A faixa etária da população do campo é alta e, com o passar do tempo e o envelhecimento dos pais, a tendência é que as propriedades sejam vendidas ou haja a transição da pecuária leiteira para outra atividade que demande menos mão de obra, como a pecuária de corte ou a silvicultura. A permanência do jovem no campo é também uma questão bastante complexa, pois envolve aspectos econômicos e sociais, já que é preciso que haja melhorias nos setores da saúde, educação e comunicação. Sucessão não é sinônimo de herança, mas sim uma obra contínua de modernização do negócio da família. Então, nada mais natural do que planejar e organizar o formato no qual haverá uma transferência do comando do atual responsável para um dos possíveis sucessores.
Para homenagear fazendas leiteiras que têm um histórico familiar, o MilkPoint lançou no último mês de março o Especial Sucessão Familiar. A ideia é entrevistar propriedades que deram certo e vêm se desenvolvendo ao longo de gerações.
Na 4ª edição, trouxemos a história da Fazenda O Rancho, localizada no município de Santana do Livramento, no Estado do Rio Grande do Sul. O início foi em 1996 com Renato Munhoz Rodrigues, que trouxe 12 vacas da raça Holandesa do Uruguai. A Equipe MilkPoint entrevistou Isadora Lencina Rodrigues, filha de Renato, que é médica veterinária e hoje trabalha junto aos seus pais na produção leiteira.
Isadora Lencina Rodrigues
“Além dos funcionários, meu pai, a minha mãe (Sonia) e eu acompanhamos diariamente todas as atividades”, explica Isadora. Segundo ela, controles quinzenais são realizados em relação à produção de leite individual bem como, controle reprodutivo e sanitário. “Tudo é realizado por mim com auxílio do meu pai em algumas atividades. Coordeno também a área administrativa”.
“Desde então, estou inserida diretamente nas atividades, enfrentando as crises e os problemas e aprendendo muito todos os dias, principalmente com o meu pai, que apesar de não ter formação superior (apenas concluiu o 2º grau completo), conhece muito a atividade, os animais e todo o sistema. É nítido que hoje O Rancho está muito mais organizado em todos os sentidos comparado há dois anos, quando eu não trabalhava na propriedade. A inserção dos jovens é muito importante, mas infelizmente muitos pais não preparam seus filhos para serem sucessores e quando chega o momento de alguém assumir o negócio, devido à falta de experiência, a família se endivida. Vale destacar que o jovem deve se sentir realizado na atividade em que está inserido”.
Hoje a produção diária do Rancho gira em torno de 1700 litros e todas as fêmeas são inseminadas quando demonstram cio natural. A IATF (inseminação artificial em tempo fixo) é aplicada em lotes programados baseados nas datas de parição, o sêmen sexado é utilizado nas novilhas e indicações técnicas e programas de acasalamento das vacas e novilhas são explorados.
A raça preponderante é a Holandesa e o sistema escolhido é a criação a pasto em campo nativo com acréscimo de ração, silagem de milho e silagem de grão úmido de milho. As terneiras são criadas em grupos definidos por idade e tratadas com muito capricho, já que a família aposta nelas para o futuro do tambo.
Resolução de conflitos e profissionalização da família
De acordo com Isadora, para evitar conflitos e viver em harmonia, todos os problemas são resolvidos em conjunto, principalmente quando envolvem fases de mudanças.
“Nenhuma decisão na fazenda é tomada individualmente, sempre sentamos e debatemos o assunto em questão. Eu noto que a principal dificuldade hoje em um processo de sucessão familiar é a própria relação entre os pais e os filhos. Muitos pais não aceitam as propostas dos filhos e muitos filhos, não dão valor para a experiência dos seus pais. É preciso um equilíbrio entre a opinião de ambos”.
Ela acredita que os pais deveriam ensinar os seus filhos a não trabalharem apenas pelo dinheiro, mas sim, a valorizarem o trabalho no qual eles estão inseridos. “Sempre tem alguém por trás na produção de qualquer alimento, desde leite até carne, soja, hortaliças e frutas. Os jovens devem ser estimulados pela sua família pois hoje em dia a qualidade de vida no campo pode sim ser tão boa (ou até melhor) quanto a vida urbana. Se os acessos através das estradas forem bons, então nem se fale”.
Isadora finalizou a entrevista indicando uma frase na qual ela se inspira todos os dias: “Pais inteligentes formam sucessores, não herdeiros”, do Augusto Cury.
Confira as edições anteriores:
Especial Sucessão Familiar, Fazenda Riachão: "desmistifiquei a frase de que santo de casa não faz milagres"
Especial Sucessão Familiar, Fazenda Tambo Raio de Sol: "paciência é a palavra chave"
Especial Sucessão Familiar, Sítio Três Corações: "não precisa ser fácil, basta ser possível"