Alimentos lácteos e pressão sanguínea - Parte 1/2

Cerca de 73 milhões de pessoas com 20 anos de idade ou mais nos Estados Unidos ou quase um em cada três adultos do país tem pressão alta ou hipertensão. Apesar da causa de 90% a 95% da pressão alta ser desconhecida, fatores genéticos e ambientais, além de suas interações, são determinantes da pressão sanguínea. Entre os fatores ambientais, a dieta tem um papel chave.

Publicado em: - 9 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 0

Introdução

Cerca de 73 milhões de pessoas com 20 anos de idade ou mais nos Estados Unidos ou quase um em cada três adultos do país tem pressão alta ou hipertensão (1). A hipertensão foi definida para se chegar a estes dados como a pressão sanguínea sistólica de 140 mmHg ou maior; pressão diastólica de 90 mmHg ou mais; ou pessoas que tomam medicamentos anti-hipertensivos. Além dos 33,6% dos adultos norte-americanos com hipertensão, aproximadamente 37,4% têm pré-hipertensão (isto é, pressão sistólica de 120 a 139 mmHg ou diastólica de 80 a 89 mmHg, sem medicação) (1).

Os adultos mais velhos, afro-americanos e crianças e adolescentes com sobrepeso estão entres os de maiores riscos de hipertensão (1). A pressão sanguínea alta é um fator de risco para doenças cardíacas, derrames, insuficiência cardíaca congestiva e doenças renais (2). Pesquisadores estimam que a redução da pressão sistólica na população em 5 mmHg poderia reduzir a mortalidade devido ao derrame em 14%, devido à doenças cardíacas em 9% e a mortalidade geral em 7% (2). Para 2008, estima-se que os custos diretos e indiretos com pressão sanguínea alta foram de US$ 69,4 bilhões nos EUA (1).

Apesar da causa de 90% a 95% da pressão alta ser desconhecida, fatores genéticos e ambientais, além de suas interações, são determinantes da pressão sanguínea (3). Entre os fatores ambientais, a dieta tem um papel chave. A perda de peso, o plano de dieta denominado de Medidas Dietéticas para Parar com a Hipertensão, conhecida como dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que consiste em uma dieta pobre em gordura, mas rica em frutas, vegetais e produtos lácteos desnatados, consumo moderado de sal (não mais que 6 gramas de cloreto de sódio ou 2,4 gramas de sódio) e consumo moderado de álcool são modificações dietéticas que demonstram reduzir a pressão sanguínea (2,3).

Considerando a alta prevalência e os gastos com a hipertensão e suas co-morbidades, esforços para reduzir a pressão sanguínea em indivíduos pré-hipertensivos e hipertensivos estão sendo estimulados. Por mais de uma década, profissionais de saúde focaram seus conselhos na adoção de um estilo de vida saudável, incluindo dieta saudável com baixo teor de gordura contendo porções recomendadas de alimentos lácteos com baixo teor de gordura, para ajudar a prevenir e controlar a pressão alta (4-6).

A dieta DASH e os padrões dietéticos relacionados

Estudos sobre a dieta DASH patrocinados pelo Governo dos EUA fornecem suporte aos efeitos dos alimentos lácteos de reduzir a pressão (6). Esse avanço científico foi precedido por várias pesquisas no começo dos anos oitenta que demonstraram um efeito benéfico dos alimentos e nutrientes lácteos, como o cálcio e o potássio, no controle da pressão sanguínea (4,7,8).

Padrão de nutrientes diários usados nos estudos sobre a dieta DASH
(para um plano de consumo de 2.100 calorias por dia)

Figura 1
* 1.500 mg de sódio foi o menor nível testado e mostrou ser ainda melhor para reduzir a pressão sanguínea, sendo particularmente efetivo para indivíduos de meia-idade, idosos, afro-americanos e aqueles que já tinham alta pressão sanguínea.
Fonte: http://www.nhlbi.nih.gov/health/public/heart/hbp/dash/new_dash.pdf.

No estudo do DASH com 459 adultos hipertensivos e pré-hipertensivos, os participantes foram aleatoriamente designados a uma de três dietas por oito semanas: uma dieta típica americana, que era a controle (isto é, com poucas frutas, vegetais, lácteos e contendo 36% das calorias vindas da gordura); uma dieta rica em frutas e vegetais (oito a dez porções por dia, pobre em alimentos lácteos e similar à dieta controle no que se refere às gorduras totais); e uma dieta padrão DASH, com baixo teor de gordura (26% das calorias), alto nível de frutas e vegetais (oito a dez porções por dia) e alimentos lácteos (duas a três porções por dia) (6). O padrão de dieta DASH produziu as maiores reduções na pressão sistólica (5,5 mmHg) e diastólica (3 mmHg).

A dieta rica em frutas e vegetais, mas pobre em lácteos, produziu reduções de aproximadamente metade daquelas obtidas com a dieta DASH (6). A redução na pressão sanguínea na dieta DASH ocorreu rapidamente (dentro de duas semanas), permanecendo menor quanto mais os participantes se mantiveram na dieta e tiveram efeitos similares a uma terapia com drogas anti-hipertensivas (6,9). O efeito de reduzir a pressão sanguínea da dieta DASH foi independente do peso corpóreo, ingestão de sódio, de álcool, fatores que se mantiveram constantes entre os grupos (6).

Os efeitos na pressão sanguínea da dieta DASH foram depois examinados em outro estudo, denominado DASH-Solium Trial (10). Esse estudo envolveu 412 adultos cuja pressão sanguínea excedia 120/80 mmHg. As pessoas foram designadas aleatoriamente para duas dietas: ou a típica americana (controle) ou a dieta DASH, com vários níveis de sódio (10). Assim como no primeiro estudo (6), a pressão sanguínea foi significantemente reduzida em pessoas que consumiram o padrão de dieta DASH comparado com a dieta controle e isso ocorreu em todos os níveis de ingestão de sódio. Um outro estudo denominado PREMIER Trial, aleatoriamente controlado, sem restrições no consumo de alimentos por pessoas com pré-hipertensão ou hipertensão mostrou que uma combinação de intervenções no estilo de vida, incluindo padrões da dieta DASH, reduziu a pressão sanguínea (11,12). Além disso, essas mudanças no estilo de vida foram sustentadas por mais de 18 meses (12).

O padrão de dieta DASH mostrou reduzir mais a pressão sanguínea em pessoas com hipertensão do que em pessoas sem hipertensão (6,10,13). Além disso, a dieta DASH é particularmente efetiva na redução da pressão de afro-americanos, um grupo com maior risco de desenvolvimento de hipertensão e suas complicações do que os caucasianos (10,13,14).

A dieta DASH tem sido reconhecida ou incorporada em uma série de recomendações dietéticas feitas por organizações profissionais de saúde (2,3,15-18). De acordo com o 7º Relatório do Comitê Nacional de Prevenção, Detecção, Avaliação e Tratamento da Pressão Alta em adultos do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue (NHLBI, da sigla em inglês), a dieta DASH é mais efetiva do que as recomendações para redução na ingestão de sódio (2). A edição de 2005 do Guia Dietético para Americanos (16) se refere à dieta DASH como um exemplo de plano de consumo que exemplifica as recomendações do Guia. Além disso, a Associação Americana do Coração apóia a dieta DASH em suas recomendações para prevenir e tratar a hipertensão e doenças do coração (3,17,18).

Os efeitos benéficos na pressão sanguínea de um padrão similar ao da dieta DASH foram demonstrados em outros estudos (4,19-22). Em um estudo clínico de perda de peso de 12 semanas em 54 homens de meia-idade com sobrepeso ou obesos com pré-hipertensão ou hipertensão que consumiram ou um padrão de dieta semelhante à DASH ou uma dieta convencional com baixa gordura, o decréscimo na perda de peso foi similar em ambos os grupos, mas as reduções na pressão sistólica e diastólica foram maiores para o grupo que consumiu uma dieta com padrão semelhante à DASH do que para o grupo que consumiu a dieta convencional com baixa gordura (19).

O consumo de uma dieta padrão DASH caracterizado por altas ingestões de alimentos lácteos, frutas e vegetais mostrou ter efeitos benéficos na pressão sanguínea durante a infância (21,22). Isso é importante dado que a prevalência de pressão alta entre crianças e adolescentes nos EUA está aumentando, concomitantemente com o aumento da obesidade infantil (23) e que a pressão alta nos primeiros anos de vida aumenta os riscos e hipertensão mais tarde (24).

Em um recente estudo com 57 adolescentes de 11 a 18 anos com pré-hipertensão ou hipertensão, as pessoas foram aleatoriamente divididas para seguir uma dieta padrão DASH com alto nível de alimentos lácteos, frutas e vegetais ou uma rotina baseada em uma dieta fornecida a pacientes de hospital (22). Após três meses, o grupo que consumia a dieta tipo DASH teve uma menor redução na pressão sistólica (-7,9% contra -1,5%) e melhor qualidade da dieta do que o grupo que consumiu a dieta de hospital. Os adolescentes que seguem a dieta tipo DASH têm maiores ingestões de potássio e magnésio, menores ingestões totais de gordura saturada e maior consumo de frutas (de aproximadamente 2 porções por dia) e produtos lácteos (de aproximadamente 0,5 porções por dia) (22). Após o tratamento (seis meses), a pressão sanguínea ficou normal em 50% do grupo que consumiu a dieta DASH comparado com 36% do grupo que consumiu a dieta de hospital (22).

Essas descobertas apóiam as pesquisas anteriores que avaliaram dados de acompanhamento por oito anos de 95 crianças que inicialmente tinham de 3 a 6 anos de idade no estudo Framingham Children (21). No começo da adolescência, as crianças que consumiram a dieta DASH tiveram menor pressão sanguínea sistólica do que aquelas que ingeriram dietas com menores quantidades de frutas, vegetais e lácteos (21). Os resultados dessas pesquisas suportam as recomendações pelo Programa Nacional de Um Grupo de Trabalho para Educação sobre Alta Pressão Sanguínea de estimular as crianças e adolescentes a adotar um plano de consumo DASH para prevenir e tratar a pressão alta (15).

Referências bibliográficas

1. Rosamund, W., K. Flegal, K. Furie, et al. for the American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Circulation 117: e25, 2008.
2. Chobanian, A.V., G.L. Bakris, H.R. Black, et al. JAMA 289: 2560, 2003.
3. Appel, L.J., M.W. Brands, S.R. Daniels, et al. Hypertension 47: 296, 2006.
4. Miller, G.D., J.K. Jarvis, and L.D. McBean. Handbook of Dairy Foods and Nutrition. 3rd ed. Boca Raton, FL: CRC Press, 2007, pp. 99-139.
5. Kris-Etherton, P., J.A. Grieger, K. Hilpert, et al. J. Am. Coll. Nutr. In press, 2009.
6. Appel, L.J., T.J. Moore, E. Obarzanek, et al. N. Engl. J. Med. 336: 1117, 1997.
7. McCarron, D.A., C.D. Morris, and C. Cole. Science 217: 267, 1982.
8. McCarron, D.A., C.D. Morris, H.J. Henry, et al. Science 224: 1392, 1984.
9. Akita, S., F.M. Sacks, L.P. Svetkey, et al. Hypertension 42: 8, 2003.
10. Sacks, F.M., L.P. Svetkey, W.M. Vollmer, et al. for the DASH-Sodium Collaboration Research Group. N. Engl. J. Med. 344: 3, 2001.
11. Appel, L.J., C.M. Champagne, D.W. Harsha, et al. JAMA 289: 2083, 2003.
12. Elmer, P.J., E. Obarzanek, W.M. Vollmer, et al. Ann. Intern. Med. 144: 485, 2006.
13. Svetkey, L.P., D. Simons-Morton, W.M. Vollmer, et al. Arch. Intern. Med. 159: 285, 1999.
14. Reusser, M.E., and D.A. McCarron. J. Nutr. 136: 1099, 2006.
15. National High Blood Pressure Education Program Working Group on High Blood Pressure in Children and Adolescents. Pediatrics 114: 555, 2004.
16. U.S. Department of Health and Human Services and U.S. Department of Agriculture. Dietary Guidelines for Americans, 2005. 6th Edition. Washington, DC: U.S. Government Printing Office, January 2005. www.healthierus.gov/dietaryguidelines.
17. Lichtenstein, A.H., L.J. Appel, M. Brands, et al. Circulation 114: 82, 2006.
18. Mosca, L., C. Banka, E. Benjamin, et al. Circulation 115: 1481, 2007.
19. Nowson, C.A., A. Worsley, C. Margerison, et al. Am. J. Clin. Nutr. 81: 983, 2005.
20. McNaughton, S.A., G.D. Mishra, A.M. Stephen, et al. J. Nutr. 137: 99, 2007.
21. Moore, L., M.R. Singer, M.L. Bradlee, et al. Epidemiol. 16: 4, 2005.
22. Couch, S.C., B.E. Saelens, L. Levin, et al. J. Pediatr. 152: 494, 2008.
23. Munter, P., J. He, J.A. Cutler, et al. JAMA 291: 2107, 2004.
24. Sun, S.S., G.D. Grave, R.M. Siervogel, et al. Pediatrics 119: 237, 2007.
Ícone para ver comentários 2
Ícone para curtir artigo 0

Material escrito por:

Juliana Santin

Juliana Santin

Médica veterinária formada pela FMVZ/USP. Contribuo com a geração de conteúdo nos portais da AgriPoint nas áreas de mercado internacional, além de ser responsável pelo Blog Novidades e Lançamentos em Lácteos do MilkPoint Indústria.

Acessar todos os materiais

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

Sidney Roberto Christoff
SIDNEY ROBERTO CHRISTOFF

GIRUÁ - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/03/2009

Concordo com a afirmação de que o consumo de lácteos faz bem para a saúde. O consumo de uma fatia de queijo antes de uma refeição ajuda a diminuir o apetite consideravelmente, pois ele sacia a fome, assim como a ingestao de um copo de leite pela manhã. Tendo-se habitos saudáveis e uma alimentação equilibrada.
Helvecio Oliveira
HELVECIO OLIVEIRA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 26/02/2009

Parabéns Juliana!
Seus trabalhos vêm se tornando uma referência sobre o tema.
Qual a sua dúvida hoje?