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Considerações sobre o estímulo à produção de leite nas fronteiras agrícolas

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 19/01/2001

4 MIN DE LEITURA

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O MilkPoint trouxe ontem uma notícia da Gazeta Mercantil, falando sobre o impulso à produção de leite em mais uma bacia leiteira, na região de Araguaína, no Tocantins. Entre as iniciativas reportadas na matéria, há clara ênfase no melhoramento genético através da compra de matrizes, inseminação artificial e transferência de embriões, incluindo o interessante convênio feito pelo Ministério da Agricultura com a Hungria, que permite aos produtores ter acesso a embriões pagando uma fração do custo usual de mercado.

Não se discute o fato da caracterização genética especialmente nas regiões de fronteira ser imprópria e mesmo limitante à exploração leiteira econômica, uma vez que se trata de rebanho com alto grau de sangue azebuado, que nunca foi selecionado para a produção de leite. Certamente, não se pode negar que é preciso melhorar a qualidade dos animais explorados para que se evolua no quesito competitividade (com qualidade).

O que nos chama a atenção é que, no Brasil, via de regra, os programas de impulso à atividade baseiam-se no melhoramento genético e, não raro, resumem-se a este item que, apesar de importante, não resolve por si só o problema da baixa eficiência na produção de leite. Não se pode relegar a segundo plano a produção de alimentos e a sanidade, só para ficar em alguns exemplos.

São inúmeros os exemplos recentes de dinheiro gasto com a compra de matrizes nas regiões tradicionais, destinadas às áreas de fronteira. Estas matrizes nem sempre são de boa qualidade e, com alguma freqüência, carregam problemas sanitários e reprodutivos que inviabilizam a sua exploração posterior. Mas este não é o ponto principal.

O nível tecnológico dos produtores locais coloca em risco o sucesso de projetos cujo objetivo é alavancar rapidamente a habilidade genética dos rebanhos. A própria matéria fala em média atual de 2 kg/vaca/dia, esperando-se obter em curto espaço de tempo animais que produzam 30 kg de leite por dia. Bem, há alguns produtores nas regiões mais tradicionais produzindo 30 kg de leite/dia. Só eles sabem o que envolve produzir de forma sustentável e contínua esta quantidade por animal; o investimento necessário em alimentação, instalações, assistência técnica, maquinário, o custo de produção, o risco de mercado, o risco técnico (sanitário, por exemplo). Mesmo para os produtores mais eficientes, capacitados e experientes, produzir leite em condições tropicais, neste nível de produção, é tarefa das mais difíceis, tanto é que vários deles acabam deixando a atividade.

Desta forma, fica a dúvida de como responderão estes produtores ao ter a tarefa de criar, de uma hora para outra, um animal exigente como é a vaca de leite pura e especializada. Se não houver um amplo programa de extensão rural, de assistência técnica, treinamento de mão-de-obra e orientação nos investimentos, a história sugere que as chances de sucesso são reduzidas. Ao menos, tem sido assim em outras regiões.

Evidentemente, além das questões técnicas, há a questão de mercado. Se a informalidade continuar elevada, se o extrativismo de leite perdurar, se não houver como fiscalizar eficientemente a qualidade do leite, se o consumidor não for instruído sobre a qualidade, o produtor que investe terá de competir com aqueles que produzem leite como no século retrasado, ainda que tenha todas as condições técnicas, de capital e gerenciais para produzir leite de qualidade e com animais especializados.

Há, por fim, a questão do sistema de produção envolvido. Mesmo que toda a infra-estrutura necessária para que animais com potencial de 30 kg de leite/dia esteja disponível, será que o sistema de produção mais adequado para esta região de fronteira envolve animais confinados, ou mesmo animais a pasto porém de alto potencial genético ? Ou será mais adequado um sistema baseado em animais mestiços, um F1 holandês/girolando, por exemplo, menos produtivo porém constituindo-se em uma solução mais conservadora e menos arriscada ?

São perguntas que ainda ficam no ar em se tratando de Brasil. Ainda não temos ao certo a definição dos sistemas de produção mais adequados a cada região. É verdade que o cenário da produção de leite vem passando por inúmeros altos e baixos que tornam realmente difícil a definição dos sistemas mais propícios para cada situação. Em trabalho relatado hoje na seção Sistemas de Produção, por exemplo, segundo levantamento feito com produtores de Minas Gerais, nada menos do que 40% não tinham meta definida ao serem perguntados que padrão racial teriam daqui a 5 anos (Madalena, 1998). Se o produtor não sabe qual o padrão racial de seu rebanho daqui a 5 anos, ele certamente não sabe muito sob os rumos de sua atividade.

Se tem a impressão de que, em muitos projetos que envolvem compra de animais exógenos e embriões, se leva pouco em conta o tipo de exploração mais rentável para determinada região. Neste quesito, a participação ativa de órgãos locais de pesquisa e extensão é fundamental.

O desenvolvimento da atividade leiteira nas fronteiras agrícolas é um processo potencialmente interessante tanto no âmbito econômico quanto social, ao gerar renda e fixar o homem no campo. Há bons exemplos de sucesso. No entanto, é preciso que sejam oferecidas condições adequadas aos homens e aos animais, caso contrário ambos correm o risco de perecerem. E estas condições não se resumem ao financiamento de animais de alta caracterização leiteira. Esperamos que as lideranças responsáveis por projetos desta natureza levem estes pontos em consideração.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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