Biscoitos “construtores de músculos”, smoothies que podem “reabastecer” e alimentos para o café da manhã “saciantes” geralmente dependem de proteínas para fazer tais alegações de marketing – mas não apenas qualquer proteína. Muitas formulações de alimentos possuem proteínas do leite, principalmente soro de leite, em um de seus muitos formatos.
A escolha da proteína é uma importante ferramenta de marketing do “poder” do produto. Infelizmente, os profissionais de marketing estão limitados em como podem comunicar isso porque os reguladores colocaram o tópico da qualidade e disponibilidade da proteína em segundo plano. Alguns argumentam que é hora de trazê-lo de volta à conversa.
“À medida que as manchetes proliferam em torno da necessidade de fornecer proteína para uma população global cada vez maior, surgiu o argumento comum de que as pessoas ao redor do mundo já estão consumindo mais do que precisam”, disse Paul Moughan, professor distinto da Massey University e também laureado do Riddet Institute, Fitzherbert Palmerston North, Nova Zelândia. “Embora isso possa ser verdade em termos de proteína total, infelizmente não é o caso quando se trata da ingestão de proteína disponível.”
“Uma criança na Índia, por exemplo, pode estar consumindo uma dieta fortemente baseada em cereais e tubérculos. A criança pode estar recebendo muita proteína, mas ainda pode ser fortemente deficiente em proteínas disponíveis e aminoácidos essenciais. Essa deficiência pode levar a um crescimento atrofiado durante a infância e fazer com que nunca atinjam seu verdadeiro potencial”.
Atualmente, o Índice de Aminoácidos Corrigido pela Digestibilidade da Proteína (PDCAAS) é usado para avaliar a qualidade de todas as proteínas. O índice se baseia nos tipos e quantidades de aminoácidos no alimento, bem como na digestibilidade geral. Os valores do PDCAAS variam de 0,0 a 1,0. O leite de vaca, caseína, soro de leite, ovos e proteína de soja possuem a pontuação máxima. A maioria das fontes de proteína vegetal tem valores muito mais baixos.
Moughan e outras autoridades em proteínas acreditam que o Escore de aminoácidos indispensáveis digeríveis (DIAAS, da sigla em inglês) é um ponto de referência melhor. A análise DIASS permite diferenciar as fontes de proteína pela capacidade de fornecer aminoácidos para uso pelo corpo humano. Também demonstra a maior biodisponibilidade das proteínas lácteas quando comparadas às fontes de proteína à base de plantas.
“Acho que o DIAAS é um método que fornece uma medida da qualidade da proteína que reflete a verdadeira digestibilidade de uma proteína”, disse Kimberlee Burrington, vice-presidente de desenvolvimento técnico do American Dairy Products Institute, em Elmhurst, Illinois. “Acho que isso poderia aumentar a reputação dos produtos lácteos como uma proteína de alta qualidade, mas, para ser sincera, não fizemos o melhor trabalho comunicando isso, mesmo com os altos valores de PDCAAS para proteínas lácteas.”
“Pesquias feitas com os consumidores mostram que a maioria deles não está ciente ou não é capaz de distinguir que as proteínas têm diferenças de qualidade. Usamos o painel de Informações Nutricionais para comunicar os gramas por porção de proteína, mas a única maneira de mostrar a diferença na qualidade da proteína é usando o % Valor Diário.”
O % Valor Diário para proteína é determinado usando o PDCAAS. Um iogurte contendo 10 gramas de proteína do leite pode ser considerado uma “excelente fonte de proteína”. Um produto vegano com 10 gramas de proteína de ervilhas e nozes provavelmente pode ser considerado apenas uma “boa fonte de proteína”. Sendo assim, esse produto não deve ser sinalizado como com 10 gramas de proteína por porção, pois isso é enganoso. Ao fazer ou sugerir qualquer alegação de conteúdo de proteína, a Food and Drug Administration exige a inclusão da % do valor diário.
“A maioria dos produtos que não afirmam nada sobre o nível de proteína do produto não mostrará nada na coluna % de valor diário”, disse Burrington.
Se o DIAAS fosse implementado, os produtos contendo proteínas de soro de leite seriam capazes de comunicar melhor seu valor. Infelizmente, já se passaram 10 anos desde que um relatório da Consulta de Especialistas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) recomendou o uso do DIAAS, mas ainda não foi implementado.
Os dados do relatório da FAO mostraram que o leite em pó integral tem uma pontuação DIAAS de 1,22, muito superior à pontuação DIAAS de 0,64 para ervilhas e 0,40 para trigo. Quando comparados com o isolado de soja mais refinado, os escores DIAAS de proteína láctea foram 10% a 30% maiores.
As proteínas lácteas têm uma alta pontuação DIAAS devido à presença de aminoácidos de cadeia ramificada, que ajudam a estimular a síntese de proteínas musculares. Cada proteína láctea tem mais aminoácidos de cadeia ramificada do que proteínas de ovo, carne, soja e trigo. A proteína de soro de leite, especificamente, é vista como de maior qualidade devido à presença de leucina, um aminoácido de cadeia ramificada responsável pela síntese muscular.
“Apoiamos fortemente a adaptação do DIAAS para medir a qualidade da proteína”, disse Peggy Ponce, diretora de inovação de produtos da Agropur, que tem escritórios nos Estados Unidos em Minneapolis. “Alimentos e bebidas estão sendo comercializados destacando os ‘gramas de proteína’ sem uma comparação significativa da qualidade da proteína. Uma vez que o DIAAS seja amplamente aceito, os desenvolvedores de produtos podem discernir o valor nutricional das proteínas nas formulações, o que levará a melhores escolhas do consumidor de alimentos e bebidas enriquecidos com proteínas. A educação do consumidor será uma parte crítica para garantir que eles entendam a alta qualidade nutricional das proteínas do leite e do soro de leite”.
O que está atrasando a implementação do DIAAS? Embora existam alguns na comunidade vegetal que se opõem ao DIAAS, um dos obstáculos mais significativos é o desenvolvimento e a implementação de um banco de dados de proteínas.
O Riddet Institute liderou um programa de pesquisa para abordar o fornecimento de proteína para dietas humanas. O programa é financiado por um consórcio de organizações comerciais de alimentos por meio da Global Dairy Platform.
A primeira etapa foi concluída. Esta etapa foi uma colaboração entre o Riddet Institute, a Wageningen University na Holanda, a University of Illinois Urbana – Champaign e a AgroParisTech na França. Os pesquisadores desenvolveram, padronizaram e validaram métodos baseados na população crescente para determinar a digestibilidade de aminoácidos para alimentos humanos. Os métodos foram aplicados em diferentes laboratórios em diferentes partes do mundo e obtiveram resultados consistentes, disse Moughan.
Eles agora estão trabalhando com a Universidade de Wageningen e a Universidade de Illinois para examinar a digestibilidade de várias fontes de proteína em uma forma consumida por humanos usando DIAAS. Será construído um banco de dados global de qualidade de proteína disponível abertamente, incluindo 100 fontes diferentes de proteína. As fontes de proteína serão de uma grande variedade de diferentes tipos de proteína, incluindo fontes de proteína comumente consumidas em países em desenvolvimento.
As informações são do Dairy Processing, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.