Por outro lado, sem pensarmos agora em máquinas, são inúmeras as vezes que chegamos a visitar sistemas em que tudo foi feito de forma correta, mas emperra no que denominamos “o mais fácil de tudo e mais barato” - que nada mais é que a ingestão da forrageira. Toda forragem, desde que bem manejada, tem todas as características para ser ingerida e além disso, reúne atributos nutricionais suficientes para atrair os animais. Mesmo assim, verificamos que em algumas propriedades o consumo da pastagem é maior ou menor ou escutamos a seguinte frase: “o pasto tá ai o bicho num come porque não quer”.
O manejo de pastagem nada mais é do que uma arte de utilização do recurso forrageiro na propriedade com vistas à produção animal e que envolve a sensibilidade do técnico em apreciar a resposta da pastagem & animal. Portanto, toda e qualquer atividade que envolva esta utilização é importante para que o consumo ocorra. Senhores, para que haja o consumo, a forragem tem que se apresentar para o animal e, para isso, ela deve estar em um cocho ou no pasto. Para isto, teremos que decidir o que é mais viável. Dessa forma, todos os fatores inerentes aos custos de produção devem estar em dia, pois a forrageira também exige investimentos.
Figura 1: Pastejo do capim: Foto: Marco Aurélio Factori.
Figura 2: Corte mecanizado do capim: Imagem: www.google.com.br
Para quantificarmos os custos, de maneira fundamental, precisamos primeiramente definir os sistemas. Escrevo isso porque em primeiro lugar, não podemos sugerir que o pequeno produtor compre uma máquina para tratar de duas vacas. Com certeza, o custo benefício não seria viável, pois de maneira geral, o benefício de alimentar duas vacas não paga o custo da máquina. Neste caso o pastejo seria fundamental.
Quando pensamos em cortar forragem e servir para os animais no cocho, o fator “deslocamento” já não é mais necessário para o animal. Se o produtor não pretende fazer o animal andar muito, com certeza é fundamental o uso de máquinas.
Na produção de leite em pastejo, quando a forragem é diretamente colhida pelo animal, os custos de produção podem sofrer sensível redução. A oferta de alimento no momento certo (ponto ótimo de manejo da forragem) e em quantidade adequada, resulta em dieta volumosa apropriada para que as vacas possam produzir até 11 litros de leite por dia (desde que os animais tenham potencial genético para tanto). Dessa forma, um sistema com pastagem bem estabelecia, e baixo custo de implantação em comparação aos demais sistemas de produção de leite, confere segurança e versatilidade frente aos altos preços de insumos e baixo preço do leite.
Considerando como base o pasto (volumoso de verão), é de fundamental importância utilizar sistemas mais produtivos (lotação/ha) plantando forrageiras de alto potencial de produção. Dentre estes sistemas, uma das opções é a adoção do pastejo com lotação rotacionada, que nada mais é que uma área subdividida em piquetes (por meio de cerca eletrificada), tendo como finalidade fornecer ao animal uma forragem de boa qualidade.
Voltando à dúvida sobre cortar ou não a forrageira, precisamos decidir o que pretendemos fazer com o nosso sistema. Como dito, o pastejo é barato e permite em muitos casos o sucesso da atividade. Sistemas de produção de leite em pequenas propriedades podem ser favorecidos com o uso do pastejo rotacionado – que é responsável muitas vezes pela sobrevivência do sistema. Então, em propriedades com poucas vacas, visto que o corte da forrageira exige o uso de máquinas, o pastejo pode ser considerado “obrigatório” - se o produtor está em busca de lucro.
Se pensarmos em grandes produtores, inclusive de gado de corte, que possuem muitos animais, o corte da forrageira para todos os animais, todos os dias, seria algo inviável. Então, quando usar o corte de forrageira?
Em 99% dos casos, o pastejo é o mais eficiente. Cortar forrageira e levá-la no cocho para o animal é incrementar os custos daquilo que é barato. Dando um exemplo semelhante, mas extrapolando para outra situação, é a mesma coisa que meu carro quebrar na estrada, eu chamar o guincho e o seu valor for maior do que o carro. Eu abandonaria o carro ou tentaria consertar no local. Pensando nas forrageiras, se eu quero cortá-las e colocá-las no cocho, devo pensar que aquilo que o animal irá comer precisa pagar esse custo (o custo do processo do corte e tudo o que o envolve).
Para gado de leite, colocar capim picado no cocho não justifica, pois, a vaca produzirá, como eu já mencionei aqui, 11 litros de leite. No leite, antecipo que o corte não paga os custos. No corte, se associarmos um confinamento e a relação volumoso:concentrado for pequena e se a dieta for de 70% de concentrado ou mais, o capim pode ser uma ferramenta interessante por ser barato. Mas queremos incentivar o pensamento: se eu cortar capim para 100 bois é uma coisa, mas para 20 mil a coisa muda um pouco, não? Vale salientar que devemos estudar cada caso e colocar as contas no papel. Será que tenho funcionários suficientes e máquina para esse feito? Cortar capim todo dia não é fácil. Fácil seria se pensarmos em um substituto para esse manejo – como por exemplo a suplementação dos animais em pastejo com 2 a 3 quilos todos os dias. Bem mais fácil e bem menos dependente de mecanização.
Não queremos colocar regras, muito menos cartilhas. Vamos estudar cada caso e cada situação. O sistema não é engessado. Mas sem querer colocar pulga atrás da orelha de ninguém, dificilmente teremos sistemas mais viáveis que o pastejo em sistemas adaptados para o mesmo. Temos substitutivos, mas estes devem ser adaptados para o cocho e a forma de pensarmos, mudará. Por fim, ouvi isso algum dia de um produtor:
“Mas no pastejo a vaca gasta mais energia”. Será que a energia gasta (óleo diesel, funcionário ou outras) não será maior cortando o capim?
Ainda: “Colocando o alimento no cocho o animal produz mais”. Nem sempre pessoal. O capim continua o mesmo.
“Mas e se dermos silagem”. Aí não é mais capim e sim silagem. O sistema mudará. Pensemos nisso.