Os principais motivos são a busca de oportunidades de emprego, além da mudança no padrão de vida, com maior facilidade de acesso aos meios de comunicação e à vida social urbana. Há também os conflitos familiares, que estimulam a preferência do jovem em prestar serviços em troca de um salário do que trabalhar dentro da propriedade - onde a remuneração pelo seu trabalho nem sempre é definida com exatidão.
A faixa etária da população do campo é alta e, com o passar do tempo e o envelhecimento dos pais, a tendência é que as propriedades sejam vendidas ou haja a transição da pecuária leiteira para outra atividade que demande menos mão de obra, como a pecuária de corte ou a silvicultura. A permanência do jovem no campo é também uma questão bastante complexa, pois envolve aspectos econômicos e sociais, já que é preciso que haja melhorias nos setores da saúde, educação e comunicação.
Sucessão não é sinônimo de herança, mas sim uma obra contínua de modernização do negócio da família. Então, nada mais natural do que planejar e organizar o formato no qual haverá uma transferência do comando do atual responsável para um dos possíveis sucessores.
Para homenagear fazendas leiteiras que têm um histórico familiar, o MilkPoint lançou neste ano de 2017 o Especial Sucessão Familiar. A ideia é entrevistar propriedades que deram certo e vêm se desenvolvendo ao longo de gerações. Nesta edição, trouxemos a história da propriedade pertencente à Família Júlia, localizada no município de Salto do Lontra/PR.
“Em 1989 adquirimos um sítio de 17 hectares. Cultivávamos feijão, milho e leite apenas para o consumo interno. Quando sobrava leite, nós fazíamos queijos e vendíamos para os queijeiros que passavam, porém, tínhamos um sonho em comum: produzir leite para a venda. Em 1992, em parceria com a Souza Cruz, passamos também a produzir fumo. Com a renda da agricultura, conseguimos investir no leite e fomos nos equipando aos poucos”, disse o pecuarista Vilmar Julia.
Vilmar passou a receber convites da Emater para participar de cursos e palestras sobre a atividade. Em 1994 comprou o 1º trator e - em 1995 - uma ordenhadeira. “Quando compramos a ordenhadeira, a produção diária era de 4 litros/dia e possuíamos 14 vacas em lactação. Já em 1996, adquirimos nosso primeiro carro. Em 1999 adquirimos mais 5 hectares de terra e em 2001 - em parceria com o Banco do Brasil - financiamos uma estrebaria e um tanque de expansão com acompanhamento da Emater”.
Hoje a produção da família Julia é de 950 litros/dia. O rebanho possui 106 cabeças com 48 vacas em lactação. A raça utilizada é a Holandesa e o sistema de criação semiextensivo, com os animais pastejando nos piquetes.
Sucessão familiar – o caso da família Julia
Atualmente, os dois filhos de Vilmar trabalham na propriedade e, para ele, o processo de sucessão familiar é uma das melhores formas de otimizar um negócio, não somente pela transição de gerações, mas também por todo o processo. “Me sinto muito orgulhoso em ter dois filhos trabalhando comigo e melhor ainda: dentro de um negócio familiar. Temos que ser parceiros dos nossos filhos, fazer as atividades juntos e inclusive, comemorar aniversários e outras festas em geral. Um dos segredos é deixar os seus filhos à vontade para decidirem qual atividade escolher e, se eles optarem pelo negócio familiar, precisam participar das decisões, afinal, fizemos um compromisso juntos”, destacou.
Com relação a resolução de conflitos e profissionalização da família, ele acrescenta que conflitos ‘existem nas melhores famílias’ mas uma boa formação – inclusive religiosa – contribui muito para todos compreenderem o que é certo e o que é errado. “Muitas vezes o silêncio fala mais do que o restante. Em outros desentendimentos, as reuniões diárias são bem-vindas, acompanhadas de um bom chimarrão. Assim, tudo se ajeita”.
Ele ressalta que nunca o valor capital deve sobrepor os valores familiares e a lida exige que todos cedam. “Não fique dizendo ao seu filho que a atividade rural é ruim ou que ela escraviza. Faça com que ele observe o crescimento da propriedade e relembre sempre as dificuldades do passado, festejando cada conquista. Também, dê a ele condições de retirar um tempo para se divertir”, completa.
Isomar Julia, um dos sucessores da família, também se sente muito orgulhoso em poder ajudar o pai e a família. “Também tenho muito orgulho em ser produtor rural. Trabalhei na cidade, não gostei muito e hoje no campo, as coisas mudaram muito, já que as tecnologias estão nos ajudando demais”.
Assista abaixo o vídeo gravado na propriedade da família Julia:
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