A Nova Zelândia é considerada um exemplo na produção de leite a pasto, sendo inclusive o maior exportador de lácteos do Planeta. Aumentar a produtividade para reduzir a área ocupada por essa e outras atividades do agronegócio foi possível graças à tecnificação dos produtores, dos menores aos maiores.
E o governo percebeu que é possível exportar essa tecnologia para outros países, como o Brasil, onde conta com apoio no AgTech Garage, maior centro de inovação do agronegócio, na organização de um intercâmbio de startups.
Importar tecnologia não é um problema, diz José Tomé, CEO do hub. Afinal, afirma ele, a curva de adoção tecnológica no Brasil é ascendente e os desafios a serem vencidos são muitos. “O importante é encontrar a solução certa para o produtor, onde for.
Se a tecnologia de fora for igual à que temos aqui e com um custo maior, o negócio não vai acontecer. Mas entendemos que o ecossistema é global”, avalia.
Os neozelandeses sabiam que softwares de gestão de propriedade e fintechs existem aos montes no Brasil, então decidiram apostar em tecnologias diferentes, voltadas principalmente à sustentabilidade — como sistemas de sensoriamento remoto para cálculo de pegada de carbono das fazendas.
Durante quatro meses, representantes de nove startups receberam mentorias e foram apresentados à realidade dos brasileiros. Participaram do “Agritech International Acceleration Programme” as empresas AbacusBio, Bluelab, CLIMsystems, Gallagher Animal Management, Landkind, Mastaplex, MilktechNZ, Qconz e WayBeyond.
Diretor do fundo americano The Yield Lab Latam, que investe em agtechs da América Latina, Kieran Gartlan diz que o programa reforçou a expertise dos neozelandeses em hard science, como bioengenharia e nanotecnologia. "Eu acho que é realmente onde vemos as maiores oportunidades”, diz.
Parte das empresas já começou a estabelecer contatos para viabilizar suas tecnologias por meio de parcerias, aproveitando até mesmo a base de clientes de agtechs brasileira. “É um movimento pioneiro e inteligente. Antigamente, quando uma startup vinha ao Brasil, procuravam escritório e funcionário, o que representava um risco maior. Com parcerias, já chegam aqui com potenciais clientes e parceiros, economizam [tempo e dinheiro]”, diz Tomé.
Nadia Alcantara, gerente de desenvolvimento de negócios para a agência governamental New Zealand Trade and Enterprise (NZTE), afirma que, para se estabelecer no mercado brasileiro, as startups da NZ levariam pelo menos cinco anos. “É um ambiente de distribuição único, diferente inclusive da realidade americana e europeia”, afirma, reforçando que, até por sua natureza, agtechs são empresas limitadas em gente e recursos.
As fantásticas paisagens neozelandesas ficaram ainda mais famosas no mundo após as adaptações cinematográficas de “O Senhor dos Anéis”, obra do escritor britânico J. R. R. Tolkien. Mas, a longo prazo, ficou claro para o governo local que uma economia à base de turismo e produtos primários é insustentável. Além disso, o cenário de investimentos em agrifoodtechs no país não é dos mais pujantes.
Segundo dados do governo, o país tinha 382 agrifoodtechs no ano passado — 131 a mais do que em 2015, quando o levantamento começou. Essas empresas receberam 46 milhões de dólares locais (aproximadamente R$ 150 milhões na cotação atual), nem um terço do angariado cinco anos antes e praticamente um décimo do que atraíram em 2016. No Brasil, de janeiro a maio, as startups do agro captaram pelo menos US$ 50 milhões (mais de R$ 250 milhões).
Esse foi o primeiro passo. O governo da Nova Zelândia estuda enviar uma missão ao Brasil, para que representantes de startups possam imergir nas empresas brasileiras e aprofundar os contatos e parcerias. “Essa fase foi para entender o ‘pitch’ e a maturidade. Em um segundo momento, haverá conexões com investidores e universidades. Estamos dando visibilidade para ambos os lados, o que abre a possibilidade para investidores de fora”, diz Tomé.
A parceria deve ser uma via de mão dupla no futuro. Por enquanto, o CEO do AgTech Garage afirma que os brasileiros tentarão entender as oportunidades na Nova Zelândia. “Não é um mercado gigantesco, mas será que paga mais? Com parceiros fomentando e facilitando, pode ser atrativo e abrir portas”, afirma ele.
As informações são do Valor Econômico.