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Como a vida da vaca no período de transição pode afetar as suas crias?

POR VIVIANI GOMES

E FERNANDA RAMOS

VIVIANI GOMES

EM 12/02/2019

6 MIN DE LEITURA

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O termo programação fetal surgiu após estudos do professor Dr. David Barker, que constatou o efeito da subnutrição em mulheres grávidas, que passaram fome durante a Segunda Guerra Mundial, sobre a saúde dos seus filhos, que apresentaram alta incidência de doenças respiratórias, cardiovasculares e diabetes no decorrer da vida.

A programação fetal pode ser definida como os acontecimentos que acontecem durante a gestação, que podem afetar a vida produtiva ou reprodutiva das proles (filhos) a longo prazo. Aplicando esse conceito na produção leiteira, trata-se de qualquer evento ocorrido com a vaca na gestação que afeta a produção e o desempenho futuro das bezerras.

A gestação da vaca tem a duração de aproximadamente 284 dias, ou seja, um pouco mais do que 9 meses. A primeira metade da gestação (4,5 meses iniciais) é o período em que ocorrem o crescimento, desenvolvimento e a vascularização da placenta, juntamente com o desenvolvimento dos órgãos do feto. Já na segunda metade da gestação, principalmente nos últimos três meses finais, o feto já formado apresenta um rápido crescimento para atingir os 40 kg ao nascimento (Figura 1).

Figura 1. Curva de ganho de peso fetal de acordo com os dias de gestação materno (Adaptado de Bauman & Currie, 1980).

Ao final da gestação (período de transição), a vaca reduz o consumo de matéria seca em até 40%, ao mesmo tempo em que há aumento na demanda de energia para manter o crescimento rápido do feto e a produção de colostro.

Para suprir a demanda por energia são acionados diversos mecanismos como a “quebra” de gordura, com a formação dos de ácidos graxos não esterificados (NEFA, do inglês non-esterified fatty acid) e beta-hidroxibutirato (BHB). Ambos, NEFA e BHB são indicadores úteis sobre a intensidade da mobilização da reserva de gordura pelas vacas no período de transição.

As reações metabólicas que ocorrem no organismo resulta na produção de aproximadamente 2% de Espécies Reativas de Oxigênio - EROS (toxinas), porém o organismo tem substâncias antioxidantes suficientes para neutralizá-los. No desequilíbrio orgânico, a geração de EROS excede a capacidade antioxidante, o que ocasiona o estresse oxidativo, responsável por danos nas células, tecidos e órgãos.

Nas vacas ao final de gestação, o aumento das reações químicas para a produção de energia resulta no aumento da produção de EROS ao mesmo tempo em que ocorre a diminuição da ingestão de antioxidantes na alimentação pelo menor consumo de matéria seca. Nesta situação, existe uma tendência pró-oxidante e maior risco de o animal estar em estresse oxidativo.

Durante o período de transição, os metabólitos produzidos como NEFA e BHB deprimem a resposta imune das vacas no periparto, tornando-as mais predispostas aos processos inflamatórios decorrentes das infecções mamárias e uterinas.

Nos processos inflamatórios observa-se intensa produção de ERO’s pelas células do sistema imune. Esta combinação de estado pró-inflamatório no pós-parto imediato também estimula a mobilização de gordura.

Resumindo, as vacas que passam por esse estado de acentuada degradação em resposta a um desequilíbrio ocasionado pela mobilização excessiva de gordura, disfunção imune com resposta inflamatória exacerbada e estresse oxidativo, passam por um estado chamado de estresse metabólico.

Os três processos do estresse metabólico estão ligados diretamente e resultam em transtornos metabólicos e imunológicos, associados a um risco aumentado de doenças (Figura 2).

Figura 2. Representação esquemática das relações que acontecem durante o estresse metabólico, composto pelo estresse oxidativo, mobilização excessiva de gordura e disfunção das respostas imune e inflamatória (Adaptado de Abuelo, 2019).

As vacas passam pelo estresse metabólico quando não conseguem adaptar-se ao aumento intenso das necessidades nutricionais associado ao crescimento fetal e colostrogênese durante o período final da gestação. Os efeitos negativos do estresse metabólico são bastante estudados e têm impactos claros sobre a função imunológica, saúde e a produção da vaca em lactação.

A grande questão é: o estresse metabólico materno também tem impacto sobre o feto?

Ling e colaboradores (2018) realizaram estudo na Austrália com o objetivo elucidar se o estado metabólico materno durante o final da gestação. Em geral, os autores descobriram que os filhos de vacas que passaram por metabolização excessiva de gordura (alto NEFA e BHB) ou estresse oxidativo no pré-parto apresentaram menor peso corporal ao nascimento, maiores concentrações circulantes de haptoglobina (proteína marcadora de inflamação) e menor resposta imune.

Os resultados de Ling e colaboradores (2018) sugerem que o estresse metabólico das vacas no período pré-natal, ou seja, alteração na utilização de nutrientes, inflamação desregulada e estresse oxidativo, pode afetar negativamente algumas respostas metabólicas e inflamatórias da prole que poderiam influenciar a susceptibilidade a doenças. Assim, o estresse metabólico experimentado pelas vacas no pré-parto não tem impacto apenas sobre as vacas, mas também tem efeitos em seus descendentes.

Esses dados sugerem que a exposição pré-natal ao estresse metabólico materno pode afetar respostas metabólicas e inflamatórias da cria, que podem influenciar a suscetibilidade à doença durante a fase mais crítica na vida da bezerra, ou seja, seu primeiro mês de vida.

Para diminuir o estresse metabólico nas vacas deve-se minimizar a queda do consumo de matéria seca no pré-parto e a intensidade do balanço energético negativo. Para tanto, utilizamos como artifício o monitoramento do escore de condição corporal (ECC), sendo que o ideal é que a vaca não perca mais do 0,5 ponto na escala de 1 a 5 de ECC durante o período de transição, de modo que o ECC esteja ao redor de 3,0 no momento da parição. Ainda, o conforto das fêmeas deve ser maximizado porque está associado ao aumento no consumo de matéria seca e redução de exigências nutricionais adicionais relacionadas ao estresse ambiental, social e térmico.

Sendo assim, o estresse metabólico durante o final da gestação deve ser minimizado com estratégias nutricionais, manejo, conforto e de saúde durante este período. Garantindo esses pontos fundamentais, haverá um bom ambiente uterino e, consequentemente, bezerras saudáveis.

Referências bibliográficas

ABUELO, Angel et al. Redox Biology in Transition Periods of Dairy Cattle: Role in the Health of Periparturient and Neonatal Animals. Antioxidants, v. 8, n. 1, p. 20, 2019.

BAUMAN, Dale E.; CURRIE, W. Bruce. Partitioning of nutrients during pregnancy and lactation: a review of mechanisms involving homeostasis and homeorhesis. Journal of dairy science, v. 63, n. 9, p. 1514-1529, 1980.

LING, T. et al. Maternal late-gestation metabolic stress is associated with changes in immune and metabolic responses of dairy calves. Journal of dairy science, 2018.

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VIVIANI GOMES

Professora Clínica Médica de Ruminantes da FMVZ-USP. Coordenadora GeCria - Grupo Especializado em Medicina da Produção aplicada ao período de transição e criação de bezerras. Tel: (11) 3091-1331

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RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 04/03/2019

Prezadas Viviani e Fernanda

Parabéns pelo artigo; muito bem escrito!

Como indicadores da mobilização excessiva de gordura vcs sugeriram as mensurações de AGNE e BHB, o que eu concordo. Acho AGNE mais preciso, mas BHB é mais barato e mais simples, pois há testes que podem ser conduzidos ao "pé da vaca".

Minha pergunta é quais análises poderiam ser conduzidas para mensurar o grau de estresse oxidativo e a intensidade da disfunção imune e inflamatória? Algum destes testes teria o potencial de ser conduzido corriqueiramente em rebanhos comerciais?

Abraços e novamente parabéns pelo artigo.

Prof. Rodrigo de Almeida (UFPR)
VIVIANI GOMES

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 06/03/2019

Olá Rodrigo, tudo bem? Ficamos muito felizes com a sua leitura, já que o consideramos um dos experts em período de transição. A sua pergunta é extremamente interessante, porém a resposta é frustrante já que os testes ao "pé da vaca" para detectar inflamação, disfunção imune e estresse oxidativo são escassos. Inflamação usamos as proteínas de fase aguda como biomarcador, especialmente haptoglobina por método colorimétrico ou eletroforese em gel de policrilamida. Ao "pé da vaca" recomendo dosar fibrinogênio (necessário apenas banho maria, centrifuga de microhematócrito e refratômetro óptico) ou teste de coagulação do glutaraldeído. Este último teste é bem simples e se baseia na coagulação da solução de glutaraldeído após a adição de soro (maiores informações no artigo APPLICATION OF THE GLUTARALDEHYDE TEST IN CATTLE, J Vet Med, v. 54, p. 449-454, 2007), porém ressalto que é apenas um teste de triagem. Se a vaca apresentar BHB alto e estiver inflamada, a chance é grande de estar em estresse oxidativo. O estresse oxidativo avaliamos pelo TBARS e ao menos uma enzima antioxidante como glutationa peroxidase ou superóxido dismutase. As espécies reativas do oxigênio advindas da inflamação podem ser medidas em provas de fagocitose e produção de ERO's pelas células inflamatórias por citometria de fluxo ou fluorometria. A disfunção imune pode ser avaliada de diferentes formas dependendo da via da resposta imune que pretende investigar, mas geralmente a literatura está predestinada a testes laboratoriais. Existe alguns pesquisadores que avaliam a resposta celular por testes intra-dérmicos cujo princípio é semelhante a tuberculinização. Estou à disposição para maiores esclarecimentos, abraços e obrigada novamente pela atenção. Viviani
EM RESPOSTA A VIVIANI GOMES
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 06/03/2019

Prezada Viviani

Obrigado pela verdadeira aula que vc nos deu com a sua resposta! Alguns destes testes já tentamos, outros não conhecíamos e vamos nos informar mais, avaliando sua praticidade.

Abraços

Rodrigo
EM RESPOSTA A RODRIGO DE ALMEIDA
VIVIANI GOMES

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 07/03/2019

Rodrigo, estamos à sua disposição para colaborar, esclarecer dúvidas ou treinar a sua equipe em relação aos testes citados. Abraços. Vivi
LARISSA TEMP

PARAÍSO DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - ESTUDANTE

EM 14/02/2019

Boa tarde, gostaria de entender melhor porque a vaca diminui a ingestão de MS em até 40% no final de gestação, ao mesmo tempo em que há aumento na demanda de energia para manter o crescimento rápido do feto e a produção de colostro? Ela não precisaria aumentar no caso a ingestão dessa MS?
FERNANDA RAMOS

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 18/02/2019

Olá, Larissa!

Você está certa, a vaca precisaria aumentar sua ingestão de matérias seca para suportar esse aumento de demanda devido ao crescimento do feto e produção de colostro! No entanto, ao final do período seco, a fêmea passa por momento com diversas alterações fisiológicas, metabólicas e até mesmo físicas que fazem com que ela reduza o consumo de alimentos. Por exemplo, existe uma elevação da pressão interna nos órgãos devido ao crescimento do feto, o que provoca a diminuição física de órgãos digestivos como o rúmen. Este fato associado com a grande variação hormonal no período pré-parto, ou seja, um aumento nas concentrações sanguíneas de estrógeno e corticoides e uma queda nas concentrações de progesterona, reduz o consumo de matéria seca em até 40%, predispondo o animal a um balanço energético negativo.

A diminuição no consumo de matéria seca no final do período seco e início da lactação tem sido bastante estudada. Estas mudanças precisam ser consideradas nas formulações da dieta dos animais pré-parto para que se consiga uma ingestão de nutrientes adequada neste período.

Obrigada pela pergunta e estamos à disposição.

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