A combinação entre o período de entressafra na produção e a demanda adicional gerada pelo temor de que falte produto durante a quarentena levou os preços do leite e seus derivados a subirem nas prateleiras dos supermercados brasileiros.
Na primeira quinzena de março, o preço médio do leite longa vida subiu 2,3% no atacado, afirmou ao Valor Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria. “Esse é um período de preços historicamente mais altos de leite e derivados, mas esse aumento de agora resulta da combinação de entressafra e maior demanda”, disse.
A entressafra - período em que há menos disponibilidade de alimento para os animais - começa nos meses de março ou abril e vai até agosto na região central do país. Já nas regiões em que o inverno é chuvoso, como o Nordeste, e onde há oferta mais abundante de alimento, como o Sul, ela ocorre nos meses mais quentes, quando chove menos.
“No Rio Grande do Sul, a estiagem severa reduziu ainda mais a produção na entressafra e também a produção de grãos para alimentar os animais no período, aumentando o custo de produção e limitando a oferta”, destacou Ribeiro.
Segundo Valter Galan, analista da consultoria MilkPoint, essa coincidência entre menor oferta e maior demanda ocorre pouco antes de abril, que em geral é o período de menor produção do país, e em um cenário em que o clima já vinha prejudicando a produção.
Além disso, a recente valorização do dólar ante o real encarece as importações. “As importações estão em um patamar baixo e chegam ao Brasil a preços R$ 0,30 mais altos do que os valores médios atuais, ainda que as cotações internacionais estejam menores e o leite em pó integral tenha caído abaixo de US$ 2,8 mil a tonelada”, afirmou Galan.
Ele alerta que, diante da pandemia, alguns laticínios têm convertido produção que era voltado para o segmento de food service - alimentação fora do lar - para produtos de maior demanda, mas menor margem, como o leite UHT.
A francesa Lactalis, maior laticínio do país, direcionou todas as unidades não específicas para a produção de itens como leite em pó, longa vida, queijos e iogurtes. “Fizemos esse movimento até por uma demanda dos supermercados. As decisões têm sido avaliadas diariamente, mas ainda não há previsão de por quanto tempo essa mudança persistirá”, afirmou o diretor de relações institucionais da companhia, Guilherme Portella, ao Valor. A companhia tem 19 unidades e capta 2,5 bilhões de litros de leite por ano no Brasil.
Galan lembra que nem todas as empresas do segmento têm essa possibilidade. Alguns laticínios de menor porte focados no food service já sinalizam que vão interromper a coleta de leite de seus fornecedores a partir de 1º de abril. E, como as pessoas já ampliaram seus estoques, as compras no varejo também deverão arrefecer.
“Começamos 2020 esperando uma retomada das margens das indústrias, mas tudo indica que será um ano difícil”, disse Galan. E isso apesar das altas recentes, que tendem a perder força. Ele calcula que, antes da pandemia, as indústrias vendiam o leite a R$ 2,50 por litro, enquanto agora o valor subiu para R$ 3,16. Ainda que os preços estejam mais elevados, os custos também cresceram. A ração subiu 14% com os grãos mais caros, disse Galan.
As informações são do Valor Econômico.