Na minha época de infância (e lá se vão vários anos...!), no futebol de rua existia uma expressão que era “Fulaninho contra a rapa”: normalmente o Fulaninho era, de longe, o maior jogador de bola do quarteirão e, eventualmente, disputava a partida de futebol jogando sozinho “contra a rapa”, um grupo de 3 ou 4 pernas de pau que nunca conseguiam ganhar do Fulaninho, apesar de ele jogar sozinho. O “Fulaninho” em questão era soberano, habilidoso, poderoso, o dono do jogo...!
Trazendo esta imagem para o nosso mercado lácteo, o “Fulaninho” poderoso, que joga sozinho contra toda a cadeia produtiva e controla absoluto o jogo, é o consumidor final, aquele que paga a conta, dá as cartas e, no limite, define os movimentos de mercado.
O fato é que os preços dos derivados lácteos ao consumidor final carregam este ano uma forte inflação que, certamente, tem “ajudado a atrapalhar” o consumo.
Os gráficos 1, 2 e 3 comparam os preços nominais (sem descontar a inflação) do leite UHT, da muçarela e do leite em pó fracionado (as 3 principais commodities lácteas do nosso país) no mercado varejista da cidade de São Paulo e mostram um pouco melhor do que estamos falando aqui.
Assim, os preços dos lácteos ao consumidor final estão mais altos este ano do que no ano passado; somente olhando os preços do mês de junho, o UHT carrega uma inflação de 15% em relação a junho de 2020, a muçarela de expressivos 31% e o leite em pó fracionado (em lata e ou sachet) de 12%.
Assim, este ano, o nosso craque, o consumidor final, soberano que paga a conta e controla o jogo do mercado do leite, enfrenta a ainda persistente pandemia (neste caso, o aumento da velocidade de vacinação poderá ajudar a reduzir seu impacto e aumentar a taxa de reabertura das atividades), quase 15% de taxa de desemprego, uma economia claudicante que começa, lentamente, a dar sinais de recuperação (o mercado financeiro projeta um crescimento razoável da economia nos próximos 2 trimestres – será ele revertido em consumo?) e, adicionalmente, uma inflação considerável nos preços dos principais produtos lácteos. Não será fácil bater o “Fulaninho” nesta peleja...!
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