Quando se trata de alimentos, soluções tecnológicas inovadoras que prezem pela qualidade e otimizem o tempo são sempre bem-vindas. Na indústria láctea - especificamente - esse tipo de ferramenta é muito vantajosa, visto que o leite é um produto altamente perecível e o volume de produção de derivados depende da qualidade do leite cru utilizado.
Observa-se que nos últimos anos houve um grande avanço em termos de tecnologia empregada na produção de alimentos, contudo, o controle de qualidade não acompanhou tanto essa evolução. Técnicas modernas de análise de alimentos já são utilizadas em pesquisas nas universidades, mas ainda não são todas que se consolidaram na indústria.
Embasados nisso, três pesquisadores da área de biologia molecular e biotecnologia – Eduardo Balsanelli, Michelle Sfeir e Vânia Pankievicz – decidiram que era o momento de romper as fronteiras da universidade e “aplicar seus conhecimentos para solucionar casos reais”, segundo as palavras da própria Michelle, em entrevista exclusiva para a Equipe MilkPoint.
Equipe GoGenetic
Um pouco de história ...
WEMSeq foi o nome original da GoGenetic. A combinação de letras eram as iniciais dos sócios-fundadores junto com o complemento Seq, remetendo ao sequenciamento genético. Depois de dois anos de atuação e grande expansão, foi identificada a necessidade de evolução no nome para que ficasse mais próximo do business core da empresa, com um estudo aprofundado de mercado se chegou então a GoGenetic.
Foi assim que, em 2016, surgiu a startup de biotecnologia especializada em sequenciamento de DNA para análises microbiológicas e genéticas. A empresa – que foi incentivada por orientadores e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) onde inclusive está incubada - tem um modo de atuação diferente, moldado pelos anos de experiência em projetos de pesquisa dos fundadores. Deste modo, preza pela customização, adaptando as técnicas e tecnologias para cada situação. Uma dessas adaptações foi destinada ao mercado lácteo, que atualmente é a especialidade da startup.
Michelle Sfeir
Modelo clássico vs. análises por DNA
Segundo Michelle, a proposta é substituir os métodos de microbiologia clássica pela detecção de contaminantes por meio de análise de DNA diretamente do leite, ou seja, levar a confiança do DNA para a indústria, utilizando a exatidão do sequenciamento genético.
Dentre os benefícios fornecidos pela utilização deste tipo de técnica estão o menor tempo de processamento (por eliminar a etapa de crescimento do microrganismo necessária nas técnicas clássicas), a possibilidade de avaliar todos os microrganismos contidos na amostra de leite, bem como processar várias amostras de uma só vez. Quando questionada sobre as diferenças dessa opção com relação ao modelo tradicional, Michelle explicou que a tecnologia de DNA é mais precisa e segura, além de permitir rastrear e identificar a origem de contaminações, caso haja.
“Quando pensamos em DNA, naturalmente o relacionamos com um custo alto”, comentou Michelle. Todavia, ela esclareceu que os exames por DNA, no geral, não têm mais o valor (R$) que tinham há alguns anos, visto que a tecnologia se popularizou. Deste modo, segundo ela, a técnica tem um custo benefício muito interessante, principalmente se relacionado ao manejo de lotes, tempo de estoque e segurança do produto.
E como funciona na prática?
A empresa divide os seus serviços em cinco categorias: GoGenetic Agro, GoGenetic Animal, GoGenetic Food, GoGenetic Science e GoGenetic Safety.
Com relação a GoGenetic Food, utilizada para a análise de leite, os microrganismos são identificados diretamente da amostra por sequenciamento genético (não é necessário a etapa de cultura), assim, o tempo é reduzido significativamente. O processo é feito em larga escala, fato que permite a identificação de todos os microrganismos contidos na amostra. É interessante ressaltar que é possível fazer muitas amostragens de uma só vez e vários problemas podem ser resolvidos com um controle de qualidade mais eficiente, como: perda de lotes, morosidade na liberação de produtos para distribuição, diminuição de produtividade, perda de qualidade e credibilidade da marca.
Segundo Michelle, são vários os benefícios da tecnologia de sequenciamento genético, desde a prevenção de contaminações e eficiência operacional, até redução de custo de produção por lotes contaminados e diferencial de marketing.
Em meio a tanta inovação, o objetivo da GoGenetic é fazer parte da disruptura do controle de qualidade do Brasil e de acordo a sócia-fundadora, é chegada a hora de levar o controle do analógico ao digital. “E não temos dúvidas que queremos fazer parte disso”, finalizou.
Coluna Agtech Garage
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