Brasil precisa de mais eficiência para acessar mercado chinês

Apesar da recente liberação do mercado chinês para produtos lácteos brasileiros, o Brasil precisa ter uniformidade de produção e qualidade constante para acessar esses novos clientes. A posição foi defendida pelo chefe do serviço de inspeção federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Leonardo Isolan, durante debate do Circuito de Gestão e Inovação no Agronegócio, realizado no último sábado (24/8), no Auditório da Administração do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio (RS).

Publicado por: MilkPoint

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Negociado ao longo da última década e anunciado em julho, o acordo que vai permitir a venda, para a China, de lácteos brasileiros como queijo e leite em pó, deve ter seus primeiros embarques gaúchos em 2020. O Estado já conta com seis das 24 plantas habilitadas no Brasil, mas estar qualificada para exportar é apenas o primeiro passo. Agora, o principal desafio para as empresas é conquistar clientes e parceiros, ressalta Leonardo Isolan, chefe do serviço de inspeção federal do Ministério da Agricultura que participou das negociações e hoje é um dos principais conhecedores do acordo.

O tema foi um dos principais debates do primeiro dia da Expointer, no último sábado (24), em evento promovido pela Secretaria da Agricultura, Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat) e do Instituto de Educação no Agronegócio (I-UMA). Apesar de ser um mercado já aberto, imenso e crescente, as indústrias e os produtores ainda têm que avançar na qualidade do produto e do leite utilizado para garantir a conquista de clientes, diz Isolan. Isso porque os principais concorrentes que já estão no mercado chinês têm exigências de produção ainda maiores do que as brasileiras, ressalta o chefe do serviço de inspeção federal.

"Temos que melhorar muito a qualidade do leite processado aqui. Mesmo com a entrada em vigor das Instruções Normativas do Leite (INs 76 e 77), ainda temos exigência de qualidade inferior a dos atuais principais exportadores do produto para a China, que são Nova Zelândia, Europa e Estados Unidos", alerta Isolan.

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A vantagem brasileira, diz Isolan, é que o governo chinês tem hoje uma forte política de diversificação de fornecedores. Um dos motivos é para reduzir a dependência, aumentar a concorrência e ter mais segurança alimentar. O que significa, neste caso, não correr o risco de ficar desabastecido, por exemplo, por um problema que ocorra com alguns dos principais fornecedores. "Os chineses têm dois grandes temores, da fome e do frio. Então, a segurança alimentar para o país é um fator importante, o que nos beneficia, principalmente porque há alguns anos (entre 2010 e 2011) o país teve um sério problema como o leite em pó produzido localmente", explica Isolan.

Entrada no mercado chinês exige muito mais do que habilitação para exportar

Entrar no mercado chinês e mantê-lo, no entanto, não será uma tarefa fácil para as seis plantas gaúchas já habilitadas para exportar. Além de identificar o tipo de queijo que esse mercado quer, por exemplo, Leonardo Isolan, chefe do serviço de inspeção federal do Ministério da Agricultura (Mapa),  destaca que há uma série de normativas, regras e recomendações às quais os embarcadores precisam estar atentos. Foi para isso que o governo montou um roteiro, elaborado pelo Itamaraty, que ajuda indústria e exportadores e evitar erros no processo. 

"Também temos que evoluir na rastreabilidade do produto, o que é uma demanda chinesa. E os chineses compram do país, o que significa que se uma empresa errar, colocará todas as outras em risco e pode fechar o mercado a todas", alerta Isolan.

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O superintendente federal do Mapa no Estado, Bernardo Todeschini ressalta que, apesar de ser um mercado gigante, todos querem chegar lá e, portanto, os competidores são muitos. Desde 2015, com o fim das restrições ao segundo filho, que perdurou durante muitos anos, o número de crianças que estão nascendo na China atual é um mercado tentador para leite em pó e compostos lácteos, por exemplo.

Mas investir no gigante asiático exige paciência, persistência e não apenas conhecimento de mercado, mas do estilo de negociação chinesa, que é peculiar. Na China, dizem especialistas, boa parte dos contratos fechados são feitos pelo "guanxi", que significa, relacionamento de confiança. "Nos primeiros encontros muitas vezes eles sequer falam de negócio. Eles querem primeiro conhecer o interlocutor, saber quem é, ter contato pessoal e criar laços", explica Todeschini.

Presidente do Sindilat, Alexandre Guerra diz que uma das perguntas mais frequentes que tem ouvido de associados interessados neste mercado é sobre como se habilitar. De acordo com Isolan, inicialmente qualquer indústria que já atue com o SIF (Serviço de Inspeção Federal) podem formalizar a intenção ao ministério da Agricultura, que analisará a solicitação. Posteriormente, terá de passar pela auditoria chinesa, que já está sendo feito inclusive à distância, pelo sistema de comunicação virtual WeChat, com transmissão de vídeo. "Temos que explorar esse imenso potencial. Apesar de sermos um dos maiores produtores de leite do mundo, ainda somos um país mais importador do que exportador", afirma o presidente do Sindilat.

Para o secretário de Agricultura, Covatti Filho, o Estado ainda precisa de adaptação na cadeia produtiva do Estado, sincronizar extensão rural com a produção e valorizar mais a qualidade. "Temos que fazer um esforço entre indústria, produtores e Estado, para qualificar nosso produto para poder conquistar mercados fora do Brasil", diz Covatti Filho.

As informações são do Viva Lácteos, Secretária da Agricultura e Sindilat.

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Matozalém Camilo
MATOZALÉM CAMILO

ITUIUTABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/08/2019

Realmente é muito difícil exportar. Não é somente leite, toda exportação tem variáveis políticas e econômicas. Uma vantagem neste momento é que a china não tem onde comprar mais leite. O Brasil é um possível parceiro para o futuro. Neste sentido acredito sim que poderemos nos tornar exportadores para a china. Desde que continuemos a melhorar a qualidade do nosso produto.
Thiago Alberton Pereira
THIAGO ALBERTON PEREIRA

CORONEL VIVIDA - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 27/08/2019

Com o custo Brasil, fica quase impossível competir com os gigantes Europeus e o EUA. Produzir no Brasil já é caro, com toda a qualidade exigida pela China se torna mais difícil ainda. O Brasil sempre foi importador de lácteos e de uma hora para outra vamos nos tornar exportador!!! A pergunta correta é qual pais aceitará perder uma fatia desse mercado para o Brasil? Para se vender la fora precisa ter qualidade e preços competitivos. Só na cabeça de quem não entende mesmo...
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