Um dos maiores desafios para o aumento da competitividade do setor leiteiro nacional é garantir mercados e a boa remuneração para a crescente produção. Para tanto é indispensável e urgente melhorar a qualidade do leite. Os resultados de avaliações de composição, CCS e CBT feitos pelos laboratórios credenciados da Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade do Leite indicam que o ritmo de melhoria da qualidade é ainda lento, altamente dependente de fatores regionais e de programas de pagamento por qualidade.
É praticamente um consenso entre os especialistas que os pontos críticos que atualmente demandam maior necessidade de melhoria são a alta CBT e o extrato seco desengordurado. Dependendo da região, o percentual de amostras que não atendem o padrão mínimo de < 1.000.000 ufc/ml varia entre 15 e 20% (Veja em: Situação da contagem de células somáticas de rebanhos brasileiros e americanos - Parte 1).
A CBT é indicativa das condições de higiene e armazenamento do leite. São bem conhecidas as fontes de contaminação do leite, entre as quais destaco: a glândula mamária de vacas com mastite, a superfície dos tetos, equipamentos e utensílios usados na ordenha e o uso de água de baixa qualidade. Após a ordenha, a manutenção do padrão microbiológico do leite é feita pelo resfriamento imediato em tanques de expansão.
Os resultados de pesquisa desenvolvidos nos EUA ainda na década de 80, e mais recentemente no Brasil, confirmam que a produção de leite com baixa contaminação é viável tanto para produtores com ordenha manual, quando aqueles utilizando a ordenha mecânica, independentemente do tamanho da propriedade. As medidas básicas que garantem a redução da CBT do leite são: a desinfecção dos tetos antes da ordenha (pré-dipping), a limpeza completa e rigorosa dos equipamentos, baldes, latões e mãos de ordenhadores e o resfriamento imediato.
Para quantificar a eficiência da aplicação de práticas de higiene na ordenha sobre a qualidade do leite, foi desenvolvido um estudo, com duração de dois anos, por pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e EMATER-PR, os quais avaliaram um total de 46 propriedades, distribuídas em 19 municípios da região Central do PR. O objetivo foi monitorar a CCS e a CBT antes e após a aplicação do seguinte manejo de ordenha: descarte dos três primeiros jatos, desinfecção dos tetos com solução 750 ppm de cloro, higienização completa dos utensílios, tanques, baldes e equipamentos.
Das propriedades estudadas, 32 (70%) usavam ordenha manual e 14 (30%) a ordenha mecânica. Segundo os autores, após a aplicação das medidas de higiene de ordenha houve redução de 88% na CBT das propriedades com ordenha manual e 87% para as de ordenha mecânica (Tabela 1). Com referência a CCS, as reduções foram de 34% para ordenha manual e 52% para a ordenha mecânica (Tabela 2).
Tabela 1. Resultado das médias da CBT antes e após a aplicação das práticas de higiene nas 46 propriedades leiteiras com ordenha manual e mecânica de 19 municípios da região central do Paraná, entre 2005 e 2006.
Tabela 2. Resultado das médias da CCS antes e após a aplicação das práticas de higiene nas 46 propriedades leiteiras com ordenha manual e mecânica de 19 municípios da região central do Paraná, entre 2005 e 2006.
A despeito da evidente melhoria, alguns resultados merecem destaque. Por exemplo, em cerca de 47% das amostras analisadas a CBT foi superior a 1.000.000 ufc/ml, sendo que nas propriedades com ordenha mecânica a CBT foi cerca de 3 vezes maior que naquelas com ordenha manual. Este resultado indica que o equipamento de ordenha, quando não usado de forma adequada e sem a devida higienização, pode representar uma importante fonte de contaminação do leite.
Finalmente, os dados encontrados neste estudo indicam, com segurança, que a aplicação de medidas simples e de baixo custo tem alto impacto sobre a qualidade do leite e devem ser usadas em benefício dos produtores.
Fonte: Vallin, et al. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 30, n. 1, p. 181-188, 2009.
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https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/semagrarias/article/viewFile/2661/2313