Nas últimas décadas, os problemas relacionados às afecções dos cascos dos bovinos adquiriram importância crescente, sendo considerados um dos mais prevalentes e dispendiosos desafios em rebanhos leiteiros. A maioria dos pesquisadores considera que as manqueiras, juntamente com os problemas reprodutivos e mastites, constituem as três principais causas de perdas econômicas na atividade.

O período de transição é crítico para a saúde da vaca leiteira e influencia a qualidade dos cascos. Nessa fase, em geral, os animais estão sujeitos à condições de manejo e ambientais adversas, resultantes da passagem de vaca seca para em lactação. Diante disso, o tecido córneo do casco, formado no período de transição, pode ser menos resistente às condições em que esses animais são submetidos.

Hormônios como prolactina - de extrema importância para o início da lactação - e glicocorticoides - importantes para que a prolactina desencadeie sua ação no tecido mamário, porém de capacidade depressora do sistema imune - têm os seus picos no dia do parto e interferem na qualidade do casco por meio da redução da síntese de queratina (proteína estrutural do tecido córneo).

Do ponto de vista nutricional, os aminoácidos tais como cistina, histidina e metionina desempenham papeis importantes na integridade da célula produtora de queratina, assim como os minerais e vitaminas.

Também no início da lactação, a demanda energética aumenta, resultando em mobilização de gordura para suprir tal necessidade. Isto reflete em redução do tecido gorduroso corporal, inclusive daquele presente no coxim digital, diminuindo a absorção do impacto durante a locomoção do animal.

Ainda, o mecanismo de equilíbrio do cálcio no sangue é intensamente acionado no periparto, uma vez que a maioria das vacas recém-paridas apresenta algum grau de hipocalcemia. Diante do papel fundamental que esse elemento desempenha sobre o processo de formação da queratina, isso se torna preocupante. Em um estudo recente, observou-se correlação positiva entre o crescimento da muralha e a dureza da sola com as concentrações de cálcio no pós-parto, ou seja, vacas que apresentaram níveis de cálcio sanguíneo abaixo do normal tiveram menor crescimento da muralha e uma sola menos dura.

Tudo isso ocorre, simultaneamente, em um período no qual as vacas se encontram com a imunidade comprometida, tornando-as menos competentes para responder de forma eficaz às enfermidades.

O tema “Influências do período de transição na qualidade dos cascos” será apresentado, durante a programação V Simpósio Internacional Leite Integral, pelo médico veterinário, mestre e doutor em Ciência Animal, Elias Jorge Facury Filho. O palestrante é professor da Escola de Veterinária da UFMG, nas disciplinas Clínica de Ruminantes e Medicina da Produção de Ruminantes. Além disso, participa do programa de pós graduação em Ciência Animal e trabalha com linhas de pesquisa nas áreas de período de transição de vacas leiteiras, doenças metabólicas, neuropatias em ruminantes, doenças parasitárias, fluidoterapia em bovinos, sistema locomotor dos bovinos, neonatologia e sanidade dos bezerros.

O V Simpósio Internacional Leite Integral acontecerá nos dias 8 e 9 de abril, na Expo Unimed, em Curitiba/PR e terá como tema “Período de Transição – Os dias mais importantes da vida de uma vaca”.

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