A indústria leiteira global, como todas as encarregadas da produção de alimentos, necessita suprir a demanda mundial, que cresce em consequência do aumento tanto da população mundial (de 7,9 bilhões atuais a 9,7 bilhões em 2050; United Nations, 2019), quanto do consumo per capita (de 106 kg/hab/ano em 2010 a 111 kg/hab/ano no ano 2019). A mudança dos hábitos de consumo de países altamente populosos, como China, Indonésia e Vietnã, é a primeira causa do aumento no consumo per capita de lácteos no mundo (The World Dairy Situation 2018, FAO 2020). O consumo per capita no Brasil também segue a tendência de aumento (de 122 kg/hab/ano em 2000 a 166 em 2018), porém com variações anuais, que se relacionam à renda real e ao preço relativo do leite (Siqueira, 2019).
No mundo inteiro, grande parte das despesas da produção leiteira é o custo alimentar (50-60%). Há cerca de 25 anos, a margem de lucro vem diminuindo porque, proporcionalmente, os insumos alimentares aumentam mais que o preço do leite. A situação em questão tem levado a algumas mudanças na alimentação das vacas leiteiras, que vão desde o fornecimento de uma dieta de “custo mínimo”, aceitando-se a produção de leite resultante, até o monitoramento da eficiência alimentar (leite produzido/ração consumida), para que se atinja o máximo lucro líquido por dia.
No Brasil, o desafio produtivo, também é grande no quesito eficiência alimentar. Durante o período de 2016-2020, o incremento médio anual deflacionado para o milho foi de 13,9% (50,5% entre 2019 e 2020, Farmnews, 2020a) e de 13,8% para a soja (53,4% entre 2019 e 2020, Farmnews, 2020b). O preço líquido deflacionado do leite pago ao produtor foi recorde na série histórica durante setembro de 2020, porém, o incremento médio deflacionado durante o mesmo período de 2016-2020 foi somente de 2% para cada ano (5,75% entre 2019 e 2020) (Milkpoint, 2021). Durante 2021, a situação permanece similar, uma vez que o preço do leite deflacionado pago ao produtor, em agosto, é 11,7% maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. Porém, dados do CEPEA, mostram que o custo operacional efetivo da atividade leiteira e a receita aumentaram em diferentes proporções (13 e 6%, respectivamente) (Grigol, 2021).
As geadas e a forte estiagem de 2021 prejudicam a produção e qualidade dos volumosos e grãos. Essa situação se soma aos já elevados custos de produção (principalmente grãos e, portanto, concentrados). O aumento dos preços pagos ao produtor está sendo limitado pela demanda interna de lácteos, afetada negativamente pela redução do ingresso real da população e o aumento da inflação no Brasil. Os fatos descritos, criam um cenário de margem de lucro cada vez mais estreita. Em consequência ao supracitado, temos que, cada vez mais, é importante maximizar a eficiência de uso dos recursos na produção leiteira.
As vacas leiteiras são pouco eficientes na conversão do N alimentar em produto animal (média de 26%), quando comparadas a outras espécies de interesse zootécnico, como as aves e os suínos (33-45% de eficiência) (Bequette et al., 2003). A situação pode piorar quando se utiliza a proteína bruta (PB: N alimentar x 6,25) na formulação da dieta como preditor de produção de leite, pela baixa relação entre ambas variáveis. Na Figura 1, observa-se que para o conteúdo de proteína bruta de 16% na dieta, comumente podem existir respostas na produção de leite entre 27 e 36 kg/vaca/d, mas ocasionalmente, o intervalo poderia ser ainda, mais amplo (de 20 a 40 kg/vaca/d) (Ipharraguerre & Clark, 2005a). Ante tais situações, os excessos de N virarão perdas por excreção animal, e a eficiência de conversão da proteína bruta da dieta em proteína láctea, diminuirá.
Figura 1: Relação entre produção de leite e porcentagem de PB da dieta de vacas leiteiras em lactação (Ipharraguerre & Clark, 2005a)
Somado à diminuição da eficiência de uso do N alimentar, um custo energético também está implícito. Entre 60-85% do N digerido é convertido em ureia no fígado; e dependendo das características da dieta, uma parte será reciclada (através da saliva ou da transferência do sangue ao lúmen gastrointestinal) e outra será excretada na urina (NASEM, 2021). Existe uma relação linear positiva entre as excreções urinárias de N e de energia, sendo necessárias 0,0146 Mcal de energia metabolizável (EM) por cada g N na urina. Somente o custo energético em uma vaca leiteira devido a essa excreção pode ser de até 3,16 Mcal EM por dia (Morris et al., 2021). Portanto, essa taxa de excreção energética ajusta negativamente a estimativa da energia metabolizável da dieta disponível para produção (NASEM, 2021).
É possível aumentar a conversão do N alimentar para o N no leite, tanto pelo aumento da produção de leite, mantendo o nível de PB da dieta; quanto pela redução na ingestão de PB, tendo essa última opção, um efeito mais marcante nesse quesito (Huhtanen & Hristov, 2009). Nesse sentido, Colmenero & Broderick, (2006) incrementaram a conversão do N de 25,4 a 36,4%, ocasião em que a PB da dieta diminuiu de 19,4 a 13,5%. O consumo de matéria seca, produção leiteira e eficiência alimentar, permaneceram inalteradas em todos os níveis de proteína da dieta (Figura 2).
Figura 2: Efeito da concentração de proteína bruta na dieta de vacas leiteiras sobre a produção de leite e a utilização de nitrogênio
Ipharraguerre & Clark, (2005b) também incrementaram a conversão do N de 25% para 32% quando a PB da dieta diminuiu de 18,7 para 14,8%. Contudo, a produção de leite se viu desfavorecida com essa redução. Uma concentração intermediária de PB de 16.8%, melhorou o aproveitamento do N da dieta a 28.5%, sem impactar o rendimento leiteiro. A redução de proteína bruta da dieta provavelmente diminuiu o fornecimento de proteína e energia metabolizáveis, afetando o desempenho das vacas leiteiras.
O uso adequado de modelos nutricionais, para suprir as necessidades de proteína e aminoácidos metabolizáveis, permite acertar o conteúdo N da dieta, sem alterar a produção de leite. Em NY, USA, o balanço alimentar feito com o modelo CNCPS (NDS® professional), permitiu que vacas recebendo dietas com PB de 13,7 e 16,2%, mas com balanços similares e positivos de proteína e metionina metabolizáveis (utilizando Timet®: fonte de metionina protegida), não apresentassem diferenças estatísticas na produção de leite (44,9 vs. 46,2 kg leite/vaca/dia), mas sim, na eficiência de uso do N alimentar (39 vs. 33%) (Fredin et al., 2016).
O refinamento da dieta de vacas leiteiras de elevado desempenho, baseado em aminoácidos disponíveis (utilizando a metionina protegida), permitiu diminuir a PB de 18 a 17% e incrementar a RMCA (receita menos custo alimentar) 0,12 $/vaca/d (1,7%, Chen et al., 2016), mas atingiu 0,70 $/vaca/d, considerando o aumento do preço do leite devido os aumentos nos teores de gordura e proteína (Schwab et al., 2004). O nitrogênio ureico no leite (MUN: indicador da eficiência de uso do N consumido pela vaca, resultado do adequado aporte de aminoácidos e energia à vaca), apresentou relação quadrática com o RMCA, com o máximo coincidindo em dietas de 16% de PB, indicando que conteúdos de PB superiores não apresentam nenhum benefício, e pelo contrário, incrementam a excreção de N (Wattiaux & Ranathunga, 2015).
O nitrogênio alimentar em excesso, excretado principalmente na urina das vacas, contribui para a poluição da água e para as emissões gasosas de N, que formam parte dos gases do efeito estufa (GEE) e que também acarretam problemas à saúde humana (Hristov et al., 2004; Hristov et al., 2019). Portanto, melhorias da eficiência alimentar não são necessárias apenas do ponto de vista nutricional e econômico, mas também do ponto de vista ambiental.
Nas últimas décadas foi visto que o manejo nutricional das vacas leiteiras se foca na obtenção de produtos com o menor impacto ambiental possível (Tamminga, 1992). As mudanças genéticas e ambientais (alimentação, conforto, manejo) que experimentam os sistemas de produção de leite impactaram positivamente a produtividade das vacas. A emissão de GEE (agrupados como equivalentes de CO2: medida que inclui o metano e outros gases emitidos durante o processo de produção leiteira) é menor, na medida que as vacas se tornam mais produtivas. Gerber et al. (2011) estimaram uma redução de 12 para menos de 3 kg de CO2, por cada kg de leite produzido, sempre que a produtividade ultrapassa os 2000 kg leite/vaca/ano. Um platô de aproximadamente 1,5 kg de CO2 equivalentes por cada kg de leite produzido, é atingido a partir da produtividade de 5000 kg leite corrigido/vaca/ano (Figura 3).
Figura 3: Relação entre a produtividade das vacas leiteiras e a emissão de equivalentes de CO2 por kg de leite produzido (Gerber et al., 2011).
O desbalanço entre os aumentos de preços dos insumos e o leite produzido, além da necessidade de evitar a excreção desnecessária de nutrientes (desperdícios e polução ambiental), exigem a melhora do manejo alimentar. Embora a prática de redução do teor de proteína bruta da dieta e com isso, o menor uso das onerosas matérias primas proteicas, possa ser uma realidade, a mesma deve ser criteriosa e feita por um profissional, que apoiado em um modelo nutricional, evitará carências a nível ruminal, fornecerá o nível de proteína metabolizável requerido e balanceará adequadamente, caso seja necessário, os aminoácidos a serem absorvidos no intestino da vaca.
A metionina, além de ter funções na saúde e na diminuição do estresse oxidativo das vacas leiteiras, possui um papel fundamental na síntese de proteína do leite, pois é um aminoácido limitante e estimulador do processo. A Vetagro, em pareceria com a Farmabase, distribui o Timet® no território Brasileiro. O Timet®, é uma fonte de metionina protegida da ação do rúmen, de interessante relação de preço-biodisponibilidade.
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Artigo original de Luis Depablos (luis.depablos@vetagro.com)
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