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Especial NE: 'com a assistência, deixamos os fantasmas de lado pois queríamos mudar nossa história'

RAQUEL MARIA CURY RODRIGUES

EM 03/09/2019

12 MIN DE LEITURA

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O MilkPoint está sempre em busca de histórias inspiradoras no leite! E dessa vez, estamos propondo algo diferente: queremos desbravar a Região Nordeste Brasileira. Isso mesmo! A ideia, é buscar produtores de leite que vêm desenvolvendo um trabalho eficiente e de qualidade na região. Na segunda edição do Especial Nordeste, trouxemos para vocês, nossos leitores, a história do Sítio Serra do Uruçu, em Iati/PE.

Em meados da década de 1970, o Sr. Osvaldo Cazuza e sua esposa Dona Nazaré Cavalcante, agricultores, iniciaram uma pequena produção de leite com animais cruzados, basicamente a pasto e ordenha manual com mão de obra familiar. A ideia era atender as necessidades de consumo interno e na sequência, vender o pouco excedente.

A prática se estendeu por três décadas até que os desafios do clima seco e quente da região se intensificaram dificultando a produção agrícola, o que despertou na família um interesse ainda maior pela produção leiteira. Foram adquiridas vacas de terceiros (animais Girolando), incluído o fornecimento de volumoso (palma forrageira), concentrado (farelo de milho e farelo de soja) e pasto nativo (quando havia). Só que outro problema surgiu: a dificuldade de gerenciamento dessa produção. Junto a isso também estava atrelado o baixo preço pago por esse leite já que ele era vendido para atravessadores.

Dentre as principais dificuldades enfrentadas naquela época, podem ser frisadas:

i) a baixa produtividade por vacas (menos de 9 litros/vaca/dia);

ii) custo de produção superior a receita;

iii) idade ao primeiro parto das novilhas superior a 48 meses por falta de um manejo adequado na fase inicial (o que causava a morte de várias bezerras e as sobreviventes ficavam atrofiadas) e;

iv) a carência de suplementação na recria.

A dificuldade na produção de volumoso também era outro fator que emperrava a produção de leite da propriedade, ocasionada principalmente pela falta de conhecimento sobre técnicas com maior eficiência do que aquelas usadas no passado e que limitavam a produção. A palma, por exemplo, não passava de 30 toneladas por hectare/ano, os produtores não tinham conhecimento sobre silagem e ainda insistiam na prática de soltar o rebanho para pastar mesmo estando em uma região que não tem pastagem durante a maior parte do ano.

As dificuldades foram se sobrepondo aos poucos nos resultados positivos e essa situação se agravou ao ponto de precisarem ir vendendo parte do rebanho para cobrir as despesas básicas da propriedade.

O início de uma reviravolta

Durante o ano de 2009, a família Cazuza tomou a decisão de encerrar a produção de leite por causa das inúmeras dificuldades e quase nenhum resultado positivo.

Foi a partir dessa decisão que surgiu a grande interrogação: como abandonar uma atividade que fazia parte da rotina deles há tantos anos? Até porque, os filhos de Osvaldo, José Cícero e Marcone já estavam acostumados com a rotina do leite desde que nasceram. E foi na busca por algo que os permitisse continuar na atividade que eles passaram a procurar alternativas, e segundo Marcone, que falou em entrevista exclusiva para a Equipe MilkPoint, uma das mais acertadas foi a contratação de um médico veterinário em fevereiro de 2010, o Marne Portela. Na época, Marne era da equipe da Batávia/Perdigão.

“No dia 25 de fevereiro de 2010 iniciamos a parceria com a Batávia/Perdigão para fornecimento de leite cru refrigerado e aquisição de insumos. Marne e o técnico Gilson Dourado nos apresentaram uma proposta de condução da produção que nunca havia sido imaginada por nossa família, fato que viria mudar a realidade até então vivenciada por nós. Ali, se iniciou uma relação de confiança entre produtor e técnicos. A injeção de ânimo proporcionada nas primeiras conversas foi de fundamental importância para a mudança de realidade que se iniciava e os resultados imediatos da parceria surgiram”, explicou Marcone.


Visita técnica do médico veterinário Marne Portela (supervisor da Lactalis/PE). Fonte: Marcone Cazuza.

Segundo ele, houve valorização do leite vendido já que a negociação passou a ser direta com a indústria e redução do custo de produção devido ao fornecimento correto do concentrado. “Esta ação passou a ser feita com base na produção de cada vaca seguindo orientação técnica, utilizando ingredientes de ótima qualidade na proporção exata e fornecimento de suplemento mineral específico para as vacas em lactação. De imediato, essas alterações logo contribuíram com o aumento da produção média por vaca – 2 litros/dia - já na segunda semana após a mudança”.

O passo seguinte foi a implantação da metodologia de gestão da produção de leite e todos os acontecimentos relacionados a ela começaram a ser anotados em planilhas organizadas para que as decisões dali em diante fossem tomadas a partir de números reais. Ainda em 2010, o Sítio Serra do Uruçu foi apresentado ao Balde Cheio por meio do zootecnista Thiago Palmeira. O programa passou a ser aplicado em 2011 em parceria com o laticínio.


Primeira área de palma cultivada seguindo o TCIP (Tecnologia de Cultivo Intensivo da Palma), oito meses após o plantio. A produtividade obtida nessa área foi de 270 toneladas por hectare, onze meses após o plantio. Fonte: Marcone Cazuza.

Com os registros que passaram a ser feitos, as dificuldades vivenciadas foram sendo quantificadas e os técnicos foram identificando as prioridades, e dentre elas, estavam a produção de volumosos com maior eficiência e redução da idade ao primeiro parto das novilhas. Também foi definido um aumento de produção de leite dos atuais 120 litros/dia para 500 litros até 2015. E, para melhorar o aproveitamento dos alimentos fornecidos, foi definido que as vacas em lactação seriam confinadas durante todo o período seco do ano em piquetes com água e sombra à vontade. Foi iniciado ainda em 2011 o cultivo intensivo da palma forrageira seguindo o recomendado no TCIP (Tecnologia de Cultivo Intensivo da Palma), análise e correção de solo, adubação, seleção das raquetes (sementes), espaçamento e tratos culturais.

Também em 2011 foram iniciadas as mudanças recomendadas pela equipe técnica no manejo e nutrição das bezerras e o descarte imediato dos machos visando reduzir os gastos. “A prioridade era focar nos investimentos que gerariam aumento de receita e, consequentemente, no retorno mais rápido, afinal, tudo o que fizemos foi com recursos próprios”, comentou Cazuza.


Registro de uma das visitas/aula do zootecnista Thiago Palmeira. Fonte: Marcone Cazuza.

Primeiros sinais de que os investimentos estavam trazendo retorno

A partir de mudanças simples no manejo das bezerras recém nascidas como cura do umbigo, fornecimento do colostro, separação das demais bezerras com mais idade e fornecimento de ração balanceada própria para essa fase, as mortes foram reduzidas significativamente e o ganho de peso que antes era baixíssimo atingiu a média de 630 gramas durante o ano de 2011. O fantasma das novilhas que demoravam uma eternidade para chegar ao primeiro parto já começava a dar sinais de que essa história ficaria no passado.


Fonte: Marcone Cazuza.

Com  a nova realidade de suporte proporcionada pelos técnicos da indústria e pela consultoria zootécnica, novos números na produção de palma e a possibilidade de retorno rápido do investimento em recria, o sítio recebeu da equipe técnica uma proposta para iniciar um trabalho de melhoramento genético do rebanho utilizando a inseminação artificial.

“Procuramos o médico veterinário Antônio Cordeiro Júnior, que há muitos anos já levava a inseminação artificial para fazendas da região e, por ele, foram apresentadas as demandas das vacas para que elas estivessem aptas à inseminação, como exigências sanitárias, necessidade nutricional, mineralização e mão de obra específica. Visto que as exigências já estavam sendo atendidas, foi definido usar sêmen de touros da raça Holandesa e, em janeiro de 2012, foi iniciado o melhoramento genético a partir da inseminação artificial com o suporte técnico do Dr. Júnior, que também já estava cuidando do controle sanitário”.


Trabalho de controle sanitário realizado pelo Dr. Antônio Cordeiro Júnior e toda equipe da Agropecuária O Produtor. Fonte: Marcone Cazuza.

Com o aumento da produção, da receita e uma nova visão de futuro, a família decidiu adquirir uma ordenhadeira mecânica para melhorar a eficiência da mão de obra, o que diminuiu para 25% o tempo gasto antes na tarefa (que passou também a ser feita por uma pessoa, antes, eram necessárias duas). Ainda em 2012, a área de produção de palma foi ampliada para atender a demanda do rebanho que cresceria tanto em quantidade quanto em exigências como planejado no ano anterior.

Por consequência do baixo acumulado e irregularidade de chuvas, 405 milímetros espalhados em diversos momentos do ano, uma dificuldade ainda persistia: a falta de produção de silagem como fonte de fibra corretiva junto da palma. Ainda era usado o que conseguiam produzir de capim elefante e eles compravam silagem de outros estados, entregue com preços altíssimos. Em 2013 foi possível produzir silagem de milho suficiente para o ano inteiro. Os 523 milímetros do ano foram acumulados de forma mais concentrada possibilitando o cultivo de milho.


Fonte: Marcone Cazuza.

“Outras novidades começaram a fazer parte do nosso dia a dia. As primeiras bezerras oriundas da inseminação artificial já estavam crescendo pois haviam nascido ainda no final de 2012. Elas demonstravam bom desempenho como resposta aos cuidados ofertados e o ganho de peso diário já atingia 800 gramas”, lembra Marcone.

Em 2015 os números já mostravam os resultados de uma nova forma de planejar e agir em relação a manejo, nutrição, reprodução, melhoramento genético, enfrentamento das adversidades, o que trazia a certeza de que trabalhar e planejar junto com profissionais competentes pode mudar qualquer realidade. Ainda em 2015, foi atingida a meta estabelecida inicialmente para a produção diária de 500 litros/dia e o sonho da silagem de milho totalmente produzida ‘em casa’ finalmente se concretizou, com um custo 50% menor em relação a encontrada do mercado.

Foto de 2017 mostrando a produção de milho no Sítio Serra do Uruçu. Fonte: Marcone Cazuza.

Com os resultados positivos e metas alcançadas, novos objetivos na época foram criados para os anos seguintes complementando o que estava sendo feito:

- implementação de um programa de boas práticas com objetivo de melhorar a qualidade, agilidade e segurança do ambiente de trabalho (esta última, implantada de imediato pois as suas práticas já faziam parte da rotina);

- início de um processo de certificação sanitária como propriedade livre de brucelose e tuberculose com o objetivo de garantir ainda mais a sanidade do rebanho, saúde das pessoas que participavam da rotina e agregação de valor na venda de animais;

- e o alcance dos 750 litros diários para os próximos três anos com o objetivo de incrementar a receita da propriedade.

Em 2016, o sítio concluiu o processo de certificação sanitária e a propriedade recebeu do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) o certificado de propriedade livre de brucelose e tuberculose, trabalho realizado sob a responsabilidade técnica do Dr. Júnior, em parceria com a Agropecuária O Produtor e com a Lactalis.

Produção e índices atuais

Em 2018, o Sítio Serra do Uruçu atingiu a meta dos 750 litros diários (média de 31 litros/vaca/dia) e o próximo objetivo da família é chegar a 1.000 litros/dia (ainda sem prazo definido). Os animais são 7/8 e 15/16 Holandês e o sistema de produção atual é o confinamento com fornecimento da alimentação exclusiva no cocho e piquetes sombreados com água e sombra à vontade. O leite da família Cazuza é comercializado para a Lactalis e de acordo com Marcone, os desafios relacionados à mão de obra e mercado ainda são muitos grandes. Hoje são cinco pessoas na equipe, todas da família, e dois sobrinhos de Marcone que estão aprendendo como conduzir a atividade, porém, a contratação de mão de obra externa não é descartada conforme a leiteria se desenvolve.


Animais 15/16 Holandês do sítio. Fonte: Marcone Cazuza.

Evolução da produção de leite até os dias atuais

“Atualmente estamos trabalhando para manter a estabilidade e encontrar uma estratégia segura para dar o próximo passo. Além disso, a busca por uma produção de volumoso cada dia mais eficiente é constante e a palma forrageira é de fundamental importância nesse sentido por ser resistente a seca e altamente eficiente no uso da água. Ela responde muito bem aos tratos culturais e adubações, seja com fertilizantes ou adubo orgânico (estrume do curral). Atualmente, a fonte de fibra usada é feno de capim tifton fornecido pela Agropecuária O Produtor e produzido no Vale do São Francisco. Fizemos um acordo de fornecimento anual com o preço previamente determinado. Também, contamos com treinamentos, suporte técnico e contribuições da Agropecuária no entorno da nossa propriedade. Durante a nova caminhada da família na atividade leiteira a rotina passou a ser repleta de treinamentos práticos dentro da realidade e esses continuam com a mesma frequência até hoje”, explicou o produtor.


Evolução da produção de leite de 2011 até 2018 na propriedade.  Fonte: Marcone Cazuza.

Qualidade do leite

Com relação à qualidade do leite, Marcone destaca que uma das ações para atingir bons resultados é sempre ordenhar tetos limpos e secos fazendo uma remoção prévia de qualquer sujidade que esteja grudada usando o mínimo possível de água. “Se for o caso usá-la, ela deve estar sempre clorada com um produto específico na pré-ordenha. Também, é necessária a secagem dos tetos com papel toalha, imersão dos tetos em solução de iodo a 5% na pós-ordenha, fornecimento de tratos após a retirada do leite e a manutenção de um ambiente de descanso para as vacas sempre limpo. Aqui, fazemos a secagem de todos os animais com antibióticos específicos aos 60 dias antes da data prevista para o próximo parto”, explicou.

O manejo dos animais é feito tranquilamente, sem gritos, sem violência e sem forçar os animais a correrem. Nos manejos fora de rotina (como vacinações, coleta de material para exames sanitários, entre outros), além dos cuidados já citados, há um preoucupaçãp para que sejam realizados nos horários de temperaturas mais baixas. No dia a dia, todos os animais têm acesso à alimentação adequada em quantidade e qualidade, água limpa à vontade, área sombreada com espaço suficiente para cada categoria, observação do comportamento individual nos horários rotineiros de trato para detectar o mais rápido possível qualquer mudança e ações de imediato para identificar e resolver qualquer distúrbio.

“Os treinamentos técnicos disponibilizados por nossos parceiros continuam preparando a nossa equipe para avançar em produção e qualidade do leite que sai da nossa propriedade. Neste ano de 2019, até o mês de julho, nossa matéria-prima está com a média de Contagem Bacteriana Total (CBT) de 7.643 UFC/ml e Contagem de Células Somáticas (CCS) de 258.357 céls/ml. Gostaria de acrescentar que as atualizações técnicas por parte da Lactalis e de todas as nossas outras empresas parceiras são constantes sempre que é possível. Esses momentos de aprendizado são compartilhados com outros produtores e técnicos da nossa região e todo o nosso trabalho é mostrado com frequência por meio de visitas para outros produtores da redondeza. Eles buscam conhecer as técnicas implantadas na propriedade e os resultados destas na nossa realidade”, finalizou.


Histórico de CBT e CCS no Sítio Serra do Uruçu. Fonte: Marcone Cazuza.


Dias de campo no Sítio Serra do Uruçu realizados pela Lactalis em parceria com outras empresas. Fonte: Marcone Cazuza.

Você gostaria de indicar alguma fazenda leiteira para participar do nosso Especial? Clique aqui e contribua conosco! 

RAQUEL MARIA CURY RODRIGUES

Zootecnista pela FMVZ/UNESP de Botucatu.

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PAULO JORGE LOPES COSTA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/09/2019

Também fiz parte do Balde Cheio, uma boa gestão faz a diferença.
BEVALDO MARTINS PACHECO

VIÇOSA - MINAS GERAIS

EM 04/09/2019

Parabéns à família Cazuza, pelo belíssimo exemplo de superação e por acreditar na assistência técnica competente. Agora, a família Cazuza pode ser considerada uma empresa rural. Trabalhos desse nível melhoram a qualidade de vida no campo.
Parabéns, também, à Raquel Pereira, pela forma simples e objetiva de abordar a evolução da atividade leiteira da propriedade.
MARNE PORTELA REGO

GARANHUNS - PERNAMBUCO - INDÚSTRIA DOS LACTICÍNIOS

EM 04/09/2019

Parabéns a Familia Cazuza. Sem dúvidas, exemplo de profissionalismo, mesmo produzindo em condições adversas. Produzir no bom é bom, quero ver enfrentar produzir leite diante das dificuldade oferecidas na região. São para poucos.

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