Por Thiago Fernandes Bernardes¹

Um grande número de fazendas tem produzido silagens de alta qualidade devido aos cuidados tomados durante todo o processo de ensilagem (corte, colheita, picagem, compactação, vedação e uso de aditivos), porém com alta freqüência tem dimensionado erroneamente seus silos devido ao aproveitamento de estruturas já existentes na propriedade e/ou mesmo a construção destas, desvinculadas da previsão da camada a ser removida diariamente, em função do número de animais a serem alimentados, o que tem provocado elevadas perdas de silagem, causando sérios prejuízos à exploração pecuária onde o recurso silagem é usado no período crítico de disponibilidade de forragem.

A inobservância dos processos de oxidação de nutrientes pelos microrganismos aeróbios, e a conseqüente deterioração da silagem após a abertura do silo tem tido pouca importância na prática por se tratar na maioria das vezes de um problema assintomático. Dificilmente os produtores acreditam em perdas elevadas, pois só consideram as visíveis, que ocorrem por presença de fungos ou apodrecimento, onde essas na verdade subestimam as verdadeiras perdas ocorridas no processo.

Além das perdas de nutrientes ocorridas devido à presença de microrganismos indesejáveis, a qualidade sanitária de silagens deve ganhar atenção nas pesquisas e nas propriedades rurais por se constituir numa das possíveis fontes de contaminação de produtos como o leite e a carne, além dos riscos associados à saúde humana e animal.

Dentre os ruminantes as vacas leiteiras são altamente expostas à ação destes fatores indesejáveis devido à dependência de volumosos conservados como feno ou silagem e quando são alimentadas com forragem contaminada por esporos de clostrídeos ou presença de micotoxina, o leite contaminado pode levar sérios problemas para a fabricação de queijos.

No vale do rio Pó, região de Torino - Itália dos 11,2 milhões de kg de leite que são produzidos anualmente, 10,7 são destinados à produção de queijo, dessa forma Borreani et al. (2003) conduziram um estudo com o objetivo de criar estratégias de manejo que previna a deterioração aeróbia em silagens de milho e conseqüentemente melhore a qualidade higiênica do leite durante a caseificação (Tabela 1). Cerca de 36 fazendas foram incluídas na pesquisa e divididas em três grupos: A (deterioração aeróbia evidente durante o inverno e o verão), B (silagens com deterioração aeróbia somente no verão) e C (silagens sem fenômeno de deterioração).

As fazendas do grupo C foram caracterizadas por um consumo superior de silagem e elevada produção de leite por vaca (superior a 11.000 kg/ano). Observa-se também que nestas propriedades houve maior número de silos, com dimensões inferiores, o que determinou menor área de exposição ao ar devido a uma rápida progressão na retirada de silagem. Durante o período do verão, as temperaturas das silagens foram superiores, para os três grupos de fazendas, demonstrando que durante esta fase, o alimento é mais propenso à deterioração aeróbia, devido às condições favoráveis para o crescimento dos microrganismos, o que determina uma maior velocidade de descarregamento, como no caso das fazendas do grupo C (até 31 cm/dia).

Tabela 1. Índices técnicos de fazendas produtoras de leite e das silagens de milho utilizadas na alimentação


Fonte: Borreani et al. (2003)

A menor ingestão de silagem observada nas fazendas do grupo A e B pode ser resultado de uma baixa aceitabilidade, reduzida taxa de passagem pelo rúmen e desbalanceamento no suprimento de nitrogênio e de energia no ambiente ruminal para a efetiva síntese de proteína microbiana, devido ao processo de deterioração após a quebra da vedação.

Em função do crescimento de microrganismos indesejáveis, tem-se a utilização de carboidratos solúveis, compostos nitrogenados e vitaminas. Desta forma, há diminuição no conteúdo celular e aumento percentual na porção referente aos constituintes da parede celular, o que resulta em diminuição do valor nutritivo.

Portanto, no momento de planejar a construção do silo deve-se estar atento a camada diária a ser removida (mínimo de 20 cm), principalmente quando a utilização estiver sendo realizada durante o período do verão. Quanto ao número de silos, não existe regra, o importante é que ao invés de se construir um ou dois silos grandes, deve-se ter preferência por vários silos com menores dimensões.

Bibliografia consultada

BORREANI, G.,TABACCO, E., GIACCONE, D., ARRU, R., PEIRETTI, P. G., CAVALLARIN, L. Influenza del deterioramento aerobico degli insilati di mais sulla qualità del latte destinato alla caseificazione di Grana Padano. Grugliasco: Università Degli Studi di Torino, 2003, 5p.

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¹Departamento de Zootecnia - UNESP/Jaboticabal