Com o consumo de lácteos em desaceleração no mundo, os preços estão cedendo no exterior, e o movimento pode ter impacto positivo — mesmo limitado — para os importadores brasileiros.
O preço médio da tonelada de produtos recuou 5% em agosto, para US$ 3,9 mil, na plataforma neozelandesa Global Dairy Trade (GDT), uma referência para as cotações internacionais do segmento. Foi a quarta queda consecutiva.
O preço da tonelada de leite em pó integral ficou em US$ 3,5 mil na GDT neste mês, com queda de 6,1% em relação à rodada de negociações de julho. Segundo analistas, os valores voltaram aos patamares praticados no início de 2021.
O produto seguia em forte alta desde o ano passado por causa da menor oferta por parte de países produtores. “A contração de oferta de leite no mundo ocorreu por três trimestres seguidos, algo que não se via há dez anos”, disse Andrés Padilla, analista sênior do Rabobank no Brasil.
O pico de preços ocorreu em março deste ano, quando o leite em pó valia US$ 4,7 mil a tonelada. Segundo analistas, a tendência do GDT acabará refletida nas negociações de compra de importadores brasileiros — o “delay” pode variar entre um a três meses. O efeito não é imediato porque os brasileiros não costumam comprar diretamente dos neozelandeses, os maiores fornecedores globais, e também da GDT.
Importações brasileiras
O Brasil importa dos vizinhos argentinos e uruguaios — importantes exportadores, que já vêm praticando preços competitivos — porque não há cobrança da tarifa externa comum (TEC), de 28%. Em algum momento, porém, os vizinhos acabam seguindo a tendência internacional, à medida que novos contratos vão sendo precificados a partir dos rumos ditados pela lei de oferta e demanda global. “Com o consumo mais frio, sobra mais leite também na Argentina e no Uruguai”, afirmou Valter Galan, sócio da consultoria MilkPoint Mercado.
O impacto do recuo de preços internacionais pode ter efeito para importadores brasileiros, mesmo que limitado. É que a baixa das cotações coincide com a entrada da safra de leite no Sul do Brasil, que ganha força a partir de agora. Ainda assim, a produção nas fazendas do país está mais baixa do que em anos anteriores, em decorrência de efeitos adversos do clima sobre os pastos e da alta dos insumos.
Com a menor oferta interna, as indústrias brasileiras — que importam cerca de 5% da demanda doméstica — reforçam compras externas de lácteos. Nos primeiros cinco dias de agosto, a média diária de importações brasileiras chegou a 798 toneladas de produtos, 24% acima da média diária de julho — e 71% a mais do que em agosto de 2021, segundo o MilkPoint.
Demanda chinesa
“A oferta vai melhorar no Brasil, mas gradativamente”, disse Padilla, do Rabobank. As cotações internacionais estão em queda neste momento, continuou, sobretudo porque a China, que lidera a importação global de lácteos, está comprando menos. O país asiático aumentou sua produção e, além disso, importações e consumo interno foram afetados por novos lockdowns e redução de movimento nos portos devido à covid-19.
Outra causa de pressão sobre os preços globais é o aumento da oferta de leite, que começa a reagir com o recuo de cotações de milho e soja, que compõem a ração animal. Padilla vê espaço para novas quedas de preços para o leite, mas o recuo esbarra num menor consumo global, afetado pela inflação.
As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela equipe MilkPoint.