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Produção de leite com rebanhos confinados demanda alta eficiência

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 22/09/2000

4 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

A recente notícia de liquidação da atividade de produção de leite da Pecuária Serramar, em Caraguatuba (SP), reacende alguns debates, entre eles a sobrevivência do produtor especializado no mercado nacional e a própria viabilidade de sistemas intensivos baseados na exploração da produção por vaca.

Para quem não sabe, a Pecuária Serramar irá leiloar 3500 animais da raça holandesa, no maior leilão que se tem notícia na América Latina e o segundo do mundo, segundo os organizadores. A Pecuária Serramar produzia acima de 30.000 litros/dia, com média de 20 a 22 kg de leite/dia, em sistema confinado em instalações do tipo free stall, sendo o maior produtor de leite tipo B do país e o 2º no ranking de produção de leite. As atuais instalações, com menos de 10 anos de vida, consumiram certamente alguns milhões de dólares para, agora, serem desativadas.

Localizada em pleno litoral paulista, uma das regiões mais úmidas do país (a título de referência, há alguns municípios onde a precipitação é superior à verificada na Amazônia), a exploração de gado holandês sofre de modo significativo os efeitos do stress térmico. Sob altas temperaturas o ano todo e umidade constante, não só a eficiência produtiva, mas também a resistência a patógenos são em muito reduzidas. Isto quer dizer que, se por um lado as condições climáticas para produção de alimentos são favoráveis (umidade e temperatura), são desfavoráveis para a exploração visando alta produtividade animal. Trata-se, considerando unicamente clima, do exemplo típico no qual a estratégia deve ser baseada preferencialmente na exploração da produção por área e não na produção por animal, na qual a propriedade não competirá favoralmente com outras localizadas em áreas mais propícias ao gado especializado. Isto quer dizer que, recebendo um preço equivalente pelo leite, a atividade nestas condições será menos rentável do que se estivesse em outra região mais adequada.

Não nos cabe discutir se este aspecto foi de fato uma das causas principais que levaram a empresa a decidir pelo término da exploração leiteira, mesmo porque não conheço a propriedade e suas características com suficiência, embora seja possível imaginar como deve ser difícil explorar 1500 a 2000 vacas especializadas nesta condição climática, ainda que selecionadas neste ambiente. De qualquer forma, o exemplo é válido para contextualizar a produção confinada em climas tropicais na atual conjuntura e o que é preciso buscar para prosperar.

A exploração de rebanhos leiteiros confinados no sudeste do país tem sido cada vez mais pressionada pelos custos de produção. Este sistema é o que requer maior utilização de insumos e, caso a produção de leite não seja compatível, os custos por litro ficam impraticáveis mesmo recebendo mais de R$ 0,40/litro de leite.

Quem vem obtendo resultado econômico positivo tem procurado trabalhar na "ponta dos cascos", com alta produtividade por vaca (acima de 28 a 30 kg/vaca/dia, como média diária anual), alta porcentagem de vacas em lactação, gerenciamento eficiente, controle de custos rigoroso, volumoso de alta qualidade e a custo reduzido e busca por baixo descarte involuntário, entre outras características. O que era suficiente para garantir lucro há alguns anos simplesmente não é mais; é preciso evoluir em todos os quesitos, não sendo permitidas mais grandes ineficiências (aliás, isto é uma característica de boa parte das atividades, não é nenhum mal característico da pecuária de leite ...). Sem excelência gerencial, neste tipo de sistema, os custos facilmente escapam do controle e a fazenda pode entrar em prejuízo difícil de ser revertido em curto prazo.

Se, ainda, as condições topográficas, pedológicas (de solo) ou climáticas forem desfavoráveis, torna-se ainda mais difícil prosperar, afinal trabalha-se com desvantagens comparativas que podem assumir proporções importantes em uma situação de alta competitividade e baixas margens de lucro.

Como já mencionado, não sei se a insatisfação com resultados técnicos e econômicos, em parte motivados pelas dificuldades de exploração, pesaram na decisão desta propriedade - é possível que outros aspectos não relacionados ao que discorremos aqui estejam envolvidos. Indepentemente disto, faz sentido a decisão dos proprietários de explorar a produção vegetal mais intensamente através do uso de pastagens para rebanho de corte, uma vez que, como comentado, as condições são muito mais favoráveis à exploração da produção por área, típica em sistemas de pastagens para leite ou corte, do que à exploração por animal, típicas de sistemas confinados.

Avaliando todas estas considerações, a liquidação desta grande fazenda não surpreende e apenas realça que o fato de que a atividade leiteira, ao menos em relação aos produtores especializados, vem se afunilando e excluindo aqueles que, por deficiências próprias ou aspectos de difícil controle como o clima, acabam por não obter excelência em todas as etapas da exploração, aspecto fundamental caso o objetivo seja a permanência na atividade por méritos financeiros. Esta premissa vem sendo cada vez mais comprovada, independentemente do investimento realizado, da qualidade dos animais e por melhor que sejam as intenções.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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