Você deve ter ficado intrigado com o título deste artigo, mas é exatamente esta situação que o setor lácteo vive há um bom tempo: pessoas de fora da cadeia produtiva do leite construindo narrativas sobre o segmento que, muitas vezes, não são condizentes com a realidade.
As inverdades sobre o setor são muitas: leite tem hormônios, resíduos de antibióticos, as barrinhas coloridas da caixinha do leite UHT indicam reprocesso, a gordura láctea faz mal para a saúde e a clássica frase: o homem é o único mamífero que consome leite na idade adulta. Uma história que está mais para lobo mau do que para chapeuzinho vermelho...
Diante de tantas informações infundadas, o que podemos fazer? Como o setor lácteo pode virar o jogo e narrar uma história positiva? Para María Inés Rimondi, Consultora na Innovar Agro, essa é uma responsabilidade de todos os profissionais envolvidos na cadeia do leite.
“O esforço deve ser sincrônico, não acontecer só no setor produtivo. Tem que haver Estado, educação, jornalismo responsável. Todos que estão em contato com os alimentos” destacou Rimondi, em sua palestra no Dairy Vision 2021, evento que ocorreu online nos dias 17, 18, 23 e 24 de novembro e reuniu mais de 400 participantes.
Nesse cenário, a comunicação assume um papel estratégico e saber se comunicar vai muito além de emitir uma mensagem. “O que ensinam na escola sobre emissor, mensagem e receptor não funciona mais. Existe um contexto, muitas variáveis que rompem com o mito de que se eu apenas emito uma mensagem, a comunicação está feita (...). Hoje em dia, a comunicação científica segue o caminho de conectar, intermediar, conversar e atrair. É o novo caminho.”
Para trilhar esse caminho, é necessário adicionar à lista de capacidades, as habilidades comunicativas, abrir espaços para o diálogo e conversar, ao invés de tentar convencer, de modo a construir uma narrativa própria, genuína e verdadeira.
A construção dessa narrativa precisa ser pautada em uma relação de confiança que, para María Inés, é exatamente o que falta atualmente para criar uma ponte com a sociedade interessada no sistema produtivo do leite e nos produtos lácteos.
Neste sentido, posicionar-se, adotar uma postura ativa e mudar o foco são primordiais. Para isso, María Inés trouxe como exemplo o método finlandês KIVA, que se propõe a resolver o bullying nas escolas, adotando justamente uma mudança de foco. Nessa metodologia, a ênfase não é no agressor e nem na vítima, mas sim em todas outras pessoas que estão na sala de aula. Por que elas não se manifestam? Por que são passivas em relação a essa situação? Qual é o papel de cada um? No leite: quem são essas pessoas na sala de aula?
María faz uma crítica aos agentes do setor que, muitas vezes, assumem uma postura defensiva, apenas criticando o “agressor”, ao invés de focar nas “outras pessoas dentro da sala”, ou seja, os consumidores que ficam em dúvida em relação às fake news disseminadas sobre o leite e seus derivados. Estas são as pessoas que devem ser esclarecidas e trazidas para o “lado do leite’.
Para alcançar estes consumidores — ou até mesmo resgatar aqueles que acreditam nas fake news — é importante utilizar uma linguagem clara e sem termos técnicos, visando a aproximação com o público. Não é uma tarefa fácil, exige constância e tempo, mas é possível.
Na era do mundo digital, aproximar-se dos consumidores e construir uma narrativa vai além de ser um influenciador e fazer “dancinhas no TikTok." As micronarrativas construídas por todos os profissionais envolvidos na cadeia do leite são fundamentais e poderosas, e devem ser capazes de mobilizar emoções. “Se nós construirmos nossas narrativas, temos a possibilidade de não vender promessas, mas de mostrar os nossos valores em ação (...). Transmitir a nossa verdade é a chave,” ressaltou Rimondi.
Como exposto por María Inés no Dairy Vision 2021, o setor lácteo tem um grande e desafiador “dever de casa” para desmistificar as fake news, se aproximar e conectar com os consumidores, bem como criar uma narrativa positiva, verídica e genuína. Não há espaço para terceirizar essa missão e nem procurar culpados: todos os profissionais envolvidos na cadeia do leite precisam assumir uma postura ativa em prol da verdade do setor.
Além da comunicação, o Dairy Vision 2021 abordou outros temas essenciais para o futuro do leite mundial: cenários de mercado, tendências e comportamentos de consumo, mercado plant-based, desenvolvimento de novos produtos, inovações e tecnologia, bem como os desafios e oportunidades para a indústria láctea. Todos os conteúdos estão disponíveis por 60 dias na plataforma do evento. Então, se você não participou, ainda dá tempo! Clique aqui para se inscrever. Confira abaixo os depoimentos de alguns participantes:
“Excelente seleção dos palestrantes. Agregador e atual. Parabéns por mais um excelente evento.” - Luciana Franco, TechnoLeite Representação
“Excelente grade de palestras e de palestrantes, temas muito relevantes. Parabéns a todos pela organização.” - Jair da Silva Mello, CCGL
Para 2022, o MilkPoint está programando um Dairy Vision Híbrido, com a junção do online com o presencial. O evento acontecerá em Campinas, nos dias 22 e 23 de novembro, na Expo Dom Pedro. Até breve!