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O vilão do processo de ensilagem e suas consequências

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 15/02/2005

7 MIN DE LEITURA

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por Lucas José Mari1 e Luiz Gustavo Nussio2

1. INTRODUÇÃO

O processo de ensilagem prevê a conservação da forragem sob condições anaeróbicas e de baixo pH. Portanto sabe-se da importância da manutenção das condições anaeróbicas durante a ensilagem, pois apenas sob essas condições é que as bactérias láticas conseguem dominar a fermentação e abaixar o pH.

A presença do oxigênio traz como principal conseqüência o aumento de temperatura da massa ensilada. Com isso, os principais e mais importantes nutrientes são afetados, como carboidratos solúveis (CS), proteína bruta (PB), entre outros. A energia liberada pela respiração (oxidação) de carboidratos é responsável pelo aumento da temperatura na massa ensilada.

Para que isso não ocorra, é necessário concluir o processo de ensilagem no menor tempo possível. Entretanto, na maioria dos casos, torna-se difícil que o processo de vedação do silo seja finalizado no decorrer de horas ou até mesmo em poucos dias. Algumas culturas necessitam de emurchecimento prévio, determinando quatro fases aeróbicas distintas, como proposta por McDonald et al. (1991):

  • 1. Fase inicial: ocorre no campo, é responsável por perdas respiratórias e acontece, principalmente, em culturas que necessitam de emurchecimento (capins);

  • 2. Fase aeróbica no silo: ocorre no momento do enchimento, com a compactação demorada e/ou atraso na vedação;

  • 3. Fase de infiltração de ar: aquela que acontece durante o processo fermentativo, normalmente devido às falhas na vedação;

  • 4. Deterioração aeróbica após a abertura: essa deterioração sempre ocorre, no entanto, é inflacionada por culturas mais instáveis aerobicamente seja por características da própria cultura, seja pelo tipo de fermentação ocorrida.
Em virtude do oxigênio ser o principal responsável pelo aumento da temperatura durante o processo de ensilagem, será discutido nesse artigo as fases possíveis de aeração e suas conseqüências sobre a qualidade das silagens.

2. FASE INICIAL AERÓBICA NO SILO

A quantidade inicial de oxigênio (O2) residual no silo é rapidamente utilizada pelo sistema. Sprague (1974) mensurou a quantidade de O2 presente em silos plásticos com 2 m de diâmetro e verificou que 90% do O2 total inicial foi utilizado nos primeiros 15 minutos e menos de 0,5% da quantidade inicial restou após 30 minutos do fechamento. Essa perda foi atribuída à alta taxa respiratória do tecido (células) vegetal após o corte.

Para Greenhill (1964) a lise celular e liberação de frações solúveis através da plasmólise são os pré-requisitos para o desenvolvimento de bactérias ácido láticas (BAL), especialmente nos estágios iniciais. No estudo de Greenhill, aos 25 e 30 ºC, a infiltração de O2 atrasou a lise celular em 3 dias. Em temperaturas superiores (35 e 40 ºC) a lise ocorreu antes (15 e 4,5 h, respectivamente), provavelmente devido ao aumento da taxa de respiração. O efeito do atraso na lise refletiu o alto valor de pH após 72 h (Tabela 1).

Tabela 1 - Efeito da temperatura e infiltração de oxigênio na lise celular e fermentação.

Notas: 1 Fechamento imediato; 2 Aeração permitida.
Fonte: Adaptado de Greenhill, 1964.

Vários autores testaram o efeito de se atrasar o fechamento dos silos sobre o processo fermentativo. Na maioria dos casos isso levou à redução na quantidade de ácido lático produzido e, freqüentemente, a fermentação lática foi substituída pela clostrídica. O efeito de se atrasar o fechamento do silo é o de reduzir os teores de CS disponíveis para a fermentação e, a menos que seja uma cultura com quantidade suficiente de CS, o ácido lático produzido será insuficiente para inibir o crescimento de Clostridium spp. Em culturas de leguminosas o atraso em 12 horas no fechamento do silo é capaz de modificar a fermentação lática por butírica (Yoder et al., 1960).

Em estudo que demonstrou o efeito da infiltração de ar na massa de azevém (Lolium perenne) ensilado, Ruxton & McDonald (1974) observaram que as silagens com baixa infiltração de O2 estavam bem preservadas e não apresentavam fermentação butírica, enquanto que aquelas com altos teores de O2 (6,59 mL O2 g-1 MV) apresentaram-se com altos valores de pH e quantidades apreciáveis da ácido butírico e amônia (Tabela 2).

Tabela 2 - Efeito da concentração de oxigênio sobre as características fermentativas da massa ensilada.

Notas: 1 0,26 mL O2 g-1 MV; 2 6,59 mL O2 g-1 MV.
Fonte: Ruxton & McDonald, 1974.

Em culturas com altos teores de MS ou que tenham sofrido emurchecimento, ocorre a dificuldade de acomodação da massa compactada, a razão ar:forragem é mais alta, sendo assim, para esses materiais é ainda mais importante o enchimento rápido e o fechamento imediato do silo.

3. FASE DE INFILTRAÇÃO DE AR

A quantidade de ar (O2) que penetra no silo durante o período de estocagem tem influência marcante sobre a composição química do produto final e sobre as perdas de nutrientes.

Uma prática comum para amenizar a entrada de ar durante a estocagem é a aplicação de cobertura sobre a lona plástica. Normalmente ela é feita com certa quantidade de terra ou sacos cheios com areia ou ainda com pneus velhos.

Mesmo após a vedação do silo, alguma quantidade de O2 pode penetrar na massa ensilada e essa quantidade irá variar de acordo com a densidade da massa, sua estrutura física e os seus teor de MS (McDonald et al., 1991)

4. DETERIORAÇÃO AERÓBICA APÓS A ABERTURA

Quando ocorre a abertura do silo e inicia-se o fornecimento aos animais, o ambiente anaeróbico é substituído pelo aeróbico rapidamente. Sob essas condições, certos microrganismos que estavam dormentes, na ausência do oxigênio, se multiplicam, resultando em deterioração da silagem. Sensorialmente, essa deterioração pode ser identificada por visualização de pontos de crescimento de mofos e aumento de temperatura. O processo de deterioração é comumente conhecido como fermentação secundária ou pós-fermentação, mas esses termos são inadequados uma vez que o processo de fermentação, pela definição, ocorre somente sob condições anaeróbicas, enquanto a deterioração segue e via aeróbica (McDonald et al., 1991).

5. CONSEQUÊNCIAS DO OXIGÊNIO SOBRE A QUALIDADE DAS SILAGENS

Com a penetração de oxigênio e o conseqüente aumento da temperatura ocorre mudanças na disponibilidade de certos nutrientes.

O aumento da temperatura sobre a fração protéica traz como conseqüência a indisponibilidade de certa fração da proteína total. Novas ligações dentro e entre peptídeos são formadas. Essas novas ligações são resistentes às proteases do trato digestivo dos bovinos o que impedem sua completa digestão (McDonald et al., 1991).

A susceptibilidade ao dano pelo aumento da temperatura é maior na presença dos carboidratos, o que pode ser bem comum em silagens de cereais mal conduzidas. A principal reação é a chamada reação de Maillard, na qual ocorre a condensação entre o grupo carbonila do carboidrato com a porção amina livre do aminoácido ou proteína (McDonald et al., 1991).

O efeito da aeração sobre o crescimento de microrganismos e parâmetros fermentativos foi estudado por Willians et al. (1997) e o resultado está sumarizado na Tabela 3.

Tabela 3 - Parâmetros fermentativos e contagem de microrganismos de silagens de azevém submetidas ou não à ventilação forçada por 20 dias.

Fonte: Willians et al. (1997)

Nota-se na Tabela 3 que houve queda no teor de MS o no teor de CS, isso corresponde à utilização dos CS, na presença do O2, gerando água metabólica e CO2. Houve também aumento em 25% no nível de N-total, provavelmente devido à concentração das frações em virtude do desaparecimento de CS. A utilização de CS residuais também pode ser notada pelo aumento da contagem de microrganismos conforme houve perfusão de O2.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante assegurar que a ensilagem ocorra no menor tempo possível e que a retirada da silagem ocorra em intensidade suficiente para diluir os efeitos da deterioração aeróbica ocorrida no painel do silo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GREENHILL, W.L. Plant juice in relation to silage fermentation. I - The role of the juice. Journal of the British Grassland Society, v.19, p.30-37, 1964.

HARRISON, J.H., JOHNSON, L., RILEY, R., XU, S., LONEY, K., HUNT, C.W., SAPIENZA, D. Effect of harvest maturity of whole plant corn silage on milk production and component yield and passage of corn grain and starch into feces. Journal of Dairy Science, v.79, suppl.1, p.149, 1996.

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MEHREZ, A.Z., ØRSKOV, E.R. A study of the artificial fibre bag technique for determining the digestibility of feeds in the rumen. The Journal of Agricultural Science, v.88, p.645-650, 1977.

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RUSSELL, J.R., IRLBECK, N.A., HALLAUER, A.R., BUXTON, D.R. Nutritive value and ensiling characteristics of maize herbage as influenced by agronomic factors. Animal Feed Science and Technology, v.38, p.11-24, 1992.

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1 Médico Veterinário, Mestre, Doutorando em "Ciência Animal e Pastagens" - USP/ESALQ.
2 Professor Associado do Departamento de Zootecnia - USP/ESALQ - Piracicaba, SP.


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