Maurício Palma Nogueira
Deixando de lado estes argumentos cansativos de que a "globalização é algo imposto pelos países ricos para minar os países pobres", a globalização apenas interessa às multinacionais em detrimento das sociedades" e todos aqueles blás, blás, blás dignos de Bové, analisemos o caso do Brasil, e sua agricultura, para entrada na Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
A Globalização é fato, economicamente natural na medida que se avança a tecnologia de informação, transporte, intercâmbio cultural, enfim, o mundo fica relativamente menor. Portanto, não adianta, em sã consciência, adotar uma postura anti-globalização e achar que está se defendendo. Quem não conviver e não aprender a lidar com a globalização vai ficar para trás. Isso vale para governos e iniciativa privada.
Pois bem, os representantes brasileiros, incluindo o Presidente do País, partiram para o Canadá munidos de argumentos para participar das reuniões de Cúpula das Américas, onde o tema principal é a Alca.
Vários interesses entre os países estarão em conflito e dentro dos países vários setores também deverão se contrapor. Para se ter uma idéia de como funcionam as negociações, basta lembrar da vergonhosa retaliação canadense questionando a qualidade da carne brasileira.
Entre o Nafta (bloco norte: EUA, Canadá e México) e o Mercosul (bloco sul) a discussão já se inicia em torno das aberturas comerciais. O primeiro quer no máximo até 2005. Já para o segundo, liderado por Brasil e Argentina, há o interesse de que no mínimo a abertura ocorra em 2005. Pela ordem natural das negociações, pode-se esperar que próximo do ano 2005, as Américas do Sul e do Norte estejam reunidas em um único bloco econômico, sem barreiras tarifárias para comercialização.
Evidente que os EUA preferem agilizar o processo. Eles estão preparados!
Isto explica as exaltados revoltas anti-EUA, cujo maior símbolo é a destruição de Mc Donald´s pelo mundo todo.
A discussão não deve ser entrar ou não no mercado globalizado, mas sim como entrar no mercado globalizado. Como se defender do protecionismo, explícitos ou implícitos, de outros países.
A discussão não pode, de maneira alguma, parar nas barreiras tarifárias. O Brasil deve ir além: questionar subsídios de qualquer origem para qualquer produto.
Temos constantemente relatado o aumento de subsídios para o produtor norte americano. Em 2000 estima-se que os subsídios para o agricultor norte-americano tenham ultrapassado os US$32 bilhões. Só os subsídios norte americanos correspondem a 75,3% do valor total da produção agropecuária brasileira no ano 2000, estimada em R$78,52 bilhões pela CNA, ou US$42,9 bilhões (média da cotação do dólar comercial venda diário em 2000). Isso sem contar os preços que eles recebem pelos produtos. Segundo o professor Marcos Jank, 50% da renda líquida dos produtores norte- americanos são provenientes de subsídios.
Segundo o Ministro da Agricultura, Vinícius Pratini de Moraes, e alguns diplomatas brasileiros, os americanos, apesar de insistirem na Alca, desejam manter inalterada sua política agrícola, que é totalmente inviável dentro de uma área de livre comércio.
Apesar de tanto os envolvidos como o Presidente da República estarem munidos de argumentos contra a política de subsídios, dá-se muita atenção à soja, cujos subsídios norte americanos atingiram US$3,3 bilhões em 2000, mais de 10% do total destinado ao agricultor dos Estados Unidos. Não esqueçamos dos demais produtos agropecuários, em especial o leite e a carne, foco de maior interesse aos leitores deste veículo de informação.
Para entrar na Alca, o Brasil precisa "bater o pé", lembrando sempre da sua importância econômica no contexto mundial. Somos um grande mercado. A pequena desavença com o Canadá mostrou que o Brasil tem força. O Brasil não deve ceder nas negociações, deve ser duro e exigir condições iguais de competição para, a partir daí, expor seus agricultores, pecuaristas, empresários, agroindustriais e outros a uma concorrência de economia de mercado.
Além da necessidade de endurecer nas negociações, é indispensável que se mantenha um sistema de informações ágil e confiável sobre a política agrícola de nossos "parceiros" no bloco, desde a Patagônia até o Alasca. Existem várias formas de subsidiar e aumentar artificialmente a competitividade. Deve-se ter a capacidade de identificar, denunciar e exigir, de maneira ágil, medidas cabíveis caso algum termo negociado não esteja sendo respeitado. Esta briga é para "gente grande".
Sun Tzu (ou Sun Wo), autor de "A Arte da Guerra", já ensinava há 25 séculos atrás que a necessidade de informação é vital para o sucesso em qualquer embate bélico ou diplomático. "Se você se conhece e conhece ao inimigo, não precisa temer o resultado de uma centena de combates" (Sun Tzu).
Seria coincidência que geralmente nos pegamos analisando números do USDA (Departamento da Agricultura do Estados Unidos) para conhecer nosso próprio país? A informação é a chave para qualquer negócio e essa não é uma máxima descoberta recentemente.
A globalização, a Alca e qualquer outro grupo de importância comercial mundial não prejudicará o produtor brasileiro, caso o país não entre despreparado. Conforme já comentado, o que não se pode, em hipótese alguma, é entrar em um mercado com absurda vantagem unilateral, e pior, para o outro lado.
Os países ricos estão preparados e farão de tudo para defender seus interesses. Cabe ao Brasil saber traçar as prioridades, negociar duramente, manter-se informado (interna e externamente) e tomar decisões quando necessário e não haverá porque temer a Alca.
Neste momento, é o que se espera dos representantes eleitos e das entidades de classe da agricultura, que devem pressionar quem tem poder de decisão. O futuro de uma economia que pode crescer e de inúmeros empregos estão em jogo.
Caso nossos representantes sejam incompetentes para defender nossos interesses, a Alca trará consigo duras crises para grande parte da economia nacional, principalmente a agrícola.
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