A média da temperatura da Terra ficou em 0,94°C acima da média do século 20, que serve como "zero" para a escala. O atual segundo colocado, o ano de 2015, teve uma temperatura de 0,9°C acima dessa média – os números resultantes da diferença entre temperaturas medidas em relação à média histórica recebem o nome de "anomalia".
A conta da temperatura média é feita levando medições de temperatura de todo o globo. Separando a anomalia em oceânica e continental, 2016 continua sendo líder nas duas, mas o verdadeiro culpado aparece: a média terrestre é 0,1°C maior que a de 2015, e a oceânica não foi tão diferente das mais altas até então.
Nos 16 primeiros anos do século 21, houve quebras de recorde em 2005, 2010, 2014, 2015 e 2016. E, entre os dez anos mais quentes já registrados, só o de 1998 não é deste século – foi um ano com El Niño especialmente forte.
O fenômeno, caracterizado pela elevada temperatura das águas do oceano Pacífico, bagunça o clima de todo o mundo, deixando-o especialmente quente e chuvoso em diversas regiões. A última ocorrência é de 2015, mas pode ter deixado sua contribuição no ano que passou. Recordes de temperatura foram medidos em algumas partes da Rússia, chegando a ficar mais de 6°C acima da média histórica. Também foi a maior temperatura já registrada no Alasca – em algumas regiões com anomalia positiva de 3°C.
Em maio, o Canadá sofreu a maior queimada já registrada: 590 mil hectares (quase quatro vezes a área da cidade de São Paulo), na região de Alberta, trazendo um prejuízo de mais de US$ 3 bilhões só em seguros. A cidade de Fort McMurray foi engolida pelo fogo e os 88 mil habitantes foram pegos de surpresa e tiveram pouco tempo para abandoná-la. No Brasil, algumas regiões Amazônicas e do Nordeste tiveram a temperatura média mais alta já calculada. O restante do país ficou também acima da média, só que com menos intensidade.
Curiosamente apesar da variabilidade inerente à climatologia, não houve nenhuma região terrestre que tenha ficado abaixo da média histórica. A única região com recorde negativo foi o estreito de Drake, porção oceânica entre o extremo sul da América do Sul e a Antártida.
Futuro
"Em algum momento, isso acaba deixando de ser novidade", avalia o físico Paulo Artaxo, um dos mais influentes cientistas brasileiros, a respeito do novo recorde, que se repete pelo terceiro ano consecutivo. Entre os fatores que podem explicar a ingrata tendência está a emissão de gases do efeito estufa. Neste ano, foi superada a marca simbólica de 400 partes por milhão de molécula de CO2 na atmosfera.
Para a grande maioria dos cientistas, a ação antrópica (do homem) sobre o clima é causa certa do aquecimento global. Outros fatores importantes, afirma Artaxo, são eventos climáticos como El Niño e La Niña, além da variabilidade climática.
Ele diz que eventos extremos como furacões, queimadas e enchentes são uma boa amostra do que está por vir do futuro climático do mundo. "No início do ano, no Rio, houve temperaturas acima de 40°C por mais de uma semana. Também teve uma massa polar invadindo a Europa por um tempo muito acima do normal. São alterações profundas no sistema climático que estão acontecendo, infelizmente, conforme o esperado."
A mensagem, segundo Artaxo, é que as cidades e Estados devem se preparar para os eventos extremos, como as enchentes que atingiram São Paulo nos últimos dias e a seca recorde no Nordeste. "Não adianta ter só um plano – ficar na teoria –, tem que virar política pública, ou haverá impactos socioeconômicos brutais".
Entre possíveis impactos do aquecimento global estão o aumento de conflitos, por causa da competição por recursos, e da perda de territórios devido ao aumento do nível do mar. Também existe preocupação com a agricultura, que pode ser bastante afetada por eventos como o El Niño.
As informações são do jornal Folha de São Paulo.