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Controle da deterioração aeróbia de silagens: parte 1

THIAGO FERNANDES BERNARDES

EM 29/09/2005

6 MIN DE LEITURA

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Por Thiago Fernandes Bernardes1; Gustavo Rezende Siqueira2; Rafael Camargo do Amaral3

O deterioramento aeróbio de silagens ou estabilidade aeróbia (geralmente utilizado nas pesquisas) nos últimos anos tem ganhado atenção especial dos estudiosos do assunto, pois até o momento era considerado uma lacuna dentro do sistema de produção de silagens, isto é, fazia parte da analise pericial, porém não era investigada como a principal causa dos prováveis insucessos.

A cada triênio, o meio científico se reúne, através da International Silage Conference, para discutir os problemas e as possíveis soluções relacionadas com a ensilagem. Até o ano de 1996, poucos eram os trabalhos relacionados com este tema, contudo a partir do encontro de 1999, realizado na Suécia, foi criada uma sessão especial para o assunto deterioramento aeróbio (denominado Determination and Control of Aerobic Instability). Atualmente, a grande maioria dos resultados de pesquisas que são publicados em periódicos especializados (Journal of Dairy Science; Grass and Forage Science) de alguma forma também estão relacionados com este tema.

Alguns trabalhos como o de Kitamoto et al. (1999) estudaram a seleção de microrganismos geneticamente modificados, capazes de impor um efeito estabilizante, com a proposta de desenvolver tecnologias na produção comercial de inoculantes. Academicamente é uma pesquisa de encher os olhos, com uma visão futurista do sistema de produção, porque o tema engenharia genética é a nova do momento. A globalização uniu os povos e junto dela houve uma internacionalização dos temas e de suas problemáticas. Porém, é preciso aterrisar e colocar os pés no chão e entender que as dificuldades encontradas na fazenda (no caso do Brasil) vão muito além dos problemas encontrados nas metodologias para se desenvolver um estudo como este.

Os inoculantes são ferramentas importantes dentro da cadeia produtiva (ensilagem de cana-de-açúcar é um exemplo), porém não possuem efeitos terapêuticos, para "curar" os erros que são cometidos durante o manejo, como em algumas situações tem sido entendido por alguns produtores ou tem sido alvo de propaganda de algumas empresas que não são idôneas.

Então, as perguntas que pairam no ar são: Por que estamos dando tanto valor a este assunto? Se a deterioração aeróbia é um fato verídico, quais são os resultados que temos até o momento? Dentro da fazenda, é possível gerir os silos de forma que este fenômeno não aconteça? Desse modo, o texto a seguir fará inferências a algumas dessas respostas que nos como técnicos, juntamente com os produtores, estamos em busca para reduzir as perdas produtivas e garantir a qualidade dos nossos produtos.

Durante a ensilagem, basicamente, existem 4 formas em que o ar pode penetrar na massa:
a) quando o silo está ainda fechado, pela presença de furos na lona;
b) pela permeabilidade da lona ao oxigênio;
c) através das paredes laterais, devido a falhas na vedação,
d) e sobretudo durante a fase de utilização e fornecimento de silagem aos animais.

Nestas condições, alguns microrganismos (leveduras, bactérias aerobias e fungos) iniciam a multiplicaçao muito velozmente a cargo das substâncias energéticas contidas na forragem, determinando perda de produto ensilado e de seu valor nutritivo que se repercute sobre a performance animal.

O Professor Clôves Jobim com freqüência aborda em suas apresentações que o produtor deve estar atento ao Coeficiente de Aproveitamento da Silagem (CAS), que pode ser determinado, segundo a equação: CAS = silagem consumida / quantidade ensilada. Descontando-se o CAS obtido do valor 1, obtêm-se a estimativa das perdas durante o processo (Ex.: (1-0,9) x 100 = 10% de perdas). O CAS determina o custo real da tonelada de silagem produzida (Custo/tonelada de silagem = Custo da ensilagem/CAS). Dessa forma, assumindo que o custo de uma tonelada de silagem de milho é de R$ 65,00 e o CAS é de 0,9 o custo real passa a ser de R$ 72,22 (R$ 65,00/0,9), ou seja, 11% mais cara.

Por esta razão, é necessário colocar em ação todas as armas possíveis para evitar a penetração de ar no silo durante a conservação e reduzir os efeitos negativos que o oxigênio tem durante o descarregamento. Portanto, os pontos chaves que serão tratados são:

1) enchimento e compactação;
2) vedação;
3) avançamento diário no painel.

Enchimento e compactação

Quanto mais a massa ensilada é porosa, maior será a facilidade para o ar penetrar no seu interior. A prerrogativa essencial para conter o deterioramento aerobio é portanto a redução da porosidade da silagem, ou seja, aumentar a quantidade de forragem por unidade de volume (elevar a densidade). Alguns trabalhos de pesquisa realizados em fazendas (Ruppel et al., 1995; Holmes & Muck, 1999; Bolsen et al., 2000; Johnson & Harrison, 2001; Uriarte-Archundia, 2001) mostraram que dentre os fatores que afetam a densidade da massa em silos horizontais (trincheira e superfície) destacam-se o teor de MS da forragem, o tamanho de partícula, a altura da camada distribuída no silo durante o enchimento, o peso do veículo e a pressão que este exerce, tempo de compactação e altura do silo.

Um estudo realizado junto a 40 fazendas na região do Piemonte (Itália) mostrou que os valores de densidade na região central dos silos (tipo trincheira) variaram de 230-240 kg MS/m3 e nas regiões periféricas (topo e próximas a parede) a densidade foi de 70-100 kg MS/m3 (Tabacco & Borreani, 2002). Portanto, para este tipo de estrutura deve haver particular atenção para evitar zonas periféricas com pendências, tanto nas laterias, quanto nas extremidades.

Para silos do tipo superfície, a situação se agrava devido a ausência de sustentação durante a compactação, então as silagens contidas neste espaço estão mais sujeitas à deterioração aeróbia. Desse modo, é indispensável evitar dimensões excessivas, sobretudo quanto a altura, para que o equipamento que esteja efetuando a pressão possa transitar em dois sentidos (comprimento e largura) durante a compactação. Em silos do tipo superfície, compactar com baixa eficiência os lados, significa, que pelo menos 50% da massa está condenada à deterioração.

No próximo texto (parte 2) abordaremos os temas vedação e avançamento diário do painel.

Literatura consultada

BOLSEN, K. K., HUCK, G. L., SIEFERS, M. K., SCHMIDT, T. E., POPE, R. V., URIARTE-ARCHUNDIA, M. E. Silage Management: Five Key Factors. Manhattan: Kansas State University, 2000, 10 p.

DICKERSON, J. T. Rate and extent of top spoilage losses in horizontal silos. Dissertation - Doctor of Philosophy, Kansas State University, Manhattan, 1992, 138p.
HOLMES, B. J., MUCK, R. E. Factors affecting bunker silos densities. Madison: University of Wisconsin, 1999. 7p.

JOHNSON, L. M., HARRISON, J. H. Scientific aspects of silage making. In: CALIFORNIA ALFALFA AND FORAGE SYMPOSIUM. 31, Modesto. Proceedings... Modesto: University of California, 2001.

KITAMOTO, H.K.; HASEBE, A.; OHMOMO, S. Prevention of aerobic spoilage of maize silage by a genetically modified killer yeast, Kluyveromyces lactis, defective in the ability to grow on lactic acid. Applied and Environmental Microbiology, v. 65, p.4697-4700, 1999.

RUPPEL, K. A., PITT, R. E., CHASE, L. E., GALTON, D. M. Bunker silo management and its relationship to forage preservation on dairy farms. Journal Dairy Science, v. 78, p. 141-1453, 1995.

TABACCO, E., BORREANI, G. Come contrastare il deterioramento aerobico negli insilati di mais. Informatore Agrario, n. 15, p. 105-111, 2002.

URIARTE-ARCHUNDIA, M. E. A study of the chemical and microbial changes in whole-plant corn silage during exposure to air: Effects of stage of maturity, packing density, sealing technique and a biological additive. Dissertation - Doctor of Philosophy, Kansas State University, Manhattan, 2001, 123p.

_________________________________
1Thiago Fernandes Bernardes, Doutorando pela UNESP/Jaboticabal e Università Degli Studi di Torino, Italia;

2 Gustavo Rezende Siqueira, Pesquisador do Pólo Regional da Alta Mogiana e Doutorando da UNESP/Jaboticabal;

3 Rafael Camargo do Amaral, Zootecnista, Mestrando em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP.

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DECIO ABACHERLY

ADAMANTINA - SÃO PAULO

EM 01/10/2005

Ja fiz muito silo em fazendas, mas tenho algumas duvidas: Um silo pode ser reensilado, por exemplo eu abro o silo pego aquela massa e coloco em outro lugar compacto novamente e cubro e depois vou usando deste material isso é possivel ou não.



<b>Resposta do autor</b>



Prezado Leitor,



Como foi citado no texto, a aeraçao da massa ensilada provoca o desencadeamento de uma serie de fatores que sao negativos para a qualidade do produto. O ideal é que depois de confeccionada, a silagem nao seja removida do local de origem, mas se esse processo for realizado de uma maneira rapida e a vedaçao cuidadosa do silo for obedecida, eu nao vejo problemas. Porém, o Sr. deve estar ciente, que ocorrerá perdas qualitativas e quantitativas de silagem. Dentro da fazenda, tudo é proporcional ao possível, tendo um motivo, quase tudo é aceitável.



Thiago F. Bernardes
MARCOS OTTONI DE ALMEIDA

GUARATINGUETÁ - SÃO PAULO

EM 29/09/2005

Prezado Thiago,



Muito interessante esta 1ª parte do artigo. Gostaria também que você fizesse algum comentário, sobre a, digamos, "higiene" durante o preenchimento dos silos. Pois, sabemos que as rodas dos tratores, nem sempre são limpas e nem os calçados dos que estão operando no preenchimento.



Além disso, qual a conseqüência da contaminação da silagem pela terra? Sabemos que na França e Suíça, deve-se tomar muito cuidado com a terra na silagem, por causa de problemas que causarão na fabricação de alguns queijos, como os que têm bolhas no seu interior.



Também gostaria de perguntar se não pode haver conseqüências negativas durante a silagem, devido a insetos e ervas que, normalmente, são misturados junto à massa verde, durante a colheita e picagem do material.



Atenciosamente,



Marcos Ottoni de Almeida





<b>Resposta do autor </b>



Prezado Marcos,



Muito interessante as suas perguntas.



Durante o enchimento do silo ocorre a contaminação de microrganismos que estão presentes no ambiente e conseqüêntemente com a terra. No solo estão presentes bactérias do gênero <i>Clostridium</i>, onde estes microrganismos são considerados negativos dentro do processo de produção, pois eles podem se desenvolver durante a fermentação (quando existe alta umidade e alto poder tampão na massa) e também durante a deterioração aeróbia (particularmente em silagens de milho).



Do ponto de vista fermentativo, eles são indesejáveis porque competem com as bactérias ácido-láticas por substrato (açucares) e também existem espécies que destroem os aminoácidos, trasformando-os em amônia (fator que pode reduzir o consumo de silagem).



Do ponto de vista higienico-sanitário, por ser uma espécie esporogênica, elas sobrevivem durante a passagem no ambiente gastrointestinal dos ruminantes e contaminam as fezes. Uma vez que as fezes estão contaminadas (carga bacteriana alta) pode haver a contaminação do leite e conseqüêntemente do queijo.



Aqui na Itália e em alguns países europeus, como você fez menção, para determinados tipos de queijo, o consumo de silagem pelas vacas é proibido. Isso porque eles possuem queijos com um período de cura muito longo (12 meses). Como o "ambiente" de uma silagem è muito similar ao "ambiente" de um queijo (anaerobiose, pH, substrato) os clostrídeos podem retomar o seu desenvolvimento quando o leite esta contaminado e causar um inchaço (do italiano <i>gonfiore tardio</i>). Desse modo, a indústria alimentícia deve descartar essas peças para queijo do tipo ralado, perdendo o seu valor comercial se fosse vendida em uma unica peça.



Atenciosamente,



Thiago Bernardes

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