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Eficiente, porém pobre

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 01/09/2000

3 MIN DE LEITURA

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Marcelo Pereira de Carvalho

Com certeza, a frase mais importante para caracterizar a agricultura tradicional foi escrita pelo professor Schultz, em sua monumental obra "A transformação da agricultura tradicional". Segundo ele, a agricultura tradicional é eficiente, porém pobre.

A pobreza da agricultura tradicional não é conseqüência de quaisquer ineficiências significativas na alocação dos fatores de produção. Ela é pobre porque os fatores de que depende sua economia não são capazes de produzir mais, nas circunstâncias existentes. Fazem parte do conjunto de fatores de produção a terra, as benfeitorias, as máquinas, os animais e o estado dos conhecimentos.

O problema da agricultura tradicional é a baixa taxa de retorno dos investimentos nos fatores de produção. A transformação dessa agricultura só poderá acontecer mediante novos fatores de produção, especialmente novos conhecimentos.

A questão de eficiência deve ser entendida numa concepção econômica. Isto é, com os fatores de produção disponíveis, não é possível aumentar a produção e a renda do produtor apenas com a recombinação desses fatores. A combinação atual já é aquela que maximiza lucro. Nesse contexto, para que o sistema de produção seja considerado eficiente, não se exige que ele alcance elevadas produtividades do tipo litros de leite/vaca, quilos de milho/hectare e outras desta natureza, mas que ele resulte no máximo lucro, com os recursos de que dispõe.

As idéias do professor Schultz servem de referencial para entender os resultados de alguns sistemas de produção de leite adotados no Brasil. Apesar de conseguirem produzir com baixo custo/litro, os proprietários de tais sistemas continuam pobres. Isto porque esses sistemas de produção têm baixa capacidade de resposta aos estímulos de preço. Em outras palavras, aumentos do preço do leite conduzem a pequenos aumentos da oferta deste produto. Os sistemas menos tecnificados têm menor capacidade de resposta que os mais tecnificados.

Portanto, buscar baixo custo/litro é importante, mas não é tudo. Deve-se também considerar a capacidade de resposta, em termos de oferta, aos estímulos de mercado.

Para melhor entender os argumentos desenvolvidos anteriormente, basta examinar o que está acontecendo com a produção de leite no país. De 1990 a 1999, a produção cresceu, a uma taxa expressiva de 4% ao ano, resultado que coloca a atividade leiteira como uma das que mais cresceram em toda agropecuária brasileira. Ficou em terceiro lugar, perdendo apenas para a avicultura de corte e a soja.

Mais importante que determinar a taxa de crescimento é identificar as fontes desse crescimento. Aumentos da produtividade tiveram grande força na explicação do desempenho recente da produção de leite. Em decorrência dos ganhos de produtividade, o volume de leite produzido por empresa rural aumentou, também, significativamente. Entretanto, os aumentos de produtividade e de volume por empresa não aconteceram, igualmente, para todos os produtores, mas apenas para o grupo que tem capacidade de reagir aos estímulos do mercado. Mesmo que, no curto prazo, este grupo não tenha menor custo/litro, no longo prazo, seu custo será menor que daquele de baixa capacidade de resposta.

Em outras palavras, podem-se dividir os sistemas de produção de leite em dois grupos, quais sejam, o 1º grupo, de baixa capacidade de resposta e menor custo/litro, e o 2º grupo, de alta capacidade de resposta e maior custo/litro. Diante de uma demanda do mercado por mais leite, o custo médio do segundo grupo ficará menor que o do primeiro, em razão de sua maior capacidade de resposta aos estímulos do mercado.

Finalmente, a decisão de escolher o melhor sistema de produção deve considerar, numa perspectiva futura, como importantes tanto o custo médio baixo quanto a alta capacidade de resposta. Custo baixo sem capacidade de resposta garante apenas ao produtor o título de eficiente, porém ele continua pobre.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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