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Demanda reprimida na crise deve ser motor do consumo este ano

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 22/02/2018

5 MIN DE LEITURA

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No último ano do curso de licenciatura em artes visuais, Camila Vieira foi obrigada a trancar a graduação. A paulistana de 30 anos, mãe de dois filhos e moradora do Jardim Helena, bairro do extremo leste do município de São Paulo, deixou de conseguir os bicos de cuidar de crianças e dar oficinas que permitiam a ela estudar.

Passando a contar somente com o salário do marido, que trabalha como serralheiro soldador em uma empresa, as compras de supermercado da família foram reduzidas à metade, de cerca de R$ 700 por mês para algo em torno de R$ 250 a R$ 300. Carnes mais nobres foram trocadas por frango e embutidos, e a feira de domingo foi reduzida. As idas a exposições e ao teatro, ainda que gratuitas, tiveram que ser cortadas, devido ao custo das passagens de ônibus.

Apesar das dificuldades enfrentadas no ano passado, Camila acredita que sua situação financeira deve melhorar em 2018. O empréstimo tomado pelo marido para comprar um carro será quitado em abril. Com o respiro, o casal planeja colocar em dia contas em atraso e Camila pretende voltar à faculdade. "A meta é concluir esse ano a graduação, nem que eu vá pagando com uma certa dificuldade, deixando uma ou outra mensalidade vencer", diz a estudante.

A história de Camila é a de muitos brasileiros que, desempregados ou com medo de serem demitidos, tiveram que abrir mão de hábitos de consumo e perderam acesso a serviços durante os últimos três anos. Segundo analistas, essa demanda reprimida será um dos motores do consumo em 2018, em meio à projeção de melhora do mercado de trabalho, redução do endividamento das famílias e lenta retomada da oferta de crédito.

Apesar dessa expectativa, ainda não será neste ano que o consumo voltará aos níveis pré-crise. Na recessão, os rendimentos caíram de maneira brusca e ainda não estão totalmente recuperados. Além disso, o desemprego continuará elevado, impedindo uma retomada mais pujante, e consumidores e instituições financeiras estão mais cautelosos na hora de tomar e conceder empréstimos.

A pesquisa "Retrospectiva 2017 e Expectativas 2018 dos Consumidores", realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), mostra que 85% dos brasileiros tiveram de fazer cortes e ajustes no orçamento ao longo do ano passado. As ações mais adotadas foram cortar refeições fora de casa (63%), compras de vestuário, calçados e acessórios (56%), itens supérfluos de supermercado (49%) e idas a bares e baladas (48%). Olhando para este ano, 58% acreditam que sua vida financeira vai melhorar.

"A mudança que está acontecendo é para as pessoas que estão empregadas. Para aqueles que perderam o trabalho, o consumo sumiu e não volta. Mas há uma mudança de perspectiva em quem estava vendo o copo meio vazio e passa a ver o copo meio cheio", afirma Marcel Motta, diretor-geral da Euromonitor no Brasil. Segundo ele, durante a recessão e com o medo da demissão, a população empregada, mesmo com renda, passou a ter mais cautela, reduzindo a compra de produtos mais caros e mais dependentes de crédito.

Com a queda dos juros e aumento da confiança, a Euromonitor acredita que o mercado de eletrodomésticos deve ter registrado crescimento de 8% em 2017 e vai avançar mais 6% este ano, após retração em 2015 e 2016. Em eletroeletrônicos, a projeção é de alta de 5% para o ano passado e 4% em 2018.

Em alimentos, Motta destaca que essa crise foi diferente, pois quem se manteve empregado teve o poder de compra preservado, devido à queda da inflação a partir de 2016. Uma mudança de hábito relevante foi o corte de refeições fora do lar e o crescimento de categorias que replicam dentro de casa a experiência de comer fora, como o café em cápsulas e as cervejas especiais. A expectativa é que esses hábitos não se revertam e que o consumo fora de casa comece a voltar.

O diretor da Euromonitor também vê uma demanda reprimida em viagens - principalmente as internacionais - e estima um crescimento de 9% para este tipo de gasto este ano, após avanço de 7% em 2017.

Para Márcia Sola, diretora do Ibope Inteligência, lazer e serviços pessoais - como cabeleireiro, manicure e academia de ginástica - estão entre os principais hábitos de consumo represados durante a crise, que poderão ser retomados em 2018. "Nossa expectativa é que à medida que a economia tenha sinais claros de recuperação, e que o consumidor comece a perceber que as coisas realmente estão melhorando, ele retome algumas dessas atividades que deixou para trás", afirma.

Quanto ao mercado imobiliário, Márcia considera que é cedo para uma recuperação. "Um movimento mais forte desse setor depende da retomada do crédito", diz. Com essa demanda ainda reprimida, os materiais de construção e os serviços de reformas tendem a ser beneficiados.

Para a diretora do Ibope, a relação dos consumidores com a tomada de crédito foi alterada pela experiência da recessão. "Muitas famílias entraram bastante endividadas nessa crise. Foram pegas de surpresa e isso trouxe um ensinamento para elas", diz. "O consumidor pós-crise é mais consciente, mais crítico com seus gastos e contido no consumo."

Não foram apenas os consumidores que mudaram com o aperto dos últimos quatro anos. As instituições financeiras se tornaram mais seletivas na concessão de crédito, diz João Morais, analista da Tendências Consultoria. "Os bancos foram muito expansionistas no passado, isso resultou em inadimplência e comprometeu o resultado das instituições. O que se espera agora é o crédito crescendo mais em linha com a renda."

Tiago Oliveira, gerente da Kantar Worldpanel, destaca que a retomada de hábitos de consumo será lenta. "A queda do rendimento da população foi brusca o suficiente para que, mesmo em 2018, isso não se recupere 100%", afirma. Ele lembra que, em 2016, no auge da crise, 51% das famílias chegaram a ficar com gastos acima dos rendimentos, uma situação atípica, porque normalmente renda e gastos andam juntos.

Oliveira conta que há produtos que foram cortados, mas já recuperaram o nível de consumo pré-crise, caso da manteiga, leite fermentado, água mineral e antissépticos bucais. Outros seguem em queda de consumo contínua, a exemplo da sobremesa pronta, do petit suisse, bebidas a base de soja e refrigerantes. Já algumas categorias voltaram a crescer, sem recuperar o nível pré-crise, como os óleos culinários especiais, iogurte, cremes para o corpo e congelados.

"Numa situação de crise, as pessoas reduzem a frequência de compra para evitar abandonar o consumo", conta Oliveira. "Então, no retorno, é mais comum que primeiro aumente a frequência de gastos, para depois retomar o consumo na mesma base passada e, a partir daí, voltar a crescer, junto com o rendimento e a massa de empregos", diz.

Vale a pena ler também: 

2018: o que esperar para o mercado lácteo?

As informações são do jornal Valor Econômico.

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