Cachorro, gato, chocolate, biscoito, leite e café. É nessa mistura que a Nestlé está apostando suas fichas para investir R$ 2,5 bilhões neste ano no Brasil, seu terceiro mercado, atrás de Estados Unidos e China.
No ano passado, quando faturou R$ 20,9 bilhões com os brasileiros, havia aplicado R$ 1,3 bilhão. Também neste ano, a maior empresa de alimentos industrializados do mundo tem dois problemas para resolver no país: a crise na Americanas, que lhe deve R$ 260 milhões, e a compra da Garoto, feita há 20 anos e que volta a ser avaliada pelo órgão antitruste.
O presidente da Nestlé na América Latina, Laurent Freixe, que esteve em São Paulo na semana passada e voltou à sede da companhia na Suíça na sexta-feira, disse que os recursos neste ano vão para as operações de alimentos para cães e gatos, chocolates, biscoitos, lácteos e cafés. O plano é aumentar a produção para abastecer o mercado interno e exportar.
O orçamento inicial desenhado para este ano previa investimentos de R$ 2 bilhões, já incorporando R$ 500 milhões que não foram gastos em 2022 pois algumas obras atrasaram. Mas, agora, o martelo foi batido em R$ 2,5 bilhões.
O Brasil é o maior mercado da América Latina para ração de animais de estimação. “São mais de 100 milhões de ‘pets’ no Brasil!”, disse Freixe, animado. Segundo dados da consultoria Statista, o Brasil tinha 140 milhões de animais de estimação em 2019. O plano da Nestlé é aproveitar o rebanho de gado no país para abastecer de insumos a produção de ração para cães e gatos.
Nesse segmento, com a marca Purina, a companhia vai aumentar a capacidade instalada da fábrica de Ribeirão Preto, de 180 mil toneladas/ano para 230 mil. Esta unidade da Nestlé já exporta parte de sua produção.
Também está sendo construída uma fábrica em Vargeão (SC) para produzir sachês para cães e gatos. Deve ser inaugurada em março de 2024, com ração úmida, e capacidade para 30 mil toneladas/ano. A ração seca deve começar a ser produzida cinco meses depois, em agosto.
Na divisão de chocolates e biscoitos, o plano também é ampliar a capacidade de produção. Mas em chocolates, em particular, a Nestlé tem um problema antigo para resolver no Cade: a compra da Garoto, feita há 20 anos. O negócio permitiu que a Nestlé, que tinha uma fatia de cerca de 30% do mercado brasileiro de chocolates, abocanhasse 55% em 2002, quando fechou o negócio. Dois anos depois, o Cade vetou a operação e a Nestlé levou o caso à Justiça. Agora, volta ao órgão antitruste.
Outro problema é a Americanas, que está em recuperação judicial e deve R$ 260 milhões à Nestlé, quase o triplo do débito a ser pago pela varejista à Mondelez, outra grande fabricante de chocolates.
Perguntado sobre o caso Americanas e o impacto nas relações com o varejo, Freixe respondeu que a Nestlé está assumindo uma postura de maior rigor, de não tomar tanto risco, em especial em um ambiente no qual o custo do dinheiro está caro. “O varejo no Brasil é dinâmico e complexo”, disse Freixe. A Nestlé, assim como outros credores, deve provisionar as perdas com Americanas no balanço deste ano.
No ano passado, a Nestlé faturou R$ 20,9 bilhões no Brasil - um salto e tanto em relação aos R$ 16,28 bilhões de 2021. A receita subiu porque a companhia aumentou preços, mas “o volume também cresceu”, disse Freixe. No mundo, a Nestlé subiu preços e perdeu volume.
O executivo ainda vê pressão de custos atrelados a matérias-primas, energia e despesas trabalhistas neste ano. Traça um cenário de inflação alta. Ele prevê uma melhora a partir do segundo semestre deste ano ou em 2024. O jeito, então, é ganhar produtividade.
Nessa linha, a Nestlé realocou sua operação de serviços administrativos na América Latina. A folha de pagamentos para a região, por exemplo, que era rodada no Brasil, passou a ser feita pela Nestlé do Paraguai. O custo nessa operação caiu 50%. “O custo do trabalho no Brasil é muito alto”, diz o executivo. Agora, a Nestlé no Brasil não “exporta” mais esse serviço para suas coligadas na região. Quem faz isso são os funcionários da multinacional em Assunção.
As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela equipe MilkPoint.