ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Por onde anda a coletividade na produção de leite?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 14/07/2000

4 MIN DE LEITURA

0
0
Marcelo Pereira de Carvalho

Há algum tempo atrás o MilkPoint noticiou que os produtores de leite de Michigan (EUA) estavam criando um fundo de 0,3 centavos de dólar por litro de leite, destinado à realização de pesquisas com o objetivo de solucionar os principais problemas técnicos vivenciados pelo setor. Esta pequena quantia por litro de leite, transformava-se em US$ 750.000/ano, considerando-se que cerca de 3.750 produtores de leite destinariam cerca de US$ 200 anuais ao programa.

Trata-se de mais um exemplo de coordenação da cadeia primária do leite com o objetivo de melhorar a situação do produtor, neste caso envolvendo aspectos da porteira para dentro. Vale lembrar que os EUA arrecadam quase US$ 400 milhões ao ano para promover o leite e seus derivados, graças principalmente aos esforços de produtores e indústrias de laticínios (veja notícia publicada em 14/7 pelo jornal Valor Econômico e reproduzida pelo Milkpoint, "Novo rumo para o setor de leite").

Há por lá várias entidades cujos objetivos vão desde articulação política até a promoção de lácteos (Dairy Management, Inc., National Milk Producers Federation, etc) , sem esquecermos que a recém-formada cooperativa Dairy Farmers of America, resultante da fusão de 6 grandes cooperativas, capta quanto tanto leite quanto a produção total do Brasil e representa mais um exemplo de articulação da cadeia produtiva. E isto tudo em um país rico, que goza de protecionismo governamental e subsídios disfarçados ou não (ex: o programa de exportação de lácteos), ou seja, mesmo com condições econômicas favoráveis, o produtor de leite americano se associa e busca mais vantagens. Isto para não mencionar a Nova Zelândia, onde o associativismo e a coordenação da cadeia são a base do sucesso do setor lácteo do país.

E por aqui? Por aqui, a entidade máxima de representação dos produtores, a Leite Brasil, segundo informações passadas no I Encontro de Produtores e Associações de Produtores de Leite, realizado em 13/7/00 na ESALQ/USP, possui cerca de 35.000 associados (3% do total dos produtores) e arrecada cerca de R$ 50.000 mensais, valor que já foi o dobro deste em tempos passados.

Sem entrar no mérito do trabalho da entidade, fica patente que estes minguados recursos, cujo montante é mais de 2 vezes (em dólar) inferior ao arrecadado pelos produtores de Michigan para resolver seus problemas técnicos, são insuficientes para que uma associação nacional de produtores do 5º maior país produtor de leite do mundo e de uma cadeia que movimenta R$ 6,0 bilhões ao ano, seja eficiente em todas as suas pretensões e deveres.

E porque a arrecadação é tão baixa ? Será que o produtor está em situação tão ruim que não pode destinar uma fração de 1 centavo por litro de leite a uma entidade (seja ela a Leite Brasil ou outra) que irá defendê-lo e promover o seu produto no mercado ? É pouco provável, pois nesta fração de centavo reside uma das maneiras de tirar o setor do buraco, ainda mais considerando a fragmentação do setor produtivo, dificilmente tendo voz ativa sem que haja união em torno de propósitos comuns. Será a competência da entidade, ou o seu regulamento, que acabam por inibir as contribuições dos próprios associados ? Menos ainda, bastaria trocar as pessoas e alterar o regulamento.

Acredito que a raiz de tudo está na baixa tradição associativista e no desinteresse em participar de ações coletivas. Há aqueles que sempre reclamam, mas não se dispõe a propor e executar as mudanças nas quais acreditam. Há aqueles que simplesmente não estão interessados em saber quais são as propostas e, com isto, também não se dispõe a contribuir. O difícil é encontrar aqueles que investem no coletivismo como forma de atingir propósitos comuns, nem que demore, dê trabalho e que nem sempre os resultados sejam os desejados.

O mais absurdo de tudo isto é que o produtor de leite tem poder de barganha individualmente mínimo se comparado com outras atividades agrícolas, uma vez que não estoca seu produto e a relação numérica entre fornecedores e compradores é extremamente dilatada. Faria todo sentido reforçar-se a nível regional, estadual e nacional para que uma ou mais entidades o defendessem e o representassem junto aos demais segmentos da economia. A situação atual só teria sentido caso as margens de lucro fossem altíssimas e ainda assim que os produtores fossem pouco ambiciosos, justificando o imobilismo da imensa maioria.

Há um agravante que ajuda a explicar a baixa arrecadação de entidades como a Leite Brasil. Como a contribuição é voluntária e os benefícios não são diretamente destinados aos produtores que pagam, mas a todo o setor leiteiro (inibição das importações, marketing, negociações no Mercosul, etc.), fica muito cômodo não contribuir, pois outros estarão pagando em seu lugar. Nesta situação, a contribuição compulsória faz sentido e talvez sirva até como estímulo a maior participação dos produtores.

É muito bom que produtores estejam se articulando novamente, como no Encontro realizado em Piracicaba, ainda que demore a se alcançar um consenso que possibilite ações concretas. Afinal, algo precisa ser feito para sensibilizar as bases (milhares de produtores no país inteiro), que precisam entender e ver benefícios em entidades de classe. Neste sentido, iniciativas como esta estimulam a reflexão sobre o assunto e podem quem sabe um dia mudar a realidade apresentada neste comentário, refletida no fato de que a principal instituição de representação de mais de 1 milhão de produtores de leite arrecada mais de 2 vezes menos do que o fundo para pesquisa instituído pelos 3.750 produtores de leite do estado de Michigan (EUA).

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures