Nas últimas décadas são consideráveis os avanços no campo da nutrição e alimentação de ruminantes. Novas técnicas de alimentação e manejo são propostas para minimizar os custos e aumentar a renda dos diversos setores e sistemas produtivos. Sobretudo conhecer os custos de produção parece não ser tão simples assim.
Como gosto de contar histórias, segue mais uma: um dia uma pessoa me disse que seu amigo criava ovinos e estes lhe davam muito lucro. Quando lhe indaguei pelo fato, me contou que seu amigo tinha acabado de vender 12 ovinos e iria receber na época, R$ 1500,00. Perguntei novamente e me disse que seu amigo tinha pouca terra e ia ao sítio aos finais de semana e não gastava quase nada para criar os animais. Fiquei um pouco ressabiado e comecei a pensar sobre os custos. Ele também comentou que o produtor não gastava quase nada para criá-los e eu me perguntei como isso era possível. Resumindo, ele disse que esse dinheiro que o amigo recebeu ficou 100% para ele, mas, esqueceu de ressaltar alguns detalhes: ele “não gastava nada” porque tinha outro trabalho e pagava os custos da criação (medicamentos e alimentos) com este salário, e, ainda por cima, essa venda era a única feita ao longo de 5 anos.
Senhores, para que não tenhamos dúvidas, conhecer de onde os custos vêm, quantos são e de onde deverão ser retirados é uma etapa essencial nos sistemas produtivos. Nos sistemas produtivos de pastagens temos que mensurar os custos de forma direta e por isso devemos saber exatamente o que colocar nestes custos. Já observei por aí que é muito fácil burlarmos alguns pontos importantes dentro da produção animal. Um fator muito corriqueiro é encontrarmos produtores calculando seus custos sem colocar o custo da hora máquina ou até mesmo os gastos com o óleo diesel. Pasmem. Alguns nos dizem que o trator é dele mesmo e o óleo a mulher que paga. Senhores, o trator veio de algum lugar, alguém pagou, uma hora ele vai quebrar, precisar da troca de óleo, entre outros. Isso não custa?
Outro fator interessante é a mão de obra do produtor, que muitas vezes não é colocada nos custos, além de, não adicionarem o esterco do curral ou a cama de frango para adubo quando são produzidos na própria propriedade. Mas não caiu do céu! Toda e qualquer entrave que desfavoreça ou até mesmo coloque o sistema em destaque deve ser computado.
Na implantação de pastagem, certamente os custos com adubos (e outros como sementes) são os primeiros a serem computados, depois a mão de obra de um técnico e por último as máquinas da propriedade. Hoje, os custos médios de um kg de massa seca de pasto intensivo produzido gira ao redor de R$ 0,10 considerando todos os custos. Quando chegamos para ministrar palestras vemos que a plateia encara quase que como uma afronta quando apresentamos a planilhas de custos. Com certeza, quem vê, assusta, e surgem perguntas do tipo: “Eu preciso segui-la?” e eu sempre respondo que não, porém, o produtor deve fazer a sua própria planilha. Mas como?
Para fazer uma planilha nem sempre é necessário usar um programa sofisticado de computador, mas sim, basta utilizar um papel e uma caneta. Anotar, anotar e anotar. Quando levantamos os custos de produção, muitos são comuns a todos e outros são específicos de cada propriedade. Como iremos custear várias operações de gradagens se a área é limpa de invasoras? Como iremos computar aplicação de fertilizantes orgânicos se nos referirmos a solos oriundos de plantios de hortaliças e os mesmos já apresentam alta matéria orgânica? É importante sabermos destes fatos e ainda o quanto colocar de cada coisa, o momento certo e onde colocar. Já mencionei por aqui sobre assistência técnica, uma importante ferramenta que custa dinheiro, mas diminui os custos de produção de uma forma geral.
Tudo deve ser computado. Caso queira tirar algum item, opte pelos custos da terra. Estes a meu ver são os mais divergentes possíveis e podem ser retirados. Hoje, se considerarmos os custos da terra quase todo sistema produtivo será inviável, pois nos encontramos em um cenário em que a terra ficou superfaturada e por isso pode ficar fora da realidade financeira e não participar destes custos.
Voltando a construção de planilhas, dizíamos que tudo deve ser computado. Pois bem. Tudo que foi comprado entra nos custos? Claro que não. Os custos devem ser considerados apenas sobre o que foi usado. Um bom exemplo é aquele adubo comprado a mais junto com outra compra para aproveitar o frete, ou a hora máquina somada que foi utilizada além do serviço de plantio para uma questão pessoal, como a abertura de um buraco para piscina.
Senhores não confundam custos produtivos com pessoais. Nosso combustível para irmos ao leilão não são custos e sim alternativas. Cloro da piscina não deve entrar nos custos do pasto. Repelente para mosquito muito menos. Utilize nos custos aquilo que realmente foi para uso daquela produção e ainda, um fator muito importante é que quando gastamos para tal objetivo devemos diluir os custos ao longo do tempo. Um bom exemplo é quando implantamos uma pastagem e gastamos tantos reais. Quando mensurarmos esses custos devemos diluí-los ao longo da duração deste pasto e somar anualmente o que será gasto para chegarmos ao produto final.
Para finalizar, cito novamente aqui que quando levantamos os custos temos que levar em consideração as compras e vendas e, ainda, as épocas e locais destas. Quando pensamos no Brasil, um país grande em território, teremos que considerar que centros produtivos gastarão menos que centros que não produzem certo produto. Um bom exemplo é quando mencionamos o uso de adubos nas pastagens; aqueles territórios próximos ao centro produtor gastarão menos com frete, cuja participação é de grande importância hoje em dia.
Em resumo, calcular custos significa saber, acima de tudo, o que temos, o que fazemos e para quem estamos fazendo. Muitos produtores de leite não sabem quantas vacas têm e ainda nem o quanto elas produzem... Produtores de corte muitas vezes não sabem o número de bezerros nascidos. Aquele que planta pasto compra tudo o que precisa e quando perguntamos o quanto de área ele irá reformar ele diz: - “Não sei”.
Senhores tudo deve ser mensurado e por isso deve ser muito bem observado e sabido. Levantar os custos significa quantificar o que estamos fazendo e ainda saber o que estamos fazendo. Se nós produzimos devemos saber tudo isso, mas o contrário é o que mais acontece. Como podemos custear nossas produções se nos enganamos? Não esconda seus custos! Eles podem revelar aspectos importantes para que tomemos as decisões corretas de continuar ou cessar a produção. Devemos buscar a eficiência e, conhecer os custos de produção, é fundamental para esse fim.
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