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Milk quality mind set

POR LUIS FERNANDO LARANJA DA FONSECA

PANORAMA DE MERCADO

EM 11/10/2002

5 MIN DE LEITURA

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Nesta semana recebi os anais do último encontro regional do Conselho Nacional de Mastite (NMC) dos EUA. Ao passar os olhos sobre o índice, um artigo em especial me chamou a atenção, cujo título era "Melhores práticas de manejo para reduzir a CCS dos rebanhos". Muito mais do que a questão técnica intrínseca, me despertou a atenção um conceito desenvolvido pelos autores (Drs. Jeff Reneau, Ynte Schukken, Dave Wilson e Herman Barkeman) que deu origem ao título deste artigo e que poderíamos traduzir grosseiramente por "mente direcionada para a qualidade do leite". É este conceito que eu gostaria de discutir neste artigo. Mas antes de tudo eu gostaria de traduzir literalmente a conclusão do paper apresentado na reunião do NMC. Diz o texto: "A produção consistente de um leite com qualidade é dependente de uma atitude com qualidade e da aplicação com qualidade das práticas de manejo. O maior impacto resultará provavelmente no desenvolvimento de uma mente direcionada para a qualidade do leite, que pode ser obtida através de um programa equilibrado de duas variáveis. De um lado a educação dos produtores e incentivo dos mesmos via pagamento diferenciado por qualidade e, por outro lado, a pressão gerada por normas regulamentadoras oficiais e pela demanda crítica dos consumidores".

Pois bem, ao ler este trecho do paper, achei até que o mesmo tinha sido escrito para o Brasil. Em primeiro lugar gostaria de destacar que concordo integralmente com as colocações dos autores. Acho que a produção de um leite com qualidade é fruto de um processo que envolve duas grandes variáveis. Uma resultante de atitude espontânea e voluntária dos produtores desencadeada primeiramente por um desejo intrínseco de "fazer a coisa certa", sendo que isso exige a premissa de que o produtor saiba como fazer, ou seja, que ele detenha o conhecimento. Esta característica de "querer fazer a coisa certa",, pelo simples fato de se sentir satisfeito com as "coisas certas". Faz parte da índole muito particular de uma parcela das pessoas. E esta característica os autores do texto chamaram de atitude de qualidade. Ou seja, quando o produtor detém o conhecimento mínimo sobre como produzir um leite com qualidade ele irá fazê-lo pelo simples fato de que isto proporciona uma grande satisfação pessoal a ele. No entanto é difícil mensurar o parâmetro "atitude" num estudo científico p.ex., de forma a provar o quanto a "atitude positiva" contribui para a melhoria da qualidade do leite. No entanto, o Dr. Barkeman publicou um estudo (Journal of Dairy Science 82:1655-1666) no qual tentou quantificar o impacto do que ele chamou de estilo de manejo sobre a CCS do tanque. Nesse estudo ele classificou os produtores de leite em 2 grupos que poderíamos grosseiramente chamar de "dedicados" e "relaxados". Os produtores categorizados como dedicados se caracterizam por: usar anotações diárias na fazenda, trabalhar com roupas, botas e mãos limpas, sentir prazer em ordenhar as vacas, nunca começar as ordenhas atrasados, etc... Estes produtores em geral eram mais jovens, com um maior grau de instrução e possuíam bons controles e anotações zootécnicas do rebanho. Pois bem, nesse estudo 74% dos produtores considerados "dedicados" acabaram situando-se no grupo que apresentava a baixa CCS do tanque (CCS<150.000 cel/ml) enquanto que 73% dos produtores considerados "relaxados" se enquadraram no grupo que apresentava alta CCS (CCS = 250 - 400.000 cel/ml). Isso demonstra que ter uma boa atitude se reflete quase que automaticamente numa melhor qualidade do leite. No entanto, somente ter uma boa intenção ou uma boa atitude não resolve o problema, uma vez que é fundamental ter o conhecimento para canalizar corretamente a boa atitude. Por exemplo, um produtor de boa atitude pode se preocupar em manter a sala de ordenha muito limpa, as paredes pintadas, a grama e o jardim aparado e o uniforme de trabalho limpo, mas no entanto não utilizar o pós-dipping. Nesse caso a boa atitude não resultaria numa melhoria significativa da qualidade do leite. Isto reforça um ponto que tenho insistido nesta coluna: a necessidade de treinamento e educação dos produtores, pois sem isso, nem com boa vontade ou boa atitude (característica intrínseca e voluntária de muitas pessoas) se resolve o problema.

Bom, mas além disso, os autores do texto em que estou me baseando, reforçam também a necessidade de outro elemento estimulador do ato voluntário de buscar constantemente a melhoria da qualidade do leite. Trata-se do pagamento diferenciado por qualidade, ou seja, do estímulo financeiro. Este seria um estímulo importante e adicional para motivar o voluntarismo em prol da melhoria da qualidade do leite daqueles cidadãos que não possuem a característica inata e elogiável da boa atitude espontânea, ou seja, de fazer melhor pelo simples prazer e deleite em fazer melhor. Neste caso, o produtor se motivaria espontaneamente a fazer melhor em função de vislumbrar um maior retorno financeiro. O que é justo! Além disso a indústria de laticínios também estaria ganhando com um programa de pagamento desta natureza. Pois bem, este é o primeiro grupo de fatores que levam a melhoria da qualidade do leite, o dos fatores espontâneos.

Dentro da conclusão dos autores do paper, há um outro grupo de fatores que induzem a melhoria da qualidade do leite, formado por fatores coercitivos, repressivos ou regulamentados. Neste grupo temos dois elementos: a legislação que regulamenta a qualidade do leite e a pressão ou exigência do consumidor. Particularmente, eu julgo que o primeiro grupo de fatores, aqueles ligados à atitude espontânea dos produtores, gera um efeito mais significativo sobre a melhoria da qualidade do leite.

Analisando agora esse artigo sob a ótica da realidade brasileira, podemos dizer que temos caminhos a serem percorridos em ambos os grupos de fatores. No que se refere à questão da "boa atitude" dos produtores brasileiros, sem querer ser muito Rousseauniano, tenho certeza que temos um terreno fértil no universo dos produtores brasileiros, embora eu julgue que ainda há uma grande carência no que se refere à questão da educação e treinamento dos nossos produtores. Nesse mesmo sentido, estamos num processo acelerado de implantação de programas de pagamento diferenciado baseado na qualidade do leite, o que reforça e prescinde dos fatores motivantes em prol da melhoria da qualidade do leite. Por outro lado, dentre os fatores que eu arbitrariamente classifiquei como coercitivos, tivemos recentemente a homologação do PNMQL, que envolve uma nova regulamentação oficial dos parâmetros mínimos de qualidade para o leite brasileiro. Embora eu seja parcialmente cético quanto a sua efetiva aplicação, não dá para negar que essa nova portaria 56 impõe uma pressão regulamentadora sobre os produtores, que mesmo de forma não voluntária acabam se enquadrando nos nossos parâmetros de qualidade. E por fim, no que se refere à pressão final dos consumidores exigindo efetivamente produtos lácteos de melhor qualidade, acho que esta variável não é um fator significativo na cadeia láctea brasileira. Isto porque ainda temos um nível de consumo baixo, especialmente devido à falta de renda da população, fazendo com que estejamos ainda numa fase de demanda quantitativa, sem um critério qualitativo de seleção muito forte.

No próximo artigo daremos continuidade a este assunto, abordando as estratégias que podem ser utilizadas para termos a "milk quality mind set" uma epidemia regional.

LUIS FERNANDO LARANJA DA FONSECA

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ALVERINO OZELAME

ESPUMOSO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/10/2015

gostaria de parabenizar pessoas, que como você enalte-sem a qualidade do leite no brasil   ,porem gostaria que você levasse a público   a necessidade da quantificação de resíduo de antibiótico no leite, pois hoje apenas temos a identificação, o que traz muito prejuízo ao produtor, pois no Brasil existe legislação regulamentada a respeito de limiteis de tolerância. ex tetraciclina é até 100ppb(cem partes por bilhões) e os testes hoje descartam leite com 04ppb.gostaria da sua opinião a respeito disto.pois sou produtor de leite e tive leite regeitado pela industria com 04ppb de antibiótico de oxitetraciclina,tetraciclina e a legislação diz ser per metido até 100ppb

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