Apesar da notória ascensão de mulheres ao comando de propriedades rurais no país, a diferença entre o desembolso médio de crédito rural para produtores homens e produtoras mulheres aprofundou-se nos últimos seis anos. O crescimento da desigualdade de gênero nessa frente ocorreu paralelamente a um movimento de concentração fundiária — nos latifúndios a predominância masculina é maior.
Conforme cálculos do Valor a partir de dados do Banco Central, o valor médio de operações de crédito rural contratadas por homens foi duas vezes maior que a média contratada por mulheres na safra 2018/19. Na temporada 2013/14, essa diferença entre os valores médios contratados era de 60%.
Entre o mês de julho de 2018 e junho de 2019 (safra 2018/19), o valor das operações de crédito rural liberado para homens foi, em média, de R$ 80.614, enquanto o valor médio contratado por mulheres foi de R$ 40.336. Entre julho de 2013 e junho de 2014 (safra 2013/14), as contratações de financiamento rural por homens ficaram, em média, em R$ 46.797, ante R$ 28.385 no caso das proprietárias mulheres.
Do valor total de crédito rural desembolsado na última safra (2018/19) — de R$ 130,7 bilhões —, apenas 15% foi contratado por mulheres. Trata-se rigorosamente do mesmo percentual de operações contratadas pelo público feminino no ciclo 2013/14.
Já a quantidade de operações de financiamento liberada para propriedades rurais com mulheres no comando teve um crescimento maior do que o número de operações de crédito rural para o público masculino. De todas as operações de crédito rural contratadas na safra 2013/14, que superaram 2,5 milhões, 23% foi direcionada para produtoras mulheres e 77% para homens.
Essa diferença foi ligeiramente atenuada na safra passada. Das mais de 1,8 milhão de operações de contratação de financiamento rural reportadas pelo BC ao longo da safra 2018/19, 27% foram realizada com mulheres e 73% com fazendeiros homens.
O Estado onde o crédito rural foi mais mal distribuído entre os gêneros na safra 2018/19 foi o Amazonas: 91% do total do valor contratado foi direcionado aos homens. Já o Estado com a menor desigualdade na distribuição do recurso liberado no mesmo período foi a Paraíba, onde 69% do crédito foi direcionado para o público masculino.
O cenário estadual na safra 2013/14 foi bem diferente. Naquele ciclo, Amazonas ficou justamente como o Estado com a menor desigualdade na distribuição do valor total do crédito rural, quando 74% do montante foi para homens. Já o Estado com a pior relação naquele período foi Santa Catarina, onde 90% do valor contratado foi feito pelo público masculino.
O último censo agropecuário do IBGE, de 2017, mostrou que mais estabelecimentos rurais e áreas mais extensas passaram a ser comandadas por mulheres em comparação com o censo de 2006 — embora os números ainda sejam bem distantes da realidade masculina. A última pesquisa do instituto apontou que as mulheres comandavam 19% de todas as propriedades e 9% da área — liderando, assim, áreas em média menores do que as comandadas por homens. Mas essa situação era pior em 2006, quando as mulheres lideravam 13% dos estabelecimentos rurais e somente 5% da área.
As informações são do Valor Econômico.