Os dados recém-divulgados pelas consultorias e centros de pesquisa que monitoram os preços de leite, referentes ao leite produzido em março, mostram que houve recuperação nos preços da ordem de 3,2% na média nacional (dados da Scot), ou 1,4% sobre a produção de fevereiro, atingindo cerca de R$ 0,46/litro, na média do país.
Há o risco, porém, desse movimento refletir águas passadas. As expectativas em torno de seguidos aumentos nos preços de leite parecem perder força à medida que passamos por abril e entramos em maio. Apesar da notícia publicada no dia 02 de maio, sobre as expectativas de aumento de quase 3% nas cotações de leite no Paraná, para a produção de abril, o fato é o quadro médio mais provável é de estabilidade ou, na melhor das hipóteses, leve aumento, coisa de um centavo, comportando logicamente variações regionais e individuais.
Várias são as razões para essa situação. De um lado, as vendas são tidas como fracas. Na última quinzena de abril diversos laticínios reportaram dificuldades na comercialização de leite longa vida e queijos, que acabam balizando os preços para o produtor. A impressão que se tem, hoje, é que as altas nos preços de atacado atingiram, pelo menos momentaneamente, um teto. Os dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) indicam queda de 4,83% nas vendas (dados totais, não só lácteos) do primeiros semestre em comparação ao mesmo período de 2005, em valor real. Ainda que haja o efeito da Páscoa, que nesse ano caiu no segundo trimestre, o fato é que há reclamações a respeito das vendas para o atacado, que refletem a situação do varejo, de forma a representar uma pressão signficativa.
Como já comentado por aqui, o câmbio, em vez de caminhar para uma correção que muitos entendem como inevitável, teima em seguir pela direção contrária, abaixo de R$ 2,10 e enterrando a viabilidade econômica das exportações, que só se mantêm em função de contratos já feitos e, talvez, pela necessidade de girar as fábricas, razões que tendem a perder força com o tempo.
Para finalizar o quadro, vale a pena lembrar que outros setores do agronegócio estão em situação bem pior do que o leite, entre eles a bovinocultura de corte, a produção de grãos e a avicultura, com os riscos da gripe aviária. Nesse cenário, apesar dos picos de preços estarem ao redor de R$ 0,10 por litro menores do que o que foi verificado no excelente primeiro semestre de 2005, os custos estão menores e, para muitos produtores, não há atividades alternativas com a mesma capacidade de geração de receita. Aliado a esses aspectos está o fato das inaugurações de novas fábricas em Goiás, Minas Gerais e o anúncio de grandes plantas no RS, que geram expectativa favorável e contribuem para o aumento da confiança na atividade.
Esses fatores exercem pressão contrária a auto-regulação da produção de leite que seria normal em função da atratividade ser menor do que no ano passado. Ótimo, não está, mas tem gente bem pior, é raciocínio que se faz. Com isso, a produção deve novamente crescer nesse ano, embora certamente menos do que em 2005. O aumento da produção, ainda que entre 3 e 5%, como apontam os principais analistas, sem a possibilidade de exportação do excedente, acaba colocando pressão sobre a quantidade ofertada.
É cedo para considerar o cenário como definitivo, mas nossa análise coincide com o que colocou Paulo Martins em sua última Conjuntura.
Há que se considerar que começa a seca no Centro-Sudeste e o aumento do salário mínimo. Também, sempre existe a chance do dólar se elevar nos próximos meses (pelo menos é o que se deseja). No entanto, a dica mais sensata aqui é a de colocar "o gato no telhado" para os próximos dois meses. Nesse curto período, embora talvez a maior distância que se pode enxergar com pouca chance de erros, dada a conjuntura incerta, a perspectiva é de estabilidade, cabendo nesta classificações pequenas variações para mais ou para menos nos preços.