O fraco nível de atividade na economia global, em meio a disputas comerciais e geopolíticas e ao dólar forte, e produções em geral robustas mantiveram as cotações internacionais das principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil em baixo patamar em 2019, distantes das máximas do início da década.
Embora a pressão macroeconômica não esteja dissipada, sinais recentes de reação em países desenvolvidos, o aparente arrefecimento da guerra entre Pequim e Washington e relações menos confortáveis entre ofertas e demandas podem abrir espaço para valorizações mais expressivas ao longo deste ano sobretudo nos mercados de grãos, açúcar e café, conforme cenário traçado por analistas, bancos e consultorias.
A expectativa nesse sentido é grande sobretudo no mercado de soja, que no ano passado foi um dos principais pivôs nas recorrentes trocas de golpes comerciais entre Estados Unidos e China. Dos produtos agrícolas americanos importados pelos chineses, a soja é o mais importante, e a tensão entre as duas potências, que abriu espaço para o Brasil se consolidar na liderança das exportações mundiais do grão - com volumes menores, graças à queda da demanda do gigante asiático -, derrubou as cotações em Chicago.
Cálculos do Valor Data baseados nos contratos de segunda posição de entrega negociados na bolsa mostram que o valor médio da soja em 2019 caiu mais de 4% em relação ao registrado no ano anterior. O patamar alcançado foi o menor desde 2007, e em relação ao pico de 2012 a queda se aproximou de 40%.
Se de fato EUA e China fizerem as pazes, a demanda pela oleaginosa americana deverá crescer e as cotações poderão subir em Chicago. Mesmo que a epidemia de peste suína africana mantenha as importações chinesas como um todo restritas, já que há menos animais para serem alimentados, o aumento das compras do país asiático de proteínas no exterior deverá inflar demandas domésticas em países exportadores de carnes como o Brasil, mantendo a soja em alta.
Horizonte semelhante pode ser observado da janela do mercado de milho, outro ingrediente importante para a fabricação de rações. Nesse caso, a produção de etanol feito a partir do cereal nos EUA e no Brasil, os dois maiores exportadores de milho do mundo, também poderá colaborar para um acirramento da concorrência pela matéria-prima, apesar das incertezas geradas pela confusa política americana.
Dessa forma, os preços da commodity poderão encontrar espaço para que a modesta recuperação dos últimos três anos - a de 2019 ajudada por problemas climáticos no Meio-Oeste americano - ganhe força. Mesmo tendo alcançado sua maior média anual desde 2014 em Chicago, o nível atingido ainda é 43% inferior ao pico histórico, também de 2012.
No rol das “soft commodities” negociadas na bolsa de Nova York que têm no Brasil um grande exportador, o cenário também parece mais positivo para açúcar e café, que viveram em 2019 outro ano de cotações deprimidas. E, nos dois casos, essa perspectiva é influenciada por estimativas de déficit mundial nesta safra 2019/20.
No mercado de açúcar, onde os elevados estoques da Índia evitaram que a ampliação das apostas das usinas no Brasil, que encabeça os embarques globais, resultasse em uma alta digna de nota no ano passado, a tendência de que o biocombustível permaneça com consumo aquecido em um ambiente de preços firmes do petróleo no exterior poderá voltar a ajudar. Após a pequena alta de 2019, o valor médio anual da commodity ainda foi cerca de 50% menor que o pico de 2011.
O caminho promete ser mais favorável também para o café, até porque os baixos preços dos últimos anos geraram problemas na oferta em países menos competitivos que o Brasil, que lidera as exportações da espécie arábica. Como a expectativa é que o consumo aumente no mundo, em linha com a tendência de retomada da atividade global - ainda que lenta -, a queda do valor médio anual dos contratos de segunda posição de entrega em 2019 ao menor patamar desde 2004 (60% abaixo do pico de 2011) poderá ser revertida, ao menos parcialmente, a depender da extensão dos atuais problemas climáticos em polos do Centro-Sul brasileiro.
Para as cotações de suco de laranja e algodão, também referenciadas em Nova York, há mais pressão à vista, ainda em virtude de ofertas elevadas inclusive no Brasil, que lidera as exportações do primeiro e disputa o segundo lugar no ranking do segundo.
No mercado de suco de laranja, o valor médio dos contratos de segunda posição de entrega caiu quase 30% no ano passado em relação a 2018, ao mais baixo nível desde 2009 - 36% abaixo do pico histórico de 2016 -; no de algodão, a retração sobre 2018 foi de 17% e a média anual, a menor desde 2016, foi 48% mais baixa que o pico de 2011.
As informações são do Valor Econômico.