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Top 100: a ponta do iceberg da transformação do leite

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 11/03/2020

3 MIN DE LEITURA

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Pelo vigésimo ano, o MilkPoint publicou o Levantamento Top 100, que estuda os 100 maiores produtores do país. A avaliação contínua desse grupo permite entender a dinâmica do chamado topo da pirâmide da produção de leite.

E as mudanças ao longo dos anos são significativas.

Chama a atenção o forte crescimento em volume dos 100 maiores, principalmente após 2011, justamente quando a produção nacional começou a patinar (Gráfico 1). De 2011 a 2019, os Top 100 aumentaram sua produção média em 74%, contra menos de 15% da produção inspecionada. É uma diferença muito grande, que pode ser explicada pela profissionalização crescente destes projetos, bem como por preços maiores do que a média, o que evidentemente torna a atividade em escala ainda mais atrativa.

Gráfico 1. Crescimento relativo dos Top 100, da produção inspecionada e da produção total


Fonte: a partir dos dados do Top 100 e do IBGE; para a produção total de 2019 (estimativa)

Um outro ponto notável, que denota a profissionalização crescente do setor, é o fato de cada vez mais termos clusters (concentrações) de produção de leite. O mais evidente é o que envolve os Campos Gerais do Paraná, com Carambeí, Castro, Arapoti e Palmeira. São 17 produtores nestes municípios, incluindo duas das fazendas que mais cresceram nos últimos anos: a Melkstad, que alcançou o segundo posto, e a Agropecuária Régia. Clusters de produção aumentam a eficiência da cadeia por vários motivos: ganhos logísticos (muito mais leite por km rodado), mais e melhores técnicos disponíveis (faz sentido ter técnicos de qualidade quando há mercado significativo na região), disponibilidade de insumos (idem), mão-de-obra qualificada, disseminação de tecnologias a partir de casos de sucesso e maior concorrência na compra de leite.

O Brasil ainda tem uma forte desconcentração da produção de leite, conforme mostra o gráfico 2. Mas está gradativamente assistindo a um processo de “clusterização”.

Gráfico 2. Concentração da produção de leite nos 20, 50 e 100 maiores produtores de leite (municípios).


Fonte: IBGE

Para se ter uma ideia de comparação, 0,4% dos principais municípios norte-americanos produtores de leite produzem 25% do leite, ao passo que os 0,4% aqui produzem 7,5%.

Há outros clusters que vão igualmente se destacando, como o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o Sul de Goiás e a região de Passos. Mas, sem dúvida, os Campos Gerais do Paraná representam o principal exemplo nesse sentido.

Outra observação relevante do Top 100 é o investimento crescente em sistemas de compost barn, visto que 27% dos produtores utilizam este sistema de alojamento. Considerando que se trata de um investimento considerável e uma tecnologia relativamente nova, é um exemplo evidente do dinamismo da atividade, ao menos nesse grupo.

Apesar do confinamento total ser maioria, uma característica única do Brasil é que há sistemas para todos os gostos. Várias fazendas que utilizam pastagens como principal fonte de volumosos cresceram, como é o caso da Leitíssimo e da Sete Copas, na Bahia, e da Kiwi, em Goiás (todos de origem neozelandesa, por sinal). Chama também a atenção o projeto da Fazenda Santo Antônio, em Mogi Mirim/SP (Grupo Canto Porto) e, claro, do Grupo Cabo Verde, de Passos/MG.

Essa heterogeneidade de sistemas é fruto de ainda não estar claro “o melhor modelo”, como ocorre em países com o leite mais desenvolvido? Ou há diferenças regionais que explicam? Ou, ainda preferências pessoais dos produtores e suas visões de negócio, partindo do princípio de que há várias maneiras de se produzir leite mesmo em uma região específica? Talvez, em grande parte do Brasil, essa última hipótese prevaleça (em regiões de terra restrita e muito cara, como é o caso dos Campos Gerais paranaenses, provavelmente o confinamento é a alternativa viável quando se fala em escala).

Por fim, pode-se argumentar que os Top 100 não representam a realidade do leite. Afinal, apenas 3% da produção inspecionada. Essa conclusão, porém, é apenas parcialmente verdadeira. Na esteira dos 100 maiores, há certamente um processo de aumento de escala de produção em vários estratos de produção de leite. Quantos produtores acima de 5000 litros existem hoje no Brasil? Em 2002, eram apenas 75. Quantos serão hoje? Mais de 500?

Em um país com carência de dados estatísticos atualizados, o Top 100 é uma iniciativa de grande valor, mostrando um pouco da evolução do setor que, hoje, é aquele que passa pela maior transformação tecnológica do agronegócio brasileiro.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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AUGUSTO PIANEZZOLA DAHMER

GARIBALDI - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/03/2020

Olá Marcelo e equipe do Milkpoint, gostaria de deixar minha sugestão!
O ranking das 100 maiores produtoras certamente nos proporciona muito conhecimento do panorama atual.
Entretanto, com a vasta experiência que a equipe produz em captação desses dados, já imaginaram ampliar esse número para Top 200, Top 500 ou até Top 1000? Certamente iria dar uma visão ainda melhor do caminho da cadeia produtiva em geral! Um abraço
RIVALNER WELANI

IBIPORÃ - PARANÁ - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 12/03/2020

Retrato incrível do seguimento Leite no Brasil
Toda a cadeia envolvida e atuante na linha "Produção Total", deixou de crescer em 2014 e segue ou em queda ou de forma estagnada.
Já os envolvidos na faixa "Produção Formal" vive entre soluços e com perspectivas mais em longo prazo, porém, sem fortes horizontes.
Já aqueles que apontam e traçam estratégias para estar e atuar na linha dos "Top 100, com certeza, têm a tranquilidade e podem se projetar com segurança, pois esse é o caminho.
Parabéns pela matéria!
OSMAR REDIN

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/03/2020

Análise precisa do que acontece na ponta de cima da produção de leite. O TOP 100 é uma excelente ferramenta para auxilio aos técnicos e para a cadeia láctea como um todo!
Parabéns Marcelo.
JOSE RONALDO VILELA REZENDE

ARCOS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/03/2020

Matéria excelente.
MARIUS CORNÉLIS BRONKHORST

ARAPOTI - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/03/2020

Muito bom artigo Marcelo
Parabéns ao top 100 .
Como será o Top 100 2020 ???
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 11/03/2020

Obrigado amigo Marius! Acredito que continuará mostrando essa tendência.
SÁVIO COSTA SANTIAGO DE BARROS

LAVRAS - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 11/03/2020

Excelente visão!

Você mata a questão quando se questiona quantos acima de 5.000 litros temos hoje. Temos outros fatores que auxiliam no crescimento da escala. Melhor ambiente, maior conforto, melhor nutricão e melhores técnicos são iguais a melhor reposição de rebanho e melhor reprodução. Isso é crescimento na veia.

Além disso, temos uma característica de mercado no Brasil que é uma grande diferença de precificação do extremo pequeno (<200 litros dia) ao extremo grande (>7.000 litros dia). Ela já foi maior, mas hoje está em 24% segundo dados do Cepea. É natural que haja uma diferença em função da logística e da atratividade do grande produtor, mas não há conta que comprove matematicamente mais do que 12%. Não estou fazendo juízo, mas essa prática de certa forma transfere valor da cadeia de uns produtores para outros e os dados do TOP 100 comprovam isso.

Em se confirmando seu questionamento se haveriam 500 produtores acima de 5.000 litros dia, e eu acredito que se confirme, esses devem ter crescimento igual ou maior percentualmente que os TOP 100, aí já estaríamos falando de mais de 7% do leite formal. Ainda se considerando os produtores acima de 5.000 até os 9.000 que é o final do TOP 100, provavelmente chegaríamos ao número de 10%.

Com tanta gente crescendo acima de 8% e com o todo crescendo 1% podemos crer que a maioria do restante está estagnada e com certeza temos uma faixa de produção decrescendo ou abandonando a atividade.

Muito se fala em eficiência e eu concordo, mas a prática econômica do setor em que o pequeno subsidia a concorrência pelo grande e ainda: em que o pequeno não tem a sua disposição a compra direta de insumos que são 60% do custo, pagando mais caro por eles até 20% vai levar o setor do leite brasileiro em algum momento a só ter pequenos produtores familiares de subsistência e grandes produtores empresariais.

Parabéns pela visão mestre !
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 11/03/2020

Obrigado Sávio, excelente complemento, acho que é por aí mesmo!

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