflexo da mudança da estrutura familiar nos últimos anos.

Estudo da Latin Panel, instituto de pesquisa, concluiu que o consumidor, em média, vai 1,4 vez por semana às compras. Parte representativa dos consumidores chega a ir 1 vez a cada 15 dias, enquanto o grupo que mais se desloca ao varejo compra cerca de 3,3 vezes por semana.

Sendo assim, era natural que os consumidores passassem a procurar pontos de vendas que oferecessem praticidade, facilidade e diversidade. Quem oferecia isso eram os supermercados.

Estima-se que apenas 20% das compras de varejo eram realizadas em redes de supermercados até o final da década de 80. Ao final dos anos 90, cerca de 85% a 90% das vendas do varejo estavam concentradas nas grandes redes.

Pesquisa da FGV Consulting, encomendada pela Fiesp, aponta para concentração de 69,9% do faturamento do setor em cinco redes varejistas. A Apas, Associação Paulista de Supermercados, aponta que apenas 30% a 40% das vendas estão nas mãos dos dez maiores.

Com o fortalecimento dos supermercados, e consumidores indo cada vez menos às compras, o setor leiteiro precisava de um produto moderno, melhor apresentável e que durasse mais tempo nas residências.

As indústrias brasileiras, posicionadas no leite pasteurizado em saquinho, não tinham condições de modernizar a apresentação. Faltavam recursos e a qualidade da matéria-prima no Brasil era sofrível, pois nunca se investira em qualidade do leite, salvo em algumas poucas regiões com pecuária mais avançada.

Sendo assim, o produto que as empresas apresentavam não atendeu mais às exigências dos consumidores. Quem ocupou o espaço deixado foi o leite longa vida, cuja participação no mercado de leite fluído saiu de 4% para os atuais 74%.

Somente as grandes empresas estavam capitalizadas, mesmo nacionais, que se posicionavam em produtos de maior valor agregado, e as multinacionais com mais fôlego e maior facilidade na captação de recursos. A maior parte das que se posicionavam apenas no leite pasteurizado não tinha condições. A crise foi inevitável.

Com a indústria em crise, os preços aos produtores foram significativamente reduzidos durante todo o período, quando se consideram os valores reais, ou seja, quando se considera a inflação no período. Observe, na figura 1, a série de preços dos últimos 10 anos, em valores reais, deflacionados pelo IGP-DI.

 


Em valores reais, os preços médios do leite de 2004 foram 38% inferiores aos preços médios de 1991, início da década de 90. O auge da crise de preços ocorreu exatamente na virada de 2001 para 2002, quando se registrou o menor preço real do leite. Em valores atuais, o menor preço em São Paulo foi R$0,42/litro nos meses de novembro e dezembro de 2001.

Diversos analistas acreditam que as análises não devem considerar o IGP-DI como índice para comparar os valores do leite. Teoricamente, os custos de produção aumentariam em proporções inferiores ao índice.

Pois bem, o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) é calculado mensalmente pela FGV. Instituído em 1944, tem a finalidade de medir o comportamento de preços, em geral, da economia brasileira. É uma média aritmética, ponderada dos seguintes índices:

- Índice de Preços no Atacado (IPA), que mede a variação de preços no mercado atacadista. O IPA pondera em 60% o IGP-DI.
- Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a variação de preços entre as famílias que recebem renda de 1 a 33 salários mínimos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. O IPC pondera em 30% o IGP-DI/FGV.

- Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando, no caso, tanto materiais como também a mão de obra empregada no setor. O INCC pondera em 10% o IGP-DI.

Para utilizar os índices de inflação, os institutos determinam um mês padrão como "base", ou seja, índice 100. No caso do IGP-DI, o mês base (igual a 100) é agosto de 1994.

Visando checar se realmente os custos da pecuária leiteira não acompanharam o IGP-DI, a Scot Consultoria comparou a evolução dos valores de alguns dos principais insumos usados na pecuária leiteira, do leite e do IGP-DI. Estes insumos foram os fertilizantes, concentrados protéicos, concentrados energéticos e diesel. As variações para cada item foram calculadas com base em diversos produtos, sempre optando pelos mais demandados.

Estabeleceu-se, para todos, o mês de agosto de 1994 como índice 100. A partir daí, através da evolução dos preços, os valores foram sendo corrigidos, tal qual é feito com o IGP-DI.

Os preços dos insumos são FOB (para retirar) e referem-se às cotações de mercado levantadas pela equipe da Scot Consultoria, ao longo destes últimos anos. Observe, na figura 2, a evolução dos índices IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, do leite e dos insumos, montados pela equipe Scot Consultoria.

 


Na tabela 1, estão os valores do índice no início da análise, agosto de 1994, até o final, dezembro de 2004.

Tabela 1: Índices comparados do IGP-DI no início, em 1994, e no final da análise, em dezembro de 2004

 


Observe, que em todo o período, o reajuste nos preços do leite em São Paulo foi apenas 54% do reajuste do IGP-DI. No caso dos insumos, apenas os concentrados protéicos ficaram abaixo do IGP-DI. Mesmo assim, todos superaram a evolução do preço do leite.

Os números são incontestáveis. O setor leiteiro passou por crise acentuada neste período e apenas quem foi capaz de suportá-la chegou ao início do século XXI com saúde para continuar na atividade.

Os custos de produção leiteira aumentaram consideravelmente em proporções bem maiores que a inflação medida pelo IGP-DI. Tal comportamento levou à conclusão de que a produção de leite com tecnologia era inviável. Sendo assim, a solução seria a produção extensiva. De fato, sem aplicar insumos, que aumentaram acima da inflação, a impressão é de que o custo de produção era mais baixo.

Evidentemente que não entra a remuneração da terra e dos bens de capital nestes cálculos. Muitos, na verdade, não consideravam nem as depreciações e remunerações do trabalho do próprio empresário. O que gastar é custo, o que sobrar é lucro.

Em longo prazo, essa postura é prejudicial aos produtores, às indústrias, aos consumidores e ao país como um todo. O mau uso da terra e a pouca aplicação de tecnologia são os maiores inimigos da criação de empregos e da proteção ambiental.

Ainda assim, grande parte dos empresários continuou buscando soluções para os seus problemas e avançaram com o processo tecnológico. Atualmente, a pecuária trabalha com melhor nível de tecnologia, maior conhecimento técnico e maior eficácia na aplicação de tais conhecimentos.

Para conseguir produzir leite a custos abaixo dos R$0,80/litro - valor que seriam os custos atuais caso os de 10 anos atrás tivessem acompanhando a inflação pelo IGP-DI - o produtor teve que aumentar a eficiência produtiva.

Sendo assim, em média, uma fazenda atual é significativamente melhor à de 10 anos atrás em termos de eficiência na utilização dos insumos e recursos disponíveis.

A pecuária leiteira também "subiu no bonde" da modernização do agronegócio.

___________________________________________________________________

1 Engenheiro agrônomo, Scot Consultoria
2 Médicas Veterinária, Scot Consultoria

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HENRIQUE L. COTTA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/03/2005

É disseminado por aí que o produtor deve encontrar o sistema que melhor se adeque a sua propriedade para obter a melhor lucratividade. Entretanto, artigos como esse que analisam o desenvolvimento econômico da pecuária leiteira em uma linha temporal maior deveriam ser mais desenvolvidos e disseminados pois poderiam antecipar e evitar a frustração de muitos novos produtores que tentam se aventurar na produção de leite.



A grande queda na produção paulista assim como o grande aumento da produção no centro oeste e norte do Brasil, com produções baseadas, respectivamente, em sistemas intensivos e extensivos de exploração, é a evidênica empírica do que descreve esse artigo.



Não é possível produzir com custos maiores que receitas por muito tempo. No longo prazo, mudanças significativas teriam que acontecer no mercado leiteiro. A migração da produção, a inclusão do boi branco em rebanhos de leite são apenas algumas delas. É necessário que, assim como em outros setores mais desenvolvidos da economia, o planejamento e as previsões econômicas passem a fazer parte do dia a dia dos produtores.



Não é concebível que um setor com a representatividade da pecuária leiteira no mercado agrícola se surpreenda com alterações e desvios "repentinos". Não temos que superar crises, temos que comemorar ganhos de lucratividade e o alcance de metas.



Henrique L. Cotta



<b>Resposta do Autor:</b>



Prezado senhor Henrique



Obrigado pela participação e pelos seus comentários.



De fato, o produtor precisa de informações reais do próprio negócio, do mercado e das perspectivas. Sem planejamento técnico e financeiro, dificilmente será possível comemorar ganhos de lucratividade e cumprimento de metas.



Um forte abraço e, mais uma vez, obrigado.



Maurício Palma Nogueira

engenheiro agrônomo

JOSÉ JOAQUIM OTAVIANO PIMENTEL

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/03/2005

Produção de leite a pasto com eficiência econômica envolve muita tecnologia. Não é só confinamento em Free Stall ou coisa parecida que significa tecnologia. Algumas "Tecnologias" tem levado muitos empresários que se aventuraram no leite à falência, pois em alguns casos nem sequer os custos operacionais são remunerados. Se não se remunera nem os custos operacionais, o que sobra então para remunerar o capital empatado, que é o grande argumento dos que defendem a intensificação, numa visão equivocada de que tecnologia e profissionalismo só existe com vacas produzindo 6 a 7 mil kg de leite por lactação?



Obrigado



<b>Resposta do autor:</b>



Prezado senhor José Pimentel,



Saudações!



Concordo com suas considerações. No entanto, no nosso caso, para usar fazendas reais nas análises comparativas, temos que lançar mão de empresas que usam rebanhos leiteiros. A maior parte do caso, em que há aplicação de tecnologia, os produtores têm adotado vacas especializadas para a produção leiteira.



Mesmo com vacas especializadas, o "free stall" não é essencial à atividade. Aliás, nos exemplos que tenho usado, poucas são as fazendas que possuem confinamento total ou "free stall". Apesar de ser preciso fornecer condições favoráveis às vacas, existem diversas formas criativas e comparativamente baratas de atender tais quesitos.



É uma questão de analisar o retorno de cada tecnologia e sua viabilidade para cada sistema de produção.



No caso das vacas, particularmente prefiro trabalhar com animais especializados mesmo que, em parte do ano, a produção seja a pasto.



Gosto de comparar tecnologia com a produção por hectare e não por animal, capim ou qualquer outro item por si só. Sendo assim, trabalhando com vacas menos adaptadas para a produção leiteira, há necessidade de se trabalhar com maiores lotações.



Também é viável e traz vantagens comparativas entre o outro sistema.



Enfim, qualquer sistema de produção que seja conduzido com tecnologia e que permita um bom aproveitamento da terra, pode ser rentável. Acredito ser inútil a velha discussão envolvendo sistemas de produção, etc. Cada caso é um caso. Portanto, novamente concordo com suas considerações.



Acredito também que a maior parte dos empresários que saíram da atividade por causa da tecnologia adotada, cometeram um ou outro erro: ou erraram na aplicação da tecnologia ou tentaram adotar sistemas de produção que não atendiam a sua realidade.



Muitos dos produtores desistentes do negócio leite saíram por outros motivos: menor rentabilidade comparativa, falta de perspectivas com a atividade e melhores opções para o uso da terra.



Nós mesmo, da Scot Consultoria, analisamos fazendas extremamente lucrativas que fecharam as porteiras antevendo problemas futuros. Num dos casos, o empresário disse querer sair da atividade por saber que iria sobrar apenas um comprador forte de leite na região.



Por isso que se pode afirmar que nem todos os empresários que abandonam a atividade são passíveis do mesmo diagnóstico.



Um grande abraço e obrigado pela participação.



Atenciosamente,



Maurício



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