As técnicas agrícolas globais estão, cada vez mais, sob pressão. Uma variedade de fatores – crescimento populacional, tensões geopolíticas, mudanças climáticas, mudança no comportamento do consumidor e muito outros – estão pressionando os limites da produtividade agrícola mundial.
Apesar dos enormes avanços em tecnologia nas últimas décadas, o agronegócio permanece ineficiente globalmente, baseado em cadeias de abastecimento disfuncionais que são inadequadas para atender à demanda crescente. Em nenhum lugar isso é mais verdadeiro do que no setor de laticínios.
Ineficiências e risco
A produção global de laticínios está repleta de ineficiências, exacerbadas pelas restrições da economia pandêmica. A redução dos volumes de vendas pressionou as margens, forçando os produtores a conter ainda mais os custos, enquanto a incapacidade de distribuir alimentos globalmente durante esse período demonstrou a importância da produção local.
Além do mais, uma forte dependência do trabalho manual afetou negativamente as fazendas cujas forças de trabalho enfrentaram restrições à mobilidade. Os benefícios ambientais da redução de viagens e consumo durante a pandemia só vão aumentar o desejo por produtos mais frescos produzidos de forma local e com sustentabilidade.
Veja o exemplo da Ucrânia: apesar de ser considerada o segundo maior país da Europa, as cadeias de abastecimento de lácteos apresentam resultados aquém do ideal. A produção de leite na Ucrânia está estruturada predominantemente em torno de fazendas leiteiras de pequeno porte. São elas que produzem mais de dois terços do leite do país – produzindo pequenos volumes de leite, que vendem para processadores por menos de US$ 0,40 por litro.
Há uma constante escassez de oferta e margens baixas, o que leva a uma falta crônica de investimento em infraestrutura, agravando ainda mais os problemas.
Consequentemente, apesar de ser 97% autossuficiente em leite, dos 9,7 bilhões de litros produzidos, apenas 3,7 bilhões de litros são processados.
Integração é a chave para resultados
A pecuária leiteira integrada em grande escala oferece uma solução para a ineficiência e o risco da cadeia de abastecimento. Seu objetivo é produzir leite da mais alta qualidade com o menor custo por litro, usando o princípio da integralidade e gerenciamento centralizado para gerar o máximo de economia de escala.
Esta abordagem fornece produtividade, segurança e procedência "do pasto ao copo" na fabricação e entrega de produtos lácteos. Uma fazenda produz o volumoso, que alimenta as vacas. Outra fazenda produz, processa e distribui o leite, controlando toda a cadeia de abastecimento e garantindo uma produção eficiente, lucrativa e sustentável.
O planejamento eficiente é vital. A localização da fazenda forrageira o mais próximo possível da fazenda leiteira reduz os custos logísticos e aumenta as margens.
Tecnologia e escala
A inovação tecnológica é uma característica fundamental da agricultura integrada, com a agricultura em grande escala tipicamente centrada na padronização, mecanização e no contínuo melhoramento genético do rebanho leiteiro. Processos automatizados – como monitoramento e alimentação das vacas – ajudam a substituir o trabalho manual, otimizar a eficiência e facilitar os processos de produção e distribuição.
O monitoramento em tempo real do comportamento, localização, higiene, saúde, hábitos alimentares e produção de leite de cada vaca por meio de sensores de coleira também oferece maior produtividade. Por sua vez, isso melhora o rendimento, ao mesmo tempo que limita erros, atrasos e reduz custos.
Por meio da "Internet das Coisas", as máquinas podem ser controladas de forma proativa e remota, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Algoritmos de inteligência artificial permitem sistemas mais preditivos e avançados, reduzindo o tempo de inatividade do sistema. Da mesma forma, drones, robôs, sensores de proximidade para veículos e EPIs inteligentes estão contribuindo para melhorar a segurança dos funcionários e trabalhar com menos esforço nas fábricas de laticínios.
Além disso, o uso de rações totais misturadas (TMR) na alimentação das vacas aumenta ainda mais a produção de leite. Manter o gado em um ambiente cuidadosamente controlado e totalmente climatizado garante que cada animal esteja protegido de altos níveis de umidade, reduzindo os níveis de estresse térmico e proporcionando acesso a uma melhor alimentação.
Este nível de controle ambiental não apenas significa que uma proporção maior de energia pode ir para a produção de leite em vez da manutenção das vacas, mas também melhora a saúde e o bem-estar dos animais e, em última análise, a qualidade do leite.
Além disso, a pecuária leiteira integrada garante aos produtores de leite produzir não apenas leite, mas também produzir eletricidade de forma segura e econômica, utilizando tecnologia de energia solar e eólica ou queimando biogás de dejetos de vaca. A energia excedente pode ser posteriormente vendida de volta à rede, garantindo a sustentabilidade completa.
Por Moutaz Al-Khayyat, presidente da Baladna, maior companhia de lácteos do Catar, publicado no Dairy Reporter, traduzido e adaptado pela equipe MilkPoint.
E você, o que pensa sobre os conceitos trazidos pelo autor? Acha que esse é o futuro do setor lácteo mundial?