As regiões de maior destaque e representatividade na produção de leite no Brasil são as regiões Sul e Sudeste. Entretanto, outras regiões, como o Nordeste, vêm passando por transformações que evidenciam novos caminhos e oportunidades de crescimento para o leite brasileiro.
Abaixo, podemos observar a representatividade de cada região na captação formal de leite no Brasil em 2022 – com o Nordeste representando cerca de 7,8% do volume total.
Gráfico 1. Proporção por região da captação formal de leite no Brasil em 2022
Fonte: IBGE (Pesquisa Trimestral do Leite) - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Entretanto, ao analisar os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal, contabilizando a produção total (leite formal e informal) observamos uma maior representatividade do Nordeste no leite brasileiro - superando a região centro-oeste.
Gráfico 2. Proporção por região da produção total de leite no Brasil em 2022
Fonte: IBGE (Pesquisa da Pecuária Municipal) - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Avaliando os gráficos acima, percebe-se a importância do Nordeste na oferta de leite do Brasil (com cerca de 17% da produção). Além disso, os dados nos indicam a alta representatividade do “leite informal” na região. Enquanto na média brasileira a captação formal representa cerca 69% da produção total, no Nordeste somente 33% têm um destino formal – o que evidencia um grande volume de leite, que já é produzido, e que pode ter o caminho de processamento formal na indústria.
Gráfico 3. Proporção da captação formal em relação a produção total de leite
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Um dos fatores que colaboram para a grande representatividade do leite informal é o aspecto cultural do consumo de lácteos na região. Parte do leite da região, por exemplo, é destinado para o consumo de queijo coalho - que é produzido com o leite cru (conforme discutido neste artigo da Kennya Siqueira, da Embrapa) . Além disso, o produto é tradicionalmente vendido em feiras livres, fugindo do “caminho formal”.
Além do aspecto cultural, agentes do mercado lácteo citam as dificuldades logísticas, tanto para captação de leite como para distribuição dos derivados, como sendo outros entraves que dificultam os trabalhos na região.
Somados a esses fatores, aspectos econômicos - como renda e emprego - também são desafios para o mercado lácteo da região. Abaixo, podemos ver que o Nordeste é a região com menor rendimento médio dos trabalhadores e maior taxa de desemprego.
Gráfico 4. Taxa de desemprego por região - 3º trimestre de 2023
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Gráfico 5. Rendimento Médio do Trabalho - 3º trimestre de 2023
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Entretanto, apesar dos desafios mencionados, a região Nordeste vem apresentando um consistente crescimento na produção de leite, conforme discutiremos a seguir.
O crescimento da produção de leite no Nordeste
Os 2 últimos anos foram de diminuição da produção de leite em todas as regiões do país, certo? Errado. Pelo menos, não para a produção Nordestina.
No gráfico abaixo, podemos observar a variação anual de produção total de leite em todas as regiões do país. Enquanto as demais regiões apresentaram variações negativas, o Nordeste vem apresentando crescimento.
Gráfico 6. Variação Anual da Produção de Leite
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Se dermos um “zoom out”, vemos que essa tendência não foi pontual somente em 2021 e 2022. Nos anos anteriores, o Nordeste já vinha com uma crescente consistente.
Gráfico 7. Índice de Crescimento da Produção de Leite (2010 = 100)
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Portanto, vemos que além de ter uma importante representatividade na produção total de leite (17% - conforme o gráfico 1), o Nordeste vem apresentando um crescimento nos últimos anos acima da média de todas as demais regiões do país.
A geografia do leite Nordestino
Dentre as principais regiões produtoras de leite no Nordeste, o estado da Bahia destaca-se como sendo o de maior volume de produção (com cerca de 1,3 bilhão de litros), conforme mostra o gráfico 8.
Gráfico 8. Produção de leite nos estados do Nordeste em 2022- litros.
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Dentre as mesorregiões, destaca-se a produção no Agreste Pernambucano, que é mais que o dobro da 2º colocada.
Gráfico 9. Produção de leite nas mesorregiões do Nordeste em 2021 - litros.
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Gráfico 10. Densidade de produção de leite por município em 2022
Fonte: IBGE - elaborado pelo MilkPoint Mercado
Além de ser a mesorregião com maior produção, o Agreste Pernambucano também foi a região que mais cresceu, em volume de leite, de 2010 a 2022. Junto ao Agreste Pernambucano, destacam-se também as regiões de Jaguaribe-CE e Sertão Sergipano-SE, com crescimento anual acima de 200 milhões de litros na produção de leite dos últimos 12 anos.
Tabela 1 - Crescimento da produção de leite das 10 principais mesorregiões do Nordeste (2022 vs 2010)
Mesmo ainda sendo um “importador” de leite de outras regiões do país, vimos que o Nordeste vem tendo um forte crescimento na produção de leite. Não é por acaso que muito se fala no mercado lácteo sobre a criação de novos projetos, de fazendas e indústrias de leite na região – como o recente investimento do IFC no grupo Alvoar Lácteos.
Desafios à frente
Apesar do forte crescimento da produção de leite, a região nordeste deve sofrer maiores adversidades à frente para continuar ampliando sua produção, principalmente em decorrência do fenômeno climático El Niño, que provoca maior escassez de chuvas na região. Abaixo, podemos observar a precipitação acumulada nos últimos 90 dias e a previsão de armazenamento de água no solo, de acordo com o INMET, que ilustram justamente esse desafio climático enfrentado pela região Nordeste.
Imagem 1. Precipitação acumulada nos últimos 90 dias
Fonte: INMET – retirado no dia 13/12/2023
Imagem 2. Previsão de armazenamento de água no solo (%) para dezembro de 2023, considerando capacidade de água disponível (CAD) de 100 mm
Fonte: INMET – retirado no dia 13/12/2023
Em conclusão, as regiões Sul e Sudeste deverão continuar sendo os principais expoentes da produção de leite no Brasil. Entretanto, à medida que os desafios citados (como: informalidade da produção, logística, renda e clima) forem superados, o leite nordestino poderá crescer ainda mais e abrir novas oportunidades para o setor.